28

364 75 5
                                    

Juan

Ela entrou no carro com Flavia sem olhar para trás. Eu sabia que Flora não ia esquecer essa história; só não imaginei que seria capaz de invadir minha empresa em busca de provas sobre isso. Expedito está ao meu lado, como sempre, um fiel soldado pronto para qualquer ordem. Antes das investigações, ele pediu para não investigar, mas, teimoso como sou, insisti nisso. Tinha medo de Ulisses, do que ele poderia fazer contra meu casamento, e de como Flora poderia facilmente se deixar levar por vários fatores, principalmente sabendo como o nosso começo foi complicado.

Confesso que não confiei nela, que permiti que o medo de ser traído fosse maior que o forte sentimento que nutria por ela. O medo me levou a aprofundar minhas investigações. Ulisses fugiu sem ser julgado pelo crime que cometeu, e agora minha esposa sabe que estive envolvido em tudo que aconteceu. Flora ainda é minha esposa, e ela sabe que não poderá fugir de mim para sempre. Entro no carro para voltar a fazenda, Expedito observa minhas reações e sei que ele quer dizer algo.

— Diga logo, Expedito.

— Flavia foi enganada pela patroa. Ela alegou que iria buscar um presente que o senhor havia dado a ela e deixado no escritório. Minha mulher está grávida. Não que essa informação seja mais importante, mas pensei em contar.

Expedito é um bom marido, preocupado que eu possa fazer algo contra Flavia, ainda mais agora que ela está grávida. No entanto, essa nunca foi minha intenção. Sei que, quando Flora quer algo, ela move o mundo para consegui-lo.

— Fique despreocupado, meu amigo. Jamais faria algo para prejudicar Flavia. Vocês cresceram comigo, são mais próximos de mim do que minha própria mãe. Sei que sua esposa apenas foi uma boa amiga, acompanhando minha Flora. Preciso falar com minha mulher.

— Nesse momento, não aconselho. A patroa está nervosa, triste e magoada. Não fará bem para os patrõezinhos. Deixe o tempo passar, aproveite para visitar a senhora Magalhães, deixe a poeira baixar. Talvez seja melhor até ficar na cidade por alguns dias. Ela vai ficar bem, todos nós vamos cuidar dela.

Não queria deixar Flora sozinha para pensar em fugir. Seria demais para mim suportar perdê-la, assim como meus filhos. No entanto, Expedito tem razão. Confio minha vida a eles, e sei que vão cuidar da minha família até melhor do que eu. Meu homem de confiança me deixa na porta da casa da minha mãe seguindo para fazenda sem mim. Me surpreendo ao ver um carro com alguns seguranças na porta. Quando entro, vejo minha mãe conversando com Irma e Lucas, todos estão sorrindo ao redor de uma mesa de café da manhã.

Assim que me viu, Lucas se levantou, ficando ao lado da mãe como uma espécie de segurança. Certamente, acredita que eu possa hostilizar sua mãe adotiva. Percebo que seus outros irmãos se aproximam, ainda não os tinha visto. Ficam atrás do irmão, como se Lucas fosse a figura masculina de proteção deles.

— Juan, que surpresa boa, meu filho. Sente-se conosco. Irma veio me visitar com as crianças.

Não tinha clima para socializar, chamei minha mãe em particular. Havia muito tempo que não vinha aqui, sei que estou sendo um péssimo filho ao trazer meus problemas e por não ter dado atenção a ela durante todos esses meses. Ela inclusive não deve nem mesmo saber o que está acontecendo na minha vida.

— Mãe, eu acredito que deveria ter avisado. Peço desculpas!

— Está tudo bem, filho. Irma me contou sobre Flora. Confesso que esperava uma visita dela, mas conheço o filho que tenho. Deveria deixar essa superproteção de lado. Quero conviver com meus netos e com minha nora. Flor veio reclamar de você para mim também, disse que você não a deixa ver a menina Flora. Deveria ser menos controlador.

Ela para de falar de repente, percebendo que não estou bem. Minha mãe tinha razão em tudo. Sempre quis ter controle de tudo para, no final, não ter controle de nada. Sinto-me um idiota completo. Minha Flora nunca vai me perdoar por não saber demonstrar o que realmente sinto em relação a ela.

— Filho, o que houve?

— Eu fiz tudo errado, mãe. Perdi minha Flora e meus filhos. Não consigo viver sem ela. Flora é tudo para mim, é minha vida, meu respirar. Não posso viver sem ela. A senhora consegue me entender?

Minha mãe segura minhas mãos, levando-me para dentro da casa. Ela sabe que preciso dela, mesmo tendo sido um filho tão ausente. Conto para ela tudo desde o início, sem esconder nenhuma parte. Ela pede para uma das empregadas avisar a Irma que não poderá continuar com a visita. Parece que as duas têm se encontrado muito, certamente sem o conhecimento do meu ex-cunhado, Maurilio, que nunca aprovou essa aproximação. Não me importo com a opinião dele. Minha mãe estava visivelmente feliz quando cheguei, fui permissível ao deixar Lucas afastar-se de nós sem saber o real motivo.

Maurilio descontou em nossa família o fato de ter sido traído pela minha irmã, julgando-nos com base no que aconteceu, mesmo que nunca tenha revelado o que Mirela fazia. Agi como ele, promovendo uma caçada por um homem que nada fez a mim por desconfiança e ciúmes. Não deveria ter investigado nada. Flora já tinha aceitado sua nova realidade, mas eu não estava contente, queria ter controle em tudo, inclusive na mulher que amo.

— Filho, fique aqui o tempo que precisar. Lamento por ter aprendido da pior forma que não temos como controlar tudo e todos. Se a ama, dê tempo para que ela entenda o que houve. Sei que está arrependido do que fez, por mais que a intenção tenha sido boa na sua visão. Agora, Flora precisa desse afastamento, e, por mais doloroso que seja para você, meu filho, você também precisa. Seu quarto ainda está arrumado do jeito que gosta. Será maravilhoso tê-lo aqui comigo. Só espero que não se incomode com algumas novidades que virá.

— Eu entendo que tem muito tempo que não temos um contato certo entre mãe e filho. Portanto, vou compreender totalmente se a rotina da casa mudou.

Não moro aqui, portanto, não posso ditar regras na casa da minha mãe. Minha personalidade de querer impor ordem às coisas do meu jeito só fez minha Flora se afastar de mim.

— Temos muito que conversar, meu filho, mas agora descanse. Temos que pensar em uma forma de unir você e Flora novamente. Dessa vez, você vai ouvir meus conselhos e parar de agir como se soubesse de tudo.

A Confiança - A Organização - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora