Flora
Não bastava Flávia me vigiar, agora Expedito e todos da colônia assumiram como missão cuidar pessoalmente da minha vida. Não dou um passo sem que alguém esteja ao meu lado; até as crianças da colônia estão assim. De um lado, é bom; as pessoas me visitam, trazem comida, conversam comigo e até me aconselham. Não tem um dia que não chore de saudades de Juan. Eu sei que deveria perdoá-lo, deixar que volte para casa, mas não consigo.
Ele não veio atrás de mim; deve estar se divertindo com Lana ou com alguma prostituta que trabalha para Jacó. Minha mãe agora está massageando minha barriga com óleos, como fez durante as quatro gestações que teve. Talvez seja por isso que está esbelta, ou pode ser algo genético, apesar dela bater o pé e dizer que é por conta dessas massagens.
— Mãe, como está Celeste e Rafael? E Emanuel? Estou com tantas saudades.
— Celeste está quase ganhando meu netinho, Rafael terminou todos os deveres com nossa família, mas Miguel insistiu que continuasse ao seu lado. Ambos brigam todos os dias como se fossem crianças, mas seu pai consegue apaziguar as desavenças deles; meu Emanuel está voltando. A temporada na Espanha fez bem a ele; seu irmão está feliz, apesar de como tudo aconteceu para sua partida.
Eu, de verdade, perdoei Juan; já Miguel, não consigo definir o que sinto em relação a ele e tudo que fiz. Quero deixar o tempo passar; não tenho mais ódio e raiva dele como antes; não podia ouvir seu nome, agora penso que consigo lidar com essa situação melhor do que antes.
— Seu irmão está preocupado com esse afastamento seu de Juan. Mandei ele cuidar da própria vida, isso não diz respeito a ele.
— Obrigada, mamãe. Miguel se intrometeu na minha vida demais; está na hora dele cuidar da própria vida.
Sei bem que meu irmão mais velho gosta de se ocupar dos problemas de todos apenas para não se preocupar com os seus. Flávia entra no quarto trazendo comida; parece que todos querem me engordar mais do que já estou.
— Mãe, pode pedir para Flávia e cia limitada pararem de me darem comida?
— Claro que não. Você precisa comer bem, querida, durante minhas cinco gestações comia por mim e pelos seus irmãos, agora imagine você que está esperando dois.
Flávia sorri, colocando a bandeja próximo da cama; ela também está grávida. A obriguei a fazer serviços leves; ela continuaria fazendo tudo normalmente como se não estivesse grávida. Expedito a cerca por todos os cantos, se não é para saber como estou, é para beijar sua barriga.
— O patrão mandou cuidar de você, e mesmo que não tivesse mandado, eu cuidaria assim mesmo, patroa.
Minha mãe olha para mim, percebendo como falar de Juan abala minhas estruturas. No início de toda essa jornada, desde o noivado até o casamento e depois as implicâncias até a gravidez dos nossos filhos, pensei que tudo seria diferente. O riso vem de repente ao perceber que queria infernizá-lo para se separar de mim; agora estou aqui sem ele e chorando por um homem que nem sequer sei se me ama como o amo.
— Não chore, bonequinha da mamãe. Se está sofrendo sem ele, por que não pede para voltar? Deixe esse orgulho de lado, meu bem.
— Não é orgulho, mamãe; Juan não me ama; eu sou só a esposa bonita que carrega seus herdeiros. Ele prejudicou meu melhor amigo apenas por achar que representava perigo para o nosso casamento quando isso seria impossível.
Eu o queria aqui com a certeza de que tem amor por mim, e não por ser o certo estar comigo em virtude do nosso casamento e por conta da minha gravidez. Estar longe dele está sendo péssimo para mim, mas o pior seria tê-lo aqui sem a certeza de que é por amor e não por conveniência. Mamãe termina a massagem indo embora; fico um tempo sozinha até que decido passear um pouco pela colônia.
Flávia, ao me ver sair, começa a me seguir como sempre; eu queria ter um momento sozinha para passear sem todos me vigiando ainda mais por saber que são ordens de Juan. Vejo Catalina e Zacarias; eles vêm até mim com um convite na mão.
— Nós íamos até a casa grande, patroa, mas que bom encontrá-la aqui. Trouxemos o convite do nosso casamento; é nossa madrinha junto com o patrão.
Parece que os hormônios da gravidez são reais; é a segunda vez que começo a chorar por conta de Juan. Eu não aguento mais chorar por ele. Zacarias e Catalina ficam sem entender meu choro; logo Flávia explica que ando sensível por conta da gravidez.
— Patroa, não se preocupe, tudo se resolverá. Estamos organizando uma festa incrível para daqui a cinco meses, quando os patrõezinhos estarão quase nascendo.
— Desculpa. Eu ando muito manteiga derretida por conta dos meus meninos, mas eu prometo que estaremos lá, eu e o patrão de vocês.
Eu não poderia assegurar nada, até porque tudo pode acontecer, inclusive o fim do meu casamento. Juan desconfia de mim, não me ama, e depois do que fez, com certeza será bem difícil me provar que tem amor e confiança em mim.
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A Confiança - A Organização - Livro 3
ChickLitJuan Magalhães é leal, sério e dedicado a manter sua família em uma posição favorável e de confiança dentro da Organização. No entanto, tudo muda com um erro cometido por alguém muito próximo. Agora, Juan tem que lidar com pecados que não pertencem...