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Juan

Estou à beira da explosão. Meu dia já começou horrível, e agora mais um problema para piorar o que já está péssimo. Hugo aqui na minha casa, em companhia do imbecil do meu ex-cunhado, é tudo que não precisava para hoje. Parece que ambos adivinharam que não estou em um bom dia e vieram encher minhas paciências.

– Algum problema no paraíso, Juan?

– Não, meu problema são vocês na minha casa após minha festa de casamento. Marcamos algo que não estou lembrando? Não ter viajado para uma lua de mel não é um convite para aparecerem aqui na minha casa sem serem convidados.

Maurílio está amando me ver assim. Esse maldito sente cheiro de desgraça de longe. Deveria ter ficado mais cauteloso com Flora. Essa garota não esperou nem mesmo o pós-casamento para colocar suas asas de fora.

– Na verdade, Maurílio e eu recebemos uma carga grande de drogas. Como sabemos que a sua colheita já está no fim, pensamos que poderia fazer um esquema diferenciado dessa vez. Estamos lucrando bem com a venda para o Brasil e Paraguai. Os colombianos são mais complicados de se lidar, mas acredito que vamos conseguir conquistá-los também.

– Para isso não precisavam vir aqui. Uma ligação e já teriam meu ok. Estou recém-casado. Tudo que não preciso é de visitas sem prévio aviso.

Rossio, como sempre, não perdeu a oportunidade de ser um maldito cínico, me olhando como se soubesse que não estou no meu normal.

– Não está conseguindo controlar a florzinha? Imagino que não. Sabe quem ela me lembra muito? A vadia da sua irmã. Cabelos claros, olhos brilhantes e sorriso falso. Imagine você ter que lidar com uma vagabunda traidora dentro da sua casa, como eu tive que lidar com sua irmã. Ainda bem que seu pai está morto. Quem sabe o que uma florzinha como sua esposa não poderia fazer com ele.

Queria avançar em Maurílio, quebrando os seus dentes até não sobrar nenhum. Porém, não vou dar esse gosto para ele, muito menos para Hugo, que morre de ciúmes de mim com Gabrielli e não fala nada para o primo, como se concordasse com ele.

– Hugo, tem meu aval para transportar as drogas extras. Tem algo mais que possa fazer por vocês?

– Não, Magalhães. Por conta dessa remessa inesperada, vai ganhar uma comissão a mais do que já é pago a você.

Vejo Flora descendo as escadas, os dois inconvenientes focam sua atenção nela, com certeza percebendo a boca inchada pelo tapa que dei nela mais cedo. Garota infernal, vai acabar aumentando muito mais o assunto sobre mim.

– Flora, como vai?

– Estou bem a medida do possível. Como estão as crianças e Irma, senhor Rossio? Infelizmente, não pude dar a atenção que sua família merecia no casamento. Espero que entenda.

– Estão todos bem. Entendo perfeitamente não ter conseguido dar a atenção devida à minha esposa e filhos. Além das mulheres Gusmão, você foi a única que tratou minha mulher e meus filhos com respeito. Se precisar de qualquer auxílio, não se sinta envergonhada em pedir, Flora. Tenho grande estima por quem trata minha família com decência.

É claro que ele iria se mostrar solícito e prestativo com minha mulher, só para me irritar.

– É muito bom saber que tenho sua estima, senhor Rossio. Nunca se sabe quando vou precisar.

Hugo se aproximou dela, percebendo como está com a boca inchada. Olhou para Rossio, balançando a cabeça desaprovando o estado do rosto dela, como se fosse uma pobre inocente sendo espancada por um monstro descontrolado no primeiro dia como casada.

– Estendo meus préstimos a você, Flora. Se precisar de qualquer ajuda, não tenha medo de pedir. Magalhães, agradeço por ter nos recebido mesmo estando recém-casado. Peço perdão por mim e por Rossio.

Os guiei até a saída, desejando que os dois não tivessem se mostrado tão prestativos com minha mulher. Se Flora está impossível, agora sabendo que tem o apoio dos dois principais líderes da Organização, se sentirá poderosa para me tirar ainda mais do sério.

A Confiança - A Organização - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora