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Flora

Eu precisava da minha mãe. Conversamos por mensagem e ligação, mas não é a mesma coisa do que estar perto dela. Ulisses realmente foi embora, não entendo por qual motivo. Tudo está tão confuso para mim. Acabei passando mal com toda a situação. Ainda bem que Expedito estava comigo e pôde me socorrer. Ele me trouxe de volta para casa e chamou o médico, assim como meu marido. Flavia também chamou minha mãe a meu pedido.

O médico já saiu, permitindo que eu e minha mãe pudéssemos conversar. Estou realmente preocupada, mas não quis perguntar para o médico. Não sei se poderia confiar nele além do diagnóstico dado.

— O que foi, minha flor? A mamãe está aqui. Conte para mim tudo que está sentindo.

Contei tudo desde o começo, algo que deveria ter feito há muito tempo e não fiz por falta de coragem. Falei sobre Juan, Ulisses e minha prevenção contra a gravidez. Ela ficou quieta, dando atenção a cada detalhe mencionado. Foi como tirar um peso das minhas costas falar tudo que passei. Eu não queria mais vingança contra Juan, não quero brigas, muito menos agora.

— Filha, você correu um risco grande demais. Manter amizade com um homem sendo casada com um Magalhães, ainda mais com alguém como Juan, com o histórico que tem em relação à irmã. Porém, o risco maior foi evitar uma gravidez. Você sabe muito bem como essa questão é complicada no nosso meio. Quem forneceu anticoncepcionais para você? Sei que não compro.

— Isso não posso dizer. Mãe, isso não importa mais. Estou grávida.

Ela sorriu, batendo palmas animada com a nova informação. Foi quando Juan abriu a porta. Não sei se ele estava ouvindo atrás da porta, mas sua expressão não escondeu como estava nervoso.

— Flor, saia. Preciso falar com minha esposa!

— Juan, isso não é jeito de entrar. Onde perdeu sua educação?

— Mamãe, pode ir. Daqui a pouco nos despedimos. Preciso conversar com Juan.

Ela saiu sob protestos, dizendo que Juan foi muito indelicado, mas já estou acostumada com o jeito dele de ser. Ele ficou em pé, olhando para mim como se tivesse cometido um grave crime. Talvez seja hora de dizer tudo que ainda não foi dito, sem mentiras ou segredos.

Juan

Ouvi toda a conversa, inclusive sobre o método contraceptivo que usou para não ter filhos meus. Flora sabe muito bem da sua obrigação comigo e com a família Magalhães, mas resolveu decidir a própria vida, não levando em consideração meus sentimentos em relação a isso. Flora sabe que ouvi a conversa, como também sei que esteve me espionando antes de oficializarmos o nosso casamento no dia do enterro da minha irmã.

— Sente-se aqui, Juan, desfaça essa expressão. É feio ouvir as conversas atrás da porta. Você não é muito educado, marido.

— Eu deveria discipliná-la por isso, mas prefiro escutar o que tem a dizer sobre o que ouvi, e espero que seja bem convincente.

Ela esperou que me sentasse do seu lado, segurando minhas mãos. São nesses momentos que não sei como agir com ela. Flora é delicada e dócil como uma ovelhinha inocente. Como posso continuar com raiva?

— Juan, você sabe que nosso casamento não era o meu desejo, e sim o seu. Impôs suas vontades sobre as minhas, sem me deixar caminhos para desistência. Manipulou toda e qualquer situação que nos envolvia. Por este motivo, decidi que pelo menos a decisão de não ter filhos seria minha. Por isso, consegui as pílulas anticoncepcionais e vinha tomando desde antes do nosso casamento. Por este motivo, não engravidei nos primeiros meses, como era sua vontade. Eu não amava você, sentia que sofria por não entender todas essas mudanças. Eu reconheço que não fui uma pessoa fácil na maior parte desses meses, mas agora tudo é diferente. Conheci Juan Magalhães bem distinto do que pensei. Foi um processo difícil para ambos: sua necessidade de controle e comando, como também o fato de me esconder muito sobre você, me fizeram pensar que deveria continuar complicando sua vida. No entanto, eu pensei que a guerra já estava vencida. Já pertenço a você de corpo e alma. Estou apaixonada e, por mais que tenha tentado evitar, estou grávida.

Eu precisava absorver todas as informações e aproveitar para explicar sobre o que viu no escritório no dia do velório da minha irmã. Flora abriu seu coração, portanto, o correto é eu fazer o mesmo.

— Eu impus tudo a você desde o começo por saber que seu lugar sempre foi ao meu lado a partir do momento que a vi como uma mulher. Não vou enganá-la dizendo que sua posição dentro das cinco famílias não foi um fator decisivo para decidir por você, mas havia algo mais do que ter filhos para continuar meu legado. É uma mulher especial, Flora, é caridosa e dedicada, além de ser abnegada. Possui qualidades que faltam em mim, e por isso não posso viver sem você. Para um homem como eu, amar é perigoso e muitas vezes letal. Para você, Flora, nunca faltará nada, nem mesmo ao nosso filho que cresce em seu ventre. Vou zelar para que ele e você sejam felizes. No entanto, há pormenores da minha vida, como o que você viu no escritório aquele dia, que não estou pronto ainda para revelar. Apenas quero que saiba que jamais farei algo parecido com você.

Flora precisa saber como é importante para mim, e mesmo que ainda não consiga externar meu sentimento mais profundo por ela, jamais vou a submeter como submissa. Minha esposa merece apenas o melhor vindo de mim, mesmo que eu tenha atitudes questionáveis.

— Eu não sou de porcelana, apesar de todos pensarem que sou, Magalhães. Eu entendo que talvez nunca diga que me ama ou que está apaixonado por mim, e está tudo bem. Só quero sinceridade vinda de você. Não me faça perder a confiança que conquistou comigo durante esses últimos meses. Eu posso suportar sua inclinação e até gostaria de entender melhor, mas não minta para mim ou quebre minha confiança em você, Magalhães. Nem mesmo todo o amor do mundo me fará ficar ao seu lado se quebrar meu coração com mentiras.

A Confiança - A Organização - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora