A Confiança - A Organização - Livro 3

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Flora

Meses depois

As obras estão a todo vapor!

Desviar dinheiro dos meus presentes não foi uma escolha que queria fazer, mas Juan não ia fazer nada para mudar a realidade do nosso povo. Eles agora fazem parte de mim, não consigo viver longe dessas pessoas que me receberam tão bem, assim como aceitaram bem as minhas mudanças em seu lar. Expedito está com a expressão fechada, sabe que estou escondendo minhas ações de Juan, mas meu marido não vai aceitar o que estou fazendo.

Nos aproximamos muito nos últimos meses; todos os dias faço o nosso jantar, converso sobre meu dia, e ele conta o básico sobre o dele. Dormimos juntos, ou melhor, transamos como coelhos no cio. Alguma coisa mudou, isso é fato. Os ciúmes sem motivo não diminuíram, mas tem um certo tempo que não vou até Ulisses. Conversamos por mensagens e ligações, claro, quando Juan não está por perto.

Ulisses anda esquisito esses últimos dias e pediu para visitá-lo hoje, assim que terminar de verificar as obras. Vou tentar despistar Expedito e ir até sua fazenda. Não posso esquecer o que ele fez por mim quando mais precisei. Além disso, estou com saudades de Orquídea e Furacão. Parei em frente à escola; as portas estão fechadas e, por um impulso, abro quando encontro Zacarias e Catalina totalmente nus. Dou um grito que assusta Expedito, mas antes que entre, viro para trás, empurrando seu corpo para fora.

– O que houve, senhora?

– Não houve nada, fofoqueiro. Vá para o lado da igreja e veja como estão as coisas lá. E não venha com assunto que não pode me deixar sozinha; não é como se fosse ser sequestrada nas terras do meu marido.

Expedito, apesar da resistência, aceita ir em direção à capela. Eu espero que Zacarias e Catalina saiam da escola; os dois parecem estar com muita vergonha, imagina eu que vi ambos sem roupas.

– Flora, podemos explicar.

– Claro que podem. Mas antes, não quero que pensem que sou fiscal da vida alheia. O que sei é o perigo que se colocaram. Poderia ser uma turma de crianças abrindo essa porta ou até meu marido. Vocês sabem como esse tipo de situação é vista. O que vocês têm na cabeça?

Comecei a rir com minha postura. Estou parecendo minha mãe, dando suas lições de moral em mim e nos meus irmãos. Será que estou me transformando na minha mãe?

– Flora, eu e Zacarias somos namorados há um certo tempo. Acabamos não resistindo à tentação.

– Mas na escola, Catalina? Sabem o que poderia acontecer com vocês. Na Organização, vocês precisam casar como manda o figurino. Sabe muito bem como o meu marido é chato com essas regras. Vocês vão se casar quando?

Eu não poderia mandar na vida deles, mas Juan é louco por controle. Todos os casamentos que acontecem entre as pessoas da colônia, ele exige que seja pedida sua autorização. É ridículo, mas o conhecendo tão bem, sei que não vai aceitar que não tenha controle sobre isso.

– Próximo mês, só estamos esperando as reformas acabarem. A senhora tem toda razão. Fomos inconsequentes.

– Eu só quero o bem de vocês. Sua mãe vai ficar animada por finalmente casar vocês e pelos netos. Parabéns, meus queridos!

Abracei ambos, e quando nos soltamos, vejo Juan atrás de mim com a expressão fechada pela cena, acreditando que não posso me misturar com os colonos.

– Olá, querido. Estou parabenizando Zacarias e Catalina pelo noivado. Vão se casar no próximo mês, estou pensando em presenteá-los com uma linda festa. O que acha, Juan?

– Deve ir conversar comigo primeiro, Zacarias, antes de noivar com Catalina. Sobre a festa, se esse é seu desejo, Flora, assim será!

Pulei em seus braços, beijando seu rosto e indo direto para sua boca, protagonizando um beijo bem quente na frente de Zacarias e Catalina. Quando paramos, eles já não estavam mais aqui.

– O que falei sobre esses passeios na colônia? Sendo uma desobediente como sempre, não é, esposa?

– Você quer que eu fique trancada em casa feito uma prisioneira. Além disso, Flávia é uma excelente governanta, e Expedito estava comigo antes de pedir para ir à capela.

Ele sorriu, aceitando que não poderia me deixar como uma boneca de porcelana dentro de casa. Foi engraçado ver sua cara de desgosto, pois não acato suas ordens na grande maioria das vezes. Isso o tira do sério, mas ele desconta na cama o fato de não poder me controlar.

– Percebeu como a colônia está mais bonita, marido?

– Sim. Devo me preocupar com suas intervenções usando o dinheiro que lhe dou para comprar joias, bolsas caras e roupas de grife?

Juan não é nenhum idiota, como imaginei que seria; muito pelo contrário, é alguém muito esperto. Nas poucas vezes que consegue vir à colônia, com certeza percebeu as reformas e ampliações. Ainda estávamos agarrados quando ele se aproximou do meu ouvido, mordendo a ponta da minha orelha do jeito que já percebeu que me arrepia.

– Pensa que não vejo o que faz na minha ausência, Flora. Eu sei de tudo, querida. E o que não sei, acabo descobrindo.

– Então não seria ousadia minha pedir um posto de saúde para a colônia em forma da última coleção das minhas bolsas preferidas?

O som da sua gargalhada arrepiou ainda mais meus pelos. É difícil para mim admitir que Juan me conquistou nestes últimos dias. Não sei se poderei viver sem essa mania dele pensar que tem o controle sobre tudo e todos, como parece sempre me querer sem demonstrar nenhum cansaço. Como agora, que está subindo a saia do meu vestido, procurando uma calcinha inexistente.

– Sem calcinha, senhora Magalhães?

– Sim. Algum problema, senhor Magalhães? Espero que não. Estar assim vai facilitar tanto para nós.

O sorriso dele indicava que não havia problema algum. Quando ia me conduzir para dentro da escola, mesmo com os meus protestos de que poderíamos ser flagrados pelos colonos ou pelas crianças, o celular dele tocou no bolso de sua calça. Fiz uma expressão desgostosa. Já estou toda excitada, e não vou ter meu alívio diário, pois sei que Juan vai atender essa maldita ligação.

– Pode pedir para retornar à ligação mais tarde, talvez amanhã?

– Você sabe que não dá, Flora. Fique aqui. Provavelmente, não vai demorar muito.

Ao atender o telefone e pela sua fisionomia, soube que não era algo rápido, mas sim bem demorado e sério. O que será que está acontecendo? Juan se afastou como se fosse uma ligação que não pudesse ouvir. Não sei detalhes dos seus negócios, pois ele não me conta, mas seja lá o que essa ligação seja, provavelmente é algo que não posso saber.