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Juan

O silêncio dominou a casa até o início da noite. Flora não gritou ou reclamou; estranhei o silêncio, porém, preferi ficar distante, dando tempo para que ela pensasse em seus atos. Quando uma das empregadas anunciou que o jantar estava pronto, fui até meu quarto buscá-la para jantarmos juntos. Destranco a porta, encontrando o quarto totalmente vazio; em cima da cama, há um bilhete.

"Nunca mais me prenda, não sou a porra de uma criminosa."

A desgraçada fugiu pela janela. Ligo para o meu chefe de segurança; não é possível que Flora tenha ido atrás de Ulisses novamente. Essa situação entre os dois precisa parar. Sei bem que pode não estar transando com ele, mas apenas a menção de que esteja com outro me deixa fora do eixo.

– Senhor, sua esposa não saiu da fazenda. Os homens estão nos seus postos e não avisaram nada. Ela pode estar perdida nas plantações; já pedi para um grupo de homens procurá-la.

– Tudo bem, Expedito, ache minha esposa.

Flora não conhece minhas terras e pode realmente estar perdida. É uma propriedade extensa e pode ser perigosa à noite. Respiro fundo, tentando me acalmar. Esse dia está sendo agitado demais para o primeiro de casado. Saio do quarto indo para a cozinha, pedindo às empregadas que guardem o jantar. Não vou conseguir comer nada, preocupado com Flora.

Ouço sons de música vindo da direção da colônia dos trabalhadores. Aqueles que trabalham aqui são fixos, famílias que servem à minha família há anos. Meu pai foi o idealizador da colônia São Miguel Arcanjo. São casas onde trabalhadores e suas famílias habitam, além dos meus seguranças, que também moram lá com suas famílias.

– Flávia, por que há festa na colônia?

– É o início das festividades de São Miguel Arcanjo. Tem a missa, depois a festa. Será assim até o dia do Santo.

Tinha me esquecido completamente da festividade. Esse casamento consumiu tanto meus pensamentos que não consegui focar em outro assunto. É uma festa tão antiga, da época em que meu avô ainda era vivo.

– Se quiser ir, pode ficar à vontade. Estenda esse aviso para as outras também. Na hora que encontrar minha esposa, vou até lá para prestigiar o evento.

Flávia sorriu, se contendo para não comemorar na minha frente. Sei que, para o povo simples da fazenda, essas celebrações são muito importantes. Um pensamento passa pela minha cabeça, mas não, Flora não seria tão louca assim de sair para uma festa de pessoas que ela nem sequer conhece. No entanto, se for para me irritar, minha esposa é capaz de tudo.

Flora

Não ia ficar presa naquele quarto como se fosse uma prisioneira. Sabia que poderia me machucar pulando a janela, mas depois de tomar um banho e colocar uma roupa confortável, a ideia não pareceu ser tão estúpida, principalmente depois de escrever um lindo bilhete para o meu odioso marido. Fui uma criança um pouco rebelde em alguns sentidos, muito por conta de mamãe, que acobertava minhas travessuras.

Subia nas árvores frutíferas das terras do meu avô com a ajuda dela. Aprendi a andar a cavalo, de bicicleta e até a pilotar moto com a ajuda de Emanuel. Foram anos maravilhosos, por isso não tive dificuldade de pular a janela e descer pelo telhado. Os homens de Magalhães nem sequer viram minha descida. Fui na direção das plantações; precisava conhecer o território inimigo para saber como seguir com os meus planos.

– Menina, o que faz aqui? O expediente já acabou, estamos todos indo para a missa.

Um homem negro, que com certeza tem o dobro do meu tamanho, se aproximou de mim. Ele está acompanhado de uma moça muito bonita com uma bebezinha em seu colo.

A Confiança - A Organização - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora