Juan
Sinto o ódio que Flora tem por mim; seu olhar transparece. Miguel me permitiu trazê-la para um dos restaurantes da cidade Magalhães. Ela ficou calada durante o caminho até aqui e permanece assim. Fiz os pedidos, atento a cada movimento dela, por mais mínimo que seja. Nosso encontro na igreja terminou com a data do casamento definitivamente marcada, diferente do que ela tinha me dito na festa de casamento de Gabrielli e Assis.
– Recebi os exames hoje à tarde, agradeço por ter enviado. O padre Lucas me ligou e disse que marcou a data. Por quê?
– Esperar mais o quê? Você me quer. Por qual razão devo estender ou tentar postergar essa data? Juan, podemos comer em silêncio?
A indiferença dela me irrita. Tomo um gole do meu vinho, percebendo como sou um incômodo para ela.
– Quero filhos nos primeiros anos de casamento. Quanto mais cedo tiver meus herdeiros, mais rápido vai esquecer de Ulisses ou de qualquer outro que possa querer. Aliás, quando começou essa paixão entre você e ele?
Ela continua calada, cortando a carne, sem olhar para mim. Parece com fome, pois come concentrada em seu prato. Seguro sua mão sob a mesa, apertando seus dedos. Flora olha para mim, respirando fundo como se estivesse perdendo a paciência.
– Juan, por que quer casar comigo? Sejamos sinceros um com o outro: não é pelas terras ou o dote, sei que é pouco para o que você tem. É pelo meu útero, que supõe ser extremamente fértil? Qual seria o real motivo?
– Você está desviando o assunto, Flora. Quero saber sobre você e Ulisses. O foco não são os motivos do nosso casamento.
– Tudo bem, você venceu! Não tenho nada com Ulisses, apenas uma cordialidade como teria com Hugo Assis ou até com Gregório. Nada mais que isso. Agora, posso terminar meu jantar?
Não confio nisso. Flora sorria para ele como se fossem muito íntimos; ela pode estar mentindo para me fazer acreditar que não tem nada com ele. Houve um silêncio incômodo entre nós até que ela tivesse terminado de tomar o seu suco e concluído o seu jantar. Ela pegou o celular, digitando apressadamente. Tomei o celular da sua mão para ver com quem estava falando. Era uma mensagem para Emanuel.
"Venha me buscar, por favor!"
– Levo você embora. Não precisava chamar seu irmão.
– Não quero ser vista com você antes do casamento. Vamos evitar fofocas sobre nós dois. Por favor, não quero sair com você para jantares e passeios. Já fez um julgamento sobre mim, então não vamos tornar nossa convivência pior. Emanuel virá me buscar. Peço que não insista, tudo bem?
Flora está me desafiando, pensando que tem controle sobre sua vida quando, na verdade, não tem. Faço um sinal para os meus homens saírem e trancarem as portas. Ela percebe o que estou fazendo e tenta levantar, sendo evitada com apenas um olhar, Flora sabe que deve voltar a se sentar.
– Nosso jantar ainda não terminou, Flora. Temos muito que conversar. Sou um homem, digamos, bem obcecado por controle. Não gosto que nada saia diferente do que planejei. Hoje, meus planos não incluíam você correndo para a barra das calças do seu irmão como uma garotinha mimada que é. Como minha esposa, terá que andar segundo minhas regras e planos. Entendeu? Quero que responda verbalmente sem sacudir a cabeça ou sorrir como uma debochada.
– Entendi.
– Ótimo. Estamos entrando em um consenso inicial, e isso é bom. Quero me casar com você para que seja mãe dos meus filhos. Pretendo ter muitos. Acredito que entenda suas obrigações. Além disso, sempre vou procurá-la na cama. Não pode se negar nunca. Farei isso até engravidar e continuarei mesmo quando estiver grávida.
Flora ouve tudo com atenção. Consegui o que queria: seu foco total em mim e nos meus planos para o nosso casamento.
– Não terá celular. Seu foco será total e exclusivamente ser minha esposa. Além disso, não poderá conversar com outros homens. Outro detalhe: não iremos morar com minha mãe, e sim na fazenda. Lá tem um espaço maior, com acesso exclusivo apenas a mim.
Seu semblante permanece o mesmo, sem expressar revolta ou chateação. Sua mente é um enigma para mim; não demonstra sentir nada além desse silêncio.
– Me despreza, não é? Preferia ser de outro do que ser minha, Flora?
– Na verdade, Juan, eu sou uma vagabunda. Quero ser de muitos homens, não só de você. Talvez pudesse me ajudar com isso. O que acha de dar um passo maior em nossa relação, Magalhães? Depois, posso fazer o que quero com outros. Depois de estragada, posso ser uma puta como sempre quis.
Flora se senta à mesa antes de afastar os pratos, as taças e os talheres. Ela sobe o vestido lentamente, próximo à sua genitália. Ela só pode ter enlouquecido ou me enganado muito bem.
– Não quer? Tire minha virgindade, Juan. Você é tão bonito; seria tão bom ser o meu primeiro.
Ela tira sua sandália calmamente, sem tirar os olhos de mim. Flora se levanta com delicadeza, retirando sua calcinha como se não fosse nada, deixando-me ver sua bunda redonda e gostosa.
– Prefere no chão ou na mesa? Estou aqui para ser sua, Juan. Você não quer? Se você me tomar como uma vadia, não terá que se casar comigo e poderá escolher alguém melhor que eu. Uma moça pura e inocente, que não está manchada por dentro. Sou uma garotinha suja, Juan, não sirvo para ser mãe dos seus filhos ou sua linda esposa.
Ela sorri, se aproximando, segurando meu rosto, descendo suas mãos pelo meu terno. Tento me afastar, sendo puxado novamente por suas mãos. Flora está fora de si; só isso explica sua mudança repentina de humor. Quando ia colocar sua mão dentro da minha calça, resolvo acabar com isso, dando um tapa forte no seu rosto.
Acabei machucando sua boca com o impacto do tapa que dei em sua face. Assustada, ela se afastou, pegando sua calcinha. Seus olhos se encheram de lágrimas rapidamente. Tentei ir até ela, sendo evitado como se estivesse com uma doença contagiosa ou fosse um monstro.
– Flora, me desculpe. Não queria machucá-la. Venha aqui, deixe-me cuidar de você.
Foi nesse momento que Emanuel chegou. Não mandei meus homens evitarem sua entrada, por isso entrou sem problemas. Quando viu o estado da irmã, ele veio para cima de mim como um louco. Não consegui me defender do soco que levei nem mesmo da rasteira que Emanuel me deu. Meus homens conseguiram segurá-lo, mesmo que ele parecesse ter a força de mil cavalos.
– SOLTE MEU IRMÃO, PELO AMOR DE DEUS! EMANUEL, VAMOS EMBORA, POR FAVOR.
– VOU MATAR ESSE DESGRAÇADO. ISSO TUDO É CULPA DE MIGUEL, QUE DEU AVAL PARA ESTE HOMEM BATER EM VOCÊ, FLORA. ACHA QUE MINHA IRMÃ É UMA DAS PROSTITUTAS QUE GOSTAM DAS SUAS SURRAS, MAGALHÃES. VOU LEVAR ESSE ASSUNTO ATÉ HUGO, ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM.
Assim que seu irmão revelou sobre as prostitutas, Flora começou a chorar ainda mais. Peço para os meus homens levarem Emanuel para fora. Ela tenta segui-los, mas não deixo.
– Posso explicar, Flora.
– Explicar? Não me deve satisfação de nada. Eu queria acabar com esse martírio. Já não me importava com a honra e reputação da minha família. Tudo que eu queria era me livrar desse compromisso. É só isso! Pode desistir de mim, Juan? Esqueça e encontre outra.
Não posso. Algo em mim quer Flora de uma forma que não consigo entender. Parece um ímã que me leva até ela, mesmo que pelos motivos errados. Meu silêncio foi a resposta que Flora não queria ouvir. Não consigo desistir dela.
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A Confiança - A Organização - Livro 3
ChickLitJuan Magalhães é leal, sério e dedicado a manter sua família em uma posição favorável e de confiança dentro da Organização. No entanto, tudo muda com um erro cometido por alguém muito próximo. Agora, Juan tem que lidar com pecados que não pertencem...