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Lourdes

Eu ainda me sentia fraca, mas por algum motivo que não conseguia entender queria conversar com Agostinho, acabar com toda essa situação e ouvi-lo já que ele nunca me deixou entender o que realmente sentia. Ele manteve uma distância segura de mim como se ficar perto de mim o provasse de alguma forma.

— Eu deveria ter matado você quando tive a oportunidade, tinha toda razão quando disse isso. Mas eu não consegui, pois a mesma intensidade com que odeio você, eu também te amo. A amei antes de Bartolomeu, e mesmo sabendo que nunca poderia ser minha, eu a quis como louco. Sua voz cantando, seu sorriso enquanto rodopiava naquele bar sujo ao lado do meu irmão como se aquele lugar não fosse importante além de vocês dois, eu morreria por dentro a cada momento acompanhando vocês vivendo o que eu desejava para mim.

— Seu irmão me enganou, Agostinho. Ele nunca teve nenhum tipo de sentimento de amor por mim, fui uma peça no jogo nojento da sua família. Eu não tenho culpa do que aconteceu com seus pais nem tampouco com a sua namorada e a esposa de Bartolomeu, fui julgada por atos que não eram meus quando eu também fui enganada.

Toda essa tensão de meses juntando com as ameaças estão acabando comigo, eu não suporto mais tudo isso.

— Você tem razão, Lourdes, e é por isso que vou ajudá-la a fugir. Sou um maldito, mas eu vou provar a você que apesar de tudo que fiz meu amor é o mais verdadeiro possível. Em uma outra vida, você seria minha e a faria a mulher mais feliz desse mundo.

— Eu não acredito em você, é um mentiroso como seu irmão, pode me deixar descansar por favor. O seu show de homem arrependido não convenceu, pode sair!

Ele se aproximou da cama, se sentou e segurou meu rosto, eu não fugi, não vou mais fugir como uma ovelhinha assustada, se ele quer tanto que faça, Agostinho sempre quis mostrar que poderia ter controle sob mim. Sua boca tocou a minha como se tivesse apreciando beijar meus lábios.

— Peça para que eu pare.

— Você não quer, Agostinho? Porque não aproveita? Não é como se não quisesse, não precisa fingir uma moral que não tem.

Ele não se afastou, queria fazer isso mais do que tudo em sua vida. Beijou minha boca como se fosse tudo que precisava para viver, deixei que fizesse não reagi ou tentei afastá-lo. Estava exausta de tudo, para mim não fazia diferença quem iria continuar me torturando ou atormentando.

O homem que me criou morreu por minha culpa e da minha ingenuidade por acreditar em um completo desconhecido, quando eu poderia continuar vivendo no meu mundo bonito sem problemas, mas eu quis ver como o mundo era lá fora e acabei destruindo todos que amava.

Eu deixei que continuasse o beijo sem tentar me defender, suas mãos tocavam meu corpo como se fosse sua a muito tempo, e não reagir, ele queria isso, talvez pare de me torturar e perseguir se conseguir o que quer.

— Diga que me quer, Lourdes, se eu fizer não terá volta. Vou trair o meu irmão por você, garota, diga que também quer trepar comigo.

Fiquei calada, eu não desejava nada disso, a exaustão de viver aqui sabendo de tudo que houve me venceu. Para mim não faz diferença alguma ser dele ou de Bartolomeu, ambos acabaram com minha vida, deixá-lo transar comigo não vai mudar nada.

— Se você quer, por mim, não faz diferença alguma.

De repente, Bartolomeu entrou no quarto no momento que Agostinho me deixou nua, eu olhei para ele e não consegui sentir nada, poderia ter medo ou pavor do que iria fazer comigo, mas apenas fiquei parada sem reagir. Agostinho se levantou e ao contrário de mim tentou se defender, eu voltei a deitar fechando meus olhos sentindo uma dor de cabeça terrível.

Eu só quero que isso acabe logo, que possa morrer em paz já que por conta das minhas decisões erradas perdi o meu mundo bonito para viver nessa maldição de vida.

Bartolomeu

Morta. Lourdes parece um corpo sem vida apenas respirando, quando vi Agostinho com ela quis matar meu irmão por tocar na minha mulher, mas diferente das outras vezes que ela procurava se defender e fugir,  dessa vez ela cobriu seu corpo fechou os olhos e dormiu. Flora entrou logo depois de mim vendo toda a cena, tentei ir até meu irmão mas ela entrou na frente.

— Vocês não vão descansar enquanto não matarem Lourdes, não é? Bela merda de homens honrados vocês são. Se querem brigar, façam isso lá fora, parece que não perceberam mas ela está doente.

— Essa vagabunda me traiu com meu irmão e você quer que eu mantenha a honra? PORRA.

Flora foi até Lourdes colocando sua mão na testa dela, seu semblante demonstrava que a febre voltou.

— Ela está com febre de novo, podem sair ou vou ter que pedir ajuda para Leon? Pelo jeito, de vocês dois é o que mais parece honrado.

Agostinho foi o primeiro a sair com o rosto demonstrando sua preocupação, eu só pensava em matá-lo, pedi tanto para ficar longe dela e que desisti dessa ideia imbecil de continuar nutrindo esse sentimento por minha mulher, empurrei o desgraçado na parede segurando pela gola de sua camisa

— Maldito, mandei ficar longe dela!

— Você não manda em mim, desgraçado, deixe que Lourdes decida, se ela ama você como tanto se gaba, não teria me deixado tocar nela. Se não fosse você atrapalhando ela teria aceitado, o que não admite é que Lourdes pode não querer você mais.

Não, eu não aceito perdê-la para meu próprio irmão ou qualquer outro homem, Lourdes é minha e sempre será minha mesmo sem querer.

— Não importa, infeliz, ela é minha e vai permanecer assim. É bom aceitar isso de uma vez por todas, não quero ter que matar meu próprio irmão por não respeitar a minha autoridade. Não se esqueça que eu sacrifiquei muito mais que você, se estamos aqui hoje é por minha causa.

— É o que pensa, maravilha. Agora sei que posso lutar por Lourdes, e não vou desistir dela.

Ele saiu esbarrando em Leon que não entendeu o que estava acontecendo até que contei tudo a ele.

— Você está em guerra com o nosso irmão por causa de Lourdes? Você usou a menina para nossa vingança, ela foi enganada portanto é compreensível não ter amor por você, irmão. Isso explica por que mesmo doente ia trepar com Agostinho, o cara que sempre a perseguiu e atormentou, aceite, cara, o amor acabou no momento que torturou e matou o pai dela.

Jamais vou aceitar isso. Lourdes é minha, e mesmo que não me amei ficará ao meu lado até que entenda que deve voltar a ter amor por mim como antes.

A Confiança - A Organização - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora