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Juan

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Juan

Senti um ódio inimaginável ao ver minha noiva conversando com Ulisses Toledo como se fossem amigos de longa data. Flora não pode sorrir para outros homens, não pode ser solícita como foi com Ulisses daquela forma tão descontraída. Sua alegria, assim como seus sorrisos desde o momento em que coloquei o anel em seu dedo, são meus e de nenhum outro homem.

- Como conhece Ulisses Toledo?

- Ele já jantou em minha casa e às vezes se reúne com meu irmão para negociar transporte do produto que ele comercializa com a carga de sementes de girassol. É só isso, não temos nada um com o outro, senhor.

O jeito como sorriam um para o outro não me transmitiu essa certeza. Flora é bonita e chama a atenção de qualquer homem com seu jeito. Não posso deixá-la pensar que pode sair sorrindo e conversando com outros homens como se estivesse disponível.

- Não quero vê-la perto de Ulisses ou de qualquer outro homem, além dos seus irmãos e pai. Entendeu?

- Magalhães, sou sua noiva, o casamento ainda não aconteceu, portanto posso conversar com outros homens, seguindo claro as regras da Organização.

- Não pode! Estou proibindo você de conversar com outros homens, especialmente Ulisses. As pessoas podem comentar e especular. Minha obrigação como seu futuro marido é zelar pela sua reputação para que a minha não fique suja.

Seu olhar transpareceu espanto com minhas palavras. O que ela não entende é o perigo que pode correr conversando com outros homens. Sua honra deve ser preservada para que a minha também o seja. Flora fica calada a viagem inteira até a fazenda. Acredito que tenha entendido meu ponto como uma boa filha da Organização. Assim que chegamos, ela tenta abrir a porta para descer, mas está travada, por isso não consegui abri-la.

- Pode, por favor, abrir a porta.

- Espere, vamos descer juntos e entrar como um casal na festa.

- Senhor, isso não é adequado. Não sou sua esposa, o que vão pensar de mim? Chegando juntos será um escândalo; vão pensar que estamos tendo algo antes do casamento. Abra a porta, por favor; todos sabem que somos um casal, não há necessidade de esfregar isso para a Organização inteira.

O jeito que fala dá a impressão de que encara nosso casamento como uma mera obrigação. Sei que é, no entanto, quero muito mais do que um compromisso obrigatório. Quero tê-la ao meu lado como minha mulher. Tento segurar sua mão, mas Flora se afasta levantando as mãos na minha frente, como se estivesse se esquivando.

- Por favor, Magalhães, é melhor mantermos uma distância aceitável. Não quero envergonhar minha família, e consequentemente você. Vou primeiro e peço que, por gentileza, espere para entrar. Sei que entende o que estou pedindo e sabe que é o melhor.

Ela se afasta como se eu tivesse uma doença contagiosa. Flora não quer esse casamento; parece repelir meu toque, mostrando visivelmente que tem nojo de mim. Ela pode estar apaixonada por outro, e esse outro pode muito bem ser Ulisses. Não vou permitir que ele a tire de mim.


Flora

Magalhães ainda não é meu marido, porém se sente na posição de me dar ordens. Vou até a mesa da minha família enquanto recebo cumprimentos dos convidados. Assim que me sento, vejo Juan entrando com Miguel na grande tenda montada para a festa. Já sei que vou ouvir um sermão por conta de Magalhães, que com certeza se queixou de mim.

Ele se senta em uma mesa separada para sua família, ainda com a expressão fechada. Miguel se senta ao meu lado, pegando no meu braço com força.

- Sabe o que Juan veio me falar? Disse que você está conversando com Toledo. Flora, não envergonhe nossa família se comportando como uma qualquer. Se está apaixonada por Ulisses, é problema seu. Não coloque toda nossa família na lama por isso.

Magalhães entendeu tudo errado. Conversou algo que não tem sentido com Miguel, que agora pensa que estou apaixonada por Ulisses. Resolvo ficar calada; isso é uma idiotice sem tamanho. Ulisses só foi simpático comigo.

- Não vai dizer nada?

- Só não vou mandá-lo para o mar de fogo na morada do decaído porque hoje é o casamento do meu irmão amado e da minha melhor amiga. Miguel, pare de me atormentar por conta desse compromisso com Magalhães. Vou me casar com ele; o que vocês querem mais de mim?

Me levanto para ir até Rafael e Celeste. Os dois conversam animados sem perceber a minha presença perto deles.

- Cê, está usando a lingerie que lhe dei?

- Claro. Finalmente, podemos fazer o que tanto desejamos sem medo de sermos descobertos. Estou com tantas saudades; você me viciou no seu pau. Não consigo ficar longe dele.

Se falar que não suspeitava estaria mentindo. Os dois sempre sumiam misteriosamente em meio às festas e jantares, depois voltavam com a expressão mais sem vergonha possível. Ainda bem que os dois se amam; Celeste poderia comprometer sua vida e família se Rafael apenas a tivesse usado e depois a descartasse.

- Vim parabenizar o meu casal preferido antes que a Organização inteira venha até aqui e só vá ter paz quando forem para a lua de mel. Aliás, vocês não querem me levar? Vai ser muito chato ficar aqui sem vocês.

- Irmãzinha, você sabe que é a minha preferida, e se eu e Celeste pudéssemos, levaríamos você. Só que o meu plano é ficar trancado com essa linda mulher dentro do quarto por um bom tempo da nossa lua de mel, se é que me entende, maninha? Além disso, pretendo nadar nu com ela e também fazer amor ao ar livre.

Amo a sinceridade explícita do meu irmão. Ele não tem freio na língua, falando sempre o que vem à mente. Na realidade, por mais que quisesse fugir de toda essa situação, agora sabendo a verdade, sei que eles precisam curtir esse momento juntos.

- Estou brincando! Pode ficar tranquilo. Agora vou deixá-los com os convidados, que com certeza estão ansiosos para tomar o tempo de vocês.

Abracei meu irmão e Celeste com a sensação de felicidade. Pelo menos, Rafael e minha amiga serão felizes, pois se amam. Já não posso esperar o mesmo. A cada dia parece impossível aceitar esse compromisso com Juan.

A Confiança - A Organização - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora