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Cinco anos depois
Flora
A festa de aniversário de uma filha da Organização historicamente é feita para mostrar o poder de sua família com uma celebração repleta de muita comida e bebida. Claro que não pode faltar música, danças e uma quantidade exagerada de convidados. Por incrível que pareça, eu conheço todos; eles me viram crescer, e muitos me conhecem. Não são desconhecidos.
Na Organização, tudo é muito bem definido. Os homens cuidam dos negócios, as mulheres da casa e dos filhos. Não há muito mistério ou dificuldade nisso. Sei das minhas obrigações, vou cumpri-las para honrar a minha família, mesmo que isso custe a minha felicidade. Juan dançou comigo a festa inteira. Nem mesmo Emanuel e Rafael puderam se aproximar de mim para dançar, pois Miguel não permitiu. Ele me vendeu para Juan; portanto, não pertenço à família Acácia, mesmo que o casamento ainda não tenha acontecido.
Celeste e Elisa me observam de longe. Minhas amigas sabem que algo está errado, e Gabrielli também percebeu. Tenho que ser mais discreta e camuflar os meus sentimentos. Ninguém pode saber o que vi. Vão dizer que estou inventando ou, pior, dizerem que o homem merece uma diversão antes do casamento com outras mulheres.
Isso para mim é inaceitável. Meu pai nunca traiu minha mãe. Ele sempre se mostrou amoroso e atencioso, claro que colocando, a cada ano com uma diferença pequena, um do outro, filhos em seu ventre. Queria ter um amor assim, compartilhar um casamento de anos como os dois. Pelo jeito, não será assim para mim.
– Acredito que saiba sobre o compromisso que vamos firmar hoje.
– Sim, Magalhães. Estou ciente e vou aceitar sem causar nenhum tipo de constrangimento.
Não tenho escolha, na verdade. A conversa dos meus pais foi bem clara. Entendo minhas responsabilidades, farei o que estiver ao meu alcance para fazer o que é esperado por mim.
– Ótimo. Assim que cantar os parabéns, será formalizado o nosso noivado. Deixarei uma quantia generosa para sua mãe seguir com os preparativos. Minha mãe ainda está muito abalada com o que houve com minha irmã. Espero que compreendam.
Mirela morreu dessa vez de verdade. Ninguém sabe quem a assassinou; todos pensam que seja Maurílio. Já eu não penso que seja ele. Com certeza, ela fez algum inimigo inimaginável que tinha um interesse genuíno em acabar com ela.
– Mesmo assim, mamãe vai tentar inclui-la, tenho certeza. Agradeço a generosidade, senhor; tudo sairá da forma que deseja.
O toque dele é suave. Parece realmente um cavalheiro, um homem forte e até protetor. Saber a verdade é doloroso; Magalhães não é nada disso. Provavelmente, quer se casar comigo para ter muitos filhos e me exibir com uma esposa troféu. Se pelo menos eu o amasse ou tivesse admiração por ele, tudo seria mais simples.
– Estou feliz por ser você minha futura esposa, Flora. Nada vai faltar para você; continuará tendo uma vida repleta de fartura e luxo, como sei que está acostumada.
Sorri sem jeito com a declaração esquisita dele. Ele pensa que sou uma mimada cheia de frescuras, imagina que sou apenas isso, que não tenho nada de diferente para oferecer além de um ventre saudável e um rosto bonito.
– Eu gosto de café sem açúcar, e detesto festas como essas. Prefiro jantares com as pessoas que amo.
– O que você disse?
Ele está distraído olhando para outra direção. Nem sequer prestou atenção no que disse. Magalhães quer o casamento para firmar sua posição e ficar ainda mais rico com meu dote. Vejo que sua atenção está em uma moça, a mesma do velório. Não sei se é uma prostituta ou uma das filhas de algum membro de sua família.
– Não disse nada. Vou ao banheiro e já estarei de volta, com sua licença.
Saio com passos lentos para parecer fina. Depois, comecei a correr na direção do jardim de rosas nos fundos da casa. Além de ser um homem com âmbitos sexuais questionáveis, ele teve a capacidade de trazer sua amante no meu aniversário. Claro que não trouxe de maneira literal, no entanto, permitiu que viesse.
– Bonequinha da mamãe, você está aqui. Estava feito louca procurando você.
– Mãe, papai já teve amantes?
Nunca perguntei isso a ela por muitos motivos. Sempre pareciam tão amorosos um com o outro. Quatro filhos não são feitos e criados sem amor e respeito, assim eu penso, mesmo que possa estar enganada.
– Seu pai sempre foi fiel a mim. Antes de se casar comigo, ele tinha uma vida bem movimentada sexualmente falando, Flora, gostava dos bordéis das cinco cidades e frequentava ambientes bem questionáveis. Depois do casamento, ele não saía mais e me procurava todos os dias. Não é por acaso que tivemos quatro filhos. Pelo seu pai e seu apetite sexual, teríamos dez.
– Nossa, mãe, que desnecessário. São muitas informações ao mesmo tempo.
Ela sempre foi assim. Flor Acácia é uma força da natureza, seja para o bem, seja para o mal. Eu a amo tanto. Sempre fomos muito próximas e amigas. É estranho saber que logo não estaremos juntas. De alguma forma, esse casamento nos afastou.
– Filha, os homens traem, pois isso é da natureza deles. Nós mulheres temos que saber lidar com isso da melhor forma. Fechar os olhos e fingir que nada está acontecendo. Infelizmente, nem todos os homens são como seu pai. Por isso, cabe a você saber administrar as traições do seu marido.
Administrar as traições? Vou colocar cada uma das amantes de Juan para um dia da semana. Ou melhor, vou ajudá-lo a cuidar do sustento das pobres amantes dele, colocando em uma planilha de Excel o que cada uma vai receber por mês. Minha mãe só pode estar de brincadeira; só isso explica um conselho horrível como este.
– Flora Acácia, não faça essa cara. Não estou dizendo que deve colocar em uma planilha todas as amantes do seu marido, nem tampouco ajudá-lo a cuidar delas. Estou dizendo que deve saber administrar isso dentro de você. Com os filhos e as obrigações que o casamento traz, não vai precisar se preocupar com isso. Amantes são problemas exclusivamente dos homens e não nossos.
Mamãe somente reproduz o que aprendeu durante toda a vida. É triste porque muitas mães pensam como ela e educam suas filhas assim.
– Chegou a hora do show? Por isso estava me procurando?
– Não fale assim sobre o seu noivado. Juan será um bom marido, seu irmão me garantiu isso.
Miguel não tem moral para garantir nada depois que assumiu os negócios da família. Meu irmão está irreconhecível, tomando decisões absurdas usando da sua liderança para impor sua vontade.
Voltamos para o salão para os parabéns. Dezoito velas enfeitavam o grande bolo que mamãe encomendou. Todos cantaram parabéns enquanto olhava cada um deles. Todos distraídos a minha profunda tristeza. Não sei o que realmente queria na vida, talvez alguém apaixonado por mim como Rafael é por Celeste ou que me olhe como uma devoção como Hugo olha para Gabrielli. O que tive foi um homem que nem sequer presta atenção em mim, que está mais preocupado com uma de suas várias amantes do que em estreitar relações comigo.
O primeiro pedaço sempre foi da minha mãe. Só que dessa vez, decido entregar para Emanuel. Meu irmão foi o único que realmente lutou para esse casamento não acontecesse, junto com Rafael. Mamãe fica surpresa e até parece triste, disfarçando com um sorriso. Vejo Magalhães se aproximar. Sorrio como se estivesse surpresa.
– Gostaria de aproveitar a oportunidade para oficializar meu compromisso com você, Flora. Aceita se casar comigo?
– Sim.
Ele colocou um anel com uma pedra enorme de diamante no meu dedo e beijou minha mão logo em seguida. A minha vontade é de sair correndo. Ao ver meus pais e Miguel atrás de mim, o desejo de fugir desaparece. Os convidados aplaudem em frenesi, com mais um casamento arranjado, quando tudo que quero é desaparecer para não estar nessa situação.
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A Confiança - A Organização - Livro 3
Chick-LitJuan Magalhães é leal, sério e dedicado a manter sua família em uma posição favorável e de confiança dentro da Organização. No entanto, tudo muda com um erro cometido por alguém muito próximo. Agora, Juan tem que lidar com pecados que não pertencem...