A Confiança - A Organização - Livro 3

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Flora

A grande mesa de jantar está totalmente ocupada pelas mulheres dos três irmãos, Lourdes não desgrudou de mim um segundo ou eu que não fiz muita questão de sair de perto dela. Não dá para confiar principalmente depois de tudo que ela me contou, Lourdes me explicou tudo que precisava saber, e foi com base no que contou pude bolar um plano.

Observei todos na mesa, Bartolomeu na dianteira mostrando que é o chefe de todos, Agostinho do lado direito com algumas garotas sentadas nas cadeiras seguintes, com certeza são suas mulheres, na parte esquerda da mesa, Leon sorria para suas mulheres, vejo duas crianças, uma menina preta com os olhos verdes escuros e um menino loiro de olhos azuis.

A menina não parava de olhar para Lourdes, desviou apenas seu olhar para Bartolomeu como se pedisse permissão para ir até Lourdes, assim que recebeu a autorização foi correndo para os braços de Lourdes sorrindo e beijando seu rosto a chamando de mamãe.

Ela olhou para mim curiosa com a barriga enorme, fui rápida em explicar que estava grávida de dois meninos o que fez todos olharem para mim espantados como também olharem para Bartolomeu visivelmente assustados.

— É só uma mulher grávida, a minha mulher inclusive. Portanto não quero que ela faça nada, daqui poucos meses estará dando a luz por isso quero que ela tenha todo conforto possível. Entenderam?

Todos concordaram mostrando que a última palavra sempre será dele, sai de um buraco para entrar em outro mais fundo ainda. Lourdes se sentou distante de Bartolomeu seguindo meu plano enquanto fiquei ao seu lado. Seu olhar sob ela demonstra como esse gesto o irritou, mas resolveu ficar calado.

— Mamãe, eu quero mais.

Lourdes tem um dom para maternidade, Liliana não é sua filha e mesmo assim a trata com atenção e carinho colocando a menina em seu colo, o mesmo faz com Antônio, o garoto é filho de Agostinho. O irmão de confiança de Bartolomeu não tira os olhos dela como se quisesse levá-la para dentro de um quarto e transar com ela por horas é bem desconfortável como Lourdes descreveu.

— Flora, Lourdes explicou como tudo funciona aqui, o certo é vocês se sentarem perto de mim.

— Explicou sim. Mas aqui é melhor para mim, perto da janela e da porta, flui mais ar do lado de fora. Não vai se incomodar, não é? Além disso, Lourdes está preocupada comigo, minha gravidez não é de um único bebê, ela quer cuidar de mim pessoalmente.

Agostinho riu, é nítido que existe uma inimizade entre os dois e o motivo é Lourdes.

— Para mim, isso tem outro motivo. Mas é claro que vai acreditar em uma vadia grávida que encontrou na estrada e na boa vontade da desgraçada que deixou viva para ser seu brinquedo.

Lourdes olhou para mim percebendo que meu plano esta começando a fluir como pensei que seria.

— Podíamos comer em paz, não é?

Leon notando que logo haveria uma discussão interminável resolveu se manifestar. O resto do jantar foi tranquilo, as mulheres conversavam entre si enquanto eu observava todos, o jeito que comiam, os assuntos, a maneira como Lourdes se sentia mal estando no meio dele como também o amor que nutria pelas crianças.

Terminamos o jantar, e percebi que um por um se levantava indo para os vários quartos da casa verde, no final, Lourdes foi levar as crianças para o quarto, tentei ir com ela sendo impedida por Bartolomeu que me pediu para conversar com ele. Fui rápida em estabelecer barreiras para que não toque em mim tomando uma certa distancia.

— Sua família é bem grande.

— Sim. Passamos por muitas situações difíceis juntos, eu e meus irmãos sofremos muito e para Agostinho é complicado aceitar algumas escolhas minhas. Inclusive ter trago você para nossa casa foi um motivo de discussão.

— Eu posso ir embora, não quero causar problemas, eu tenho um amigo na capital. Vou ficar bem, não sou responsabilidade sua, percebi que tem muitos para cuidar.

Quero que ele pense que não estou disposta a ficar com ele, seria estranho demonstrar submissão tão rápido.

— Flora, não é um peso para minha, e não será um problema cuidar de você. Lourdes é uma boa garota, eu gosto dela, não é só um gostar simples. Eu sou louco por ela desde da primeira vez que a vi, amor a primeira vista como costumam dizer.

Lourdes também gosta dele, mas por conta de tudo que houve não tem amor por ele, e ouso dizer que jamais vai aceitar essa vida.

— Eu vou descansar, boa noite, Bartolomeu.

— Não se preocupe com absolutamente nada, não irei tocar em você enquanto estiver nesse estado. Sou um homem honrado, e entendo que ainda sente algo pelo pai dos seus filhos.

Bartolomeu conseguia ler meus sentimentos muito bem, preciso tomar cuidado com ele pois pode perceber meu plano. Magalhães nem sequer pensa em mim, preciso pensar em mim e nos meus filhos e agora em Lourdes.