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Grego

Olho para o retrovisor tentando enxergar se tinha algum carro me seguindo, eu sabia, sabia que algum dia a minha casa iria cair. Eu não posso morrer agora, não agora que eu ia resolver tudo com a minha mulher.

Desligo o carro encostando a testa no volante, tô ligado que já faz uma semana que eu tô sendo observado, e eles só estavam esperando um momento para tentar dar o bote.

Tiro a pistola da cintura colocando em cima da minha perna, bem legal o meu ano novo começar assim, com porra de polícias disfarçado indo atrás da minha pessoa. Soco o volante frustrado e pego o meu celular mandando mensagens para o perigo, essa porra de invasão poderia a qualquer momento, e eu não posso estar fora quando isso acontecer,  no meu morro eu sempre estarei na linha de frente defendendo os meus e os moradores da corvadia desses pau no cu.

Hoje eu só quero dormir agarrando com a minha mulher, transar bem gostoso pq faz um bocado que eu não transo, já tentei e não consegui transar com nenhuma mulher, não sinto prazer nas coisas que elas fazem, se pá, nem duro ele fica.

Ligo o carro indo para o mesmo lugar onde Elizabeth está, chegando lá de longe já avisei ela dançando com o gv até o chão, nego e ligo para ela que atende já que estava com o celular em mãos.

Falo rápido com ela que fala algo no ouvido do pai e entra na casa saindo logo em seguida com uma bolsa, ela começa a se despedir e vem na direção do meu carro parecendo que tava tentando se manter em pé, no caminho acabou tropeçando e quase caindo de cara no chão e ela só fez rir, batuco o dedo no valente quando ela entra quase quebrando a minha porta, olho pra ela que estava com os olhos pequenos e o cabelo todo assanhado, ela coloca a mochila no piso do carro e deita a cabeça na janela me olhando.

Elizabeth: para onde vamos? -Manobro o carro passando pela família dela.-

‐ um hotel, vai demorar se fomos pra minha casa, e você precisa de um banho urgente pq tá bêbada pra caralho. -Falei baixo e ela continua me olhando, tá bêbada pra caramba e nem tá ligada.-

Elizabeth: eu não tô bêbada, só a minha cabeça tá rodando e minha garganta amargando. -Nego e ela coloca a mão na cabeça.- acho que vou vomitar, bebi muito.

‐ ihhh, logo agora? -Toco na garganta dela continuando dirigindo com uma mão, olho pra ela de relance mas volto a olhar para pista que tinha pouco carro passando.- Quer água?Provavelmente vai ter algum já vendendo algo por essas bandas.

Elizabeth: essa hora? Ninguém vende água há quatro horas, quase cinco da manhã. -Dou um risinho passando a mão na coxa dela.-

‐ hoje é ano novo, então é claro que mais cedo eles começaram a vender, mais dinheiro eles vão ter para comprar algo para ajudar naquele bagulho de comida, eles sabem que tempo de festa assim, sempre vai ter alguém bêbado querendo água por tá passando mal.

Elizabeth: Isso foi uma indireta? -Nego tirando a mão da coxa dela trocando a marcha do carro, coloco a mão de volta na coxa dela dando um leve carinho.- você fica gostoso quando dirige com uma mão só. Acho que a cachaça afetou os meus neurônios, eu falei que não ia voltar para você e um bocado de coisa, agora eu tô aqui no seu carro indo para um hotel, Hilário. -Falou rindo mas parou quando colocou a mão na boca.-

‐ Se você vomitar no meu carro, você vai limpar ele todinho. -Murmurei olhando para um moleque que tava com uma caixinha de isopor no ombro e na mão um sacola.- eu falei, tá vendo. Sempre vai ter esse horário, pq eles vão sair de alguma favela e ir para praia, o primeiro ônibus que passe pelas praias eles pegam para aproveitar a movimentação de manhã ou de madrugada tendo gente já na praia

Elizabeth: bichinho, ele parece ser tão mais novo que eu. -Diz baixo com uma voz chorosa. -

Ainda diz que não tá bêbada, estacionei o carro em frente ao ponto de ônibus fazendo o menino olhar para o meu carro meio desconfiado. Desço o vidro e ele fica imóvel no lugar.

‐ tá vendendo água, é? -Ele balança a cabeça.- me de quatro aí.

O menino veio meio com um pé atrás mas pegou quatro garrafas de água, pego vinte reais na minha carteira entregando a ele que me entrega as garrafas, boto tudo na perna da Elizabeth que já pega uma.

Xx: o senhor, tô sem trocado aqui, o senhor não tem uma de dez não?

‐ poxa cara, tenho não oia. -Ele coça a cabeça pensando.-

Xx: eu tenho aqui uns bolinhos que a minha mãe fez pra eu vender, o senhor não quer comprar pra sua esposa não? É três reais cada. -Dou um Sorriso só pq ele disse que a Elizabeth era minha esposa. -

‐  pode ser então, pegue quatro aí. -Ele abre a sacola que estava na mão todo sorridente, pego dois reais na minha carteira e ele me dá os bolinhos, dou o dinheiro que faltava que guardou no bolso da bermuda. -  tenha uma boa venda aí, parceiro.

Xx: obrigado aí. -Subo o vidro e ligo o carro, Elizabeth pega um bolinho que estava na minha mão e eu olhei de relance.-

‐ todos são seu, quero que você coma e beba essas águas todinhas, não quero conversar com você com álcool na mente. -Ela balança a cabeça Comendo o bolinho.-

Elizabeth: que delicia, é brownie. -Falou pegando os outros que estava no meu colo.- pode deixar que eu vou comer todos.

NO MEU MORROOnde histórias criam vida. Descubra agora