A Confiança - A Organização - Livro 3

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Flora

As luzes deixaram o ambiente lindo com os enfeites brilhando e reluzindo na grande tenda montada para festa de aniversário de Agostinho, a mesa está repleta de doces, salgados e um bolo com 23 velas, tudo feito por Bartolomeu que apesar de magoado fez um verdadeiro banquete para todos, a cada dois passos que dou encontro homens bebendo, dançando e praticamente engolindo suas mulheres.

Parece que ninguém aqui é adepto ao modelo de monogamia tendo muitas parceiras, olho na direção da porta da casa verde, vejo Lourdes descendo a escada usando um vestido preto curto e rodado, os cabelos negros soltos e longos como também sua postura chamou a atenção de todos.

Agostinho se levantou ao ver ela, mas antes que pudesse ir ate Lourdes, Bartolomeu se antecipou chegando rapidamente até o fim da escada e segurou ela pelo braço de um jeito que me deixou desconfortável, a levou até o meio da tenda montada do lado de fora e a exibiu como se fosse um troféu.

— Vejam, meus amigos, olhem com atenção, essa garota é a única que restou daqueles desgraçados, uma legítima Perez. Uma princesa que chupa um pau como se fosse uma prostituta com anos de experiência. Uma vadia, mas a minha vadia.

Lourdes parecia estar fora de órbita enquanto Bartolomeu a humilhava,  isso não é amor, é uma doença que consumiu o coração dele de uma forma que não consegue ver o que está fazendo. Agostinho tentou ir até eles sendo o impedido por Leon, ao ver a cena, Bartolomeu chamou o irmão mais novo.

— Leon, toque para essa vagabunda cantar, depois vamos acender as velas e cantar o parabéns para meu irmão Agostinho.

Ele jogou Lourdes no chão como se fosse um saco de lixo, ela se levantou ainda em algum tipo de transe, Leon tentou tocar nela como se quisesse consolar ela, sendo repelido. Lourdes olhou ao redor percebendo o olhar de todos sobre ela e toda a situação.

Nádia chega ao meu lado notando como toda essa situação me deixava mal, eu queria poder ir até ela mas as pontadas do meu ventre estão mais fortes hoje não consigo me mover direito sem sentir dor, Bartolomeu  está sendo cruel com ela, a mulher que tanto afirma amar. Lourdes começou a rir descontroladamente de repente o riso se misturou a um choro sentido, acredito que a intenção de Bartolomeu foi estragar a festa do irmão com tudo que fez.

Logo ela parou de rir e chorar, enxugou as lágrimas e se aproximou do ouvido de Leon pedindo algo, ele ajeitou o violão entregando o microfone para Lourdes, ela beijou a testa de Leon como se estivesse pronta para cantar, eu vi em seus olhos, ela estava se despedindo dele, Leon de todos aqui sempre foi atencioso e respeitoso com ela.

Lourdes começou a cantar mostrando que tudo que havia sido dito não a afetava como Bartolomeu queria.

Há sangue na encosta da montanha

Há escrita por toda a parede

Sombras de nós ainda estão dançando.

Em todos os quartos e em todos os corredores

Há neve caindo sobre a cidade

Você pensou que isso iria desaparecer

O gosto amargo da minha fúria

E todas as bagunças que você fez

Sim, você acha que escapou

Mas estou nas árvores, estou na brisa

Meus passos no chão

Você verá meu rosto em todos os lugares

Mas você não pode me pegar agora