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Flora

— Sabe que precisa me soltar, não é? Tenho que ver as meninas e as crianças, além disso, ao qualquer momento os meninos vão acordar!

Juan está abraçando comigo desde do momento que resolvemos nossa situação, beijando, fazendo carinho e não tendo nenhum movimento para se afastar de mim. Confesso que estou amando ser tratada assim, porém sei que tenho que ver como Lourdes e Nádia estão bem como saber de Liliana e Antônio.

— E se eu dizer que não tenho intenção de soltar você, teimosa?

— Vou dizer que por mais gostoso que esteja aqui estando deitada com você, tenho que dar atenção as outras pessoas, mas principalmente aos nossos pequenos. Aliás, já pensou qual será o nome deles?

Juan colocou suas mãos em meu rosto, aproximando sua boca na minha beijando suavemente meus lábios, como senti falta dele e de seus beijos.

— Eu pensei em dois nomes, bom, são nomes de santos. Padre Lucas vai aprovar a escolha, o mais velho será Pedro e o mais novo Paulo. Você sabe quem nasceu primeiro?

— Sim. O mais autoritário e que parece com você no temperamento é o mais velho, Paulo se parece com você apenas na fisionomia mas é calmo como eu.

Ele deu uma gargalhada alta, mas depois de um beliscão meu percebeu que poderia acordar os pequenos.

— Você é um verdadeiro exemplo de calma mesmo.

— Claro que sou calma, o estressado aqui não sou eu. Eu gostei dos nomes e você tem razão, padre Lucas vai amar saber dos nomes que escolhemos. Agora, seja um bom marido e chame Lourdes e Nádia, por favor.

Ele me abraçou mais um vez foi até o berço conferir os bebês e voltou um tempo depois com Nádia e Lourdes junto com as crianças, Lourdes está com o curativo no rosto, nos braços e nas pernas, enquanto Nádia está usando roupas femininas com os cabelos cacheados e volumosos.

— Como vocês estão, meninas?

— Estamos bem, seu marido foi muito atencioso conosco e com as crianças, mas e você, como está? Pelo sorriso de Magalhães percebesse que voltaram.

Contei a elas sobre nossa reconciliação como também dos nomes dos bebês, Liliana e Antônio ficarão observando os bebês enchendo Lourdes de perguntas sempre colocando mamãe no início e final de cada frase.

— Como ela realmente está, Nádia?

— Perdida, desolada e triste, Lourdes fingi bem por conta dos pequenos mas sei como está se sentindo. Ela chora muito, conversa sozinha falando os nomes dos desgraçados e sei que tem medo deles virem atrás das crianças e que as levem embora. É muito para uma menina que fez 18 anos a pouco tempo.

Nádia é sábia e observadora, aproveitei o momento que está distraída com os bebês e os filhos para saber sobre Lourdes, ela sorri mas parece estar tão longe daqui.

— E você?

— Eu voltei a ser uma mulher, é estranho voltar a vestir roupas femininas e soltar os cabelos, tive que assumir um papel masculino durante tanto tempo que é difícil ainda me adaptar, mas meus problemas de gênero não são maiores que os da minha irmã.

Nádia foi criada junto com Lourdes porém é visível como são parecidas apenas mudando a cor dos cabelos e textura, já que Lourdes tem cabelos lisos pretos e Nádia possui cachos escuros.

— Nádia, você é irmã dela de verdade, não é só de consideração, não é?

— Sim, e não só isso, Leon também é nosso irmão. Mas não conte nada para ela, por favor, quero conversar com Lourdes quando estiver totalmente recuperada, sei como ela ficou quando soube que Carlos não era seu tio e sim seu pai, não quero encher a cabeça dela com informações complicadas.

A vejo sorrindo com as crianças mostrando meus filhos percebendo que Lourdes ainda terá muito que descobrir depois de tudo que passou.

Lourdes

— Tenho muito que agradecer por tudo que fizeram por mim e meus filhos, sem vocês, meninas, não sei o que seria de mim.

Flora está com um dos gêmeos nos braços enquanto o outro está em meus braços, o mais calmo e curioso dos seus filhos. Não deixo de pensar no bebê que perdi, eu poderia estar com ele em meus braços esse momento, mas não foi possível, é doloroso pensar nele.

A solidão da perda, o silêncio depois de entender que meu bebê não estava comigo e a culpa por tudo que poderia ser diferente para meu filho e para mim. Se eu não tivesse sorrido para ele, deixado se aproximar de mim com seu jeito dócil e gentil, tudo seria diferente. Agora estou aqui revivendo a cada dia tudo que houve, tentando não acabar com essa dor que preenche meu peito.

— Não precisa agradecer, sem você não teríamos saído daquele lugar.

— Mesmo assim, faço questão de agradecer, além disso, conversei com Juan e ele disse que vocês podem morar na casa dos meus avós, faz divisa com as terras de Magalhães e dos meus pais, assim ficarão perto de mim.

Fico feliz de imediato, será bom ter um lugar só nosso para viver, reconstruir nossa vida, e as crianças também vão precisar de um novo lar para se sentirem acolhidas.

— Eu não tenho palavras para agradecer, Flora, estou realmente grata pela atenção.

— Deixa disso, Lourdes, é pouco pelo que fizeram por mim. Por isso, vou conversar com Gabrielli, nossa matriarca, para que possa me ajudar a encontrar um psicólogo para vocês, sei que passaram por muitos traumas e precisam de ajuda especializada até eu vou.

Não. Eu não queria que um estranho soubesse o que houve, já sofro o suficiente sabendo que sou responsável pela desgraça da minha família e pela morte do meu próprio pai.

— Eu não preciso disso, Flora. Se a Nádia quiser, tudo bem, mas eu já tenho o que preciso, meus filhos e uma nova casa. Tenho que me adaptar agora, não precisa se preocupar com nada, vou ficar bem.

Agora é esquecer tudo que houve, focar nas crianças que é o mais importante, vou recomeçar e logo tudo que houve ficará no passado.

A Confiança - A Organização - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora