Zilda estava sentada ao lado de Anis no banco do lado de fora do estádio onde estava acontecendo o evento preliminar de games, olhando para o horizonte. Anis seguiu seu olhar e encontrou uma mancha distinta na multidão, usando uma roupa social demais para o lugar e se destacando no meio de tantos jovens com jaquetas de equipes de e-games e cosplays.
– Vi o Arthur falando com você quando eu cheguei - Anis deu batidinhas na ponta do nariz para afastar a coceira que sentia por causa do excesso de blush que Lorraine tinha aplicado ali. Ela deu um cutucão no braço de Zilda com o cotovelo, de leve. - Você não me respondeu nas mensagens e deduzi que não tinha visto, mas quando desci do táxi, aquele rapaz das câmeras disse que te viu encarando nossa conversa por um longo tempo.
– É. Eu ouvi o seu áudio, e agora que sei que ele me viu vendo a conversa, fico feliz que você tenha enviado um áudio e não uma mensagem - Zilda suspirou, se remexeu no banco e colocou os pés sobre a madeira, abraçando as pernas perto do corpo. Ela segurou o tecido da calça com força, apertando-o entre os dedos. - Estava encarando porque não sabia o que responder.
– E agora sabe?
– Denunciar? Como diabos eu vou me defender? - Zilda escondeu o rosto no vão entre os joelhos e resmungou baixinho.
– Não faço ideia do que você acabou de ronronar aí embaixo, mas ainda acho que é um plano válido - Anis deu de ombros, dando um sorriso forçado para um dos membros da equipe de filmagens. Ela esperou ele se afastar o bastante para voltar a falar. - Olha, eu sei que é muita exposição, mas você não pode simplesmente fingir que não foi um abuso.
– E eu vou ganhar um prêmio com isso? - Zilda ergueu o rosto, olhando para Anis com uma careta de dor. - Eu sei que deveria dizer algo, buscar a lei, mas o que eu vou dizer? Assumir que eu pedi por isso me tira do lugar de vítima.
– Pelo amor! Você não está falando sério - Anis ergueu os braços, com indignação. - Ninguém pede para ser estuprada. Você não pediu por isso e a culpa não é sua. Obviamente coisas são ditas entre um casal que está transando, mas não é não. E você disse que falou não mais de uma vez e que ele disse que era normal. Se ele teve que te convencer de que era normal, é porque não era. E existem leis sobre isso.
– Você disse que teríamos que denunciar lá e não estamos mais lá - Zilda fez um bico. - E eu entendi a parte de chegar no Brasil para falar sobre isso... Mas eu sei que vai dar muita merda.
– Então seu plano é evitar ele pelo resto da vida e nunca o desafiar, denunciar? Vai ficar só se escondendo e se sentindo culpada? - Anis esqueceu que estava maquiada como uma elfa de um jogo popular e esfregou as pálpebras com as pontas dos dedos. O glitter se agarrou na pele e sob as unhas, fazendo a sombra colorida, o delineado prateado e o rímel preto virarem uma coisa só. - Eu não quero ser a pessoa que briga e tenta te obrigar a algo.
– Bom, não seria a primeira a me obrigar a alguma coisa nessa viagem - Zilda tentou rir, mas acabou fazendo uma careta retorcida. Ela viu Anis erguer uma sobrancelha ameaçadora para ela e apertou os lábios. - Desculpa. Eu estou tentando levar na esportiva.
– Acha que é piada falar assim de um estupro? Acha que podemos ser esportivas sobre isso?
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Wattpad, lives e romance
RomanceAnis é uma escritora fracassada do Wattpad. E depois de um dia especialmente ruim, ela acaba bebendo mais do que esperado em uma de suas lives semanais e fala demais sobre o novo livro queridinho do aplicativo e da internet. Em um caos monumental, a...