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Anis recusou a chamada de número estranho pela sexta vez em menos de meia hora, e dois segundos depois, a tela se acendeu e o aparelho voltou a brilhar com o mesmo número. Quando ela recusou novamente, a tela acendeu com duas mensagens da pessoa em seu SMS.


– Você não silenciava os números? - Kai estava sentado de frente para ela.


Quando saiu da sala do seu chefe, abandonando seu emprego e sua vida rotineira e pacata, Anis não tinha um plano determinado. Ela enviou uma mensagem para Kai perguntando se ele ainda estava nas redondezas, e se surpreendeu ao receber não apenas uma confirmação, mas uma foto dos pés dele na recepção do prédio.


– Sim, mas eu mudei isso. Acho que preciso aprender que boas oportunidades podem vir do nada - ela deu um sorriso desanimado para a xícara na sua frente. - Eu quero acreditar nisso, pelo menos.


– Você não acredita? Mesmo depois que tudo isso aconteceu? Mesmo depois de pedir demissão?


– Vamos deixar algumas coisas bem claras aqui - ela apoiou os cotovelos na mesa, inclinou o corpo para frente e o olhou nos olhos com determinação. - Eu saí do meu trabalho porque decidi que quero fazer outras coisas, não porque você me procurou. Esse sonho sempre borbulhou em mim, mas eu nunca tinha pensado em como fazer isso. Agora posso me arriscar mais porque as polêmicas me ajudaram, não porque a Ana Clara ou você têm alguma coisa a ver com isso.


Kai ergueu um dedo e sorriu. Ele parecia uma criança travessa, pouco preocupado com a forma com que Anis estava falando com ele.


– Item um explicado com sucesso. Algo mais?


–Não seja tão arrogante - Anis ergueu o lábio superior com certo nojo, deu um gole em seu chocolate quente e se recostou na cadeira. - Também quero deixar bem claro que não estou aceitando sua proposta. Eu não gosto do conceito.


– Não gosta? - Kai fez uma careta de confusão. - O conceito foi pensado por causa de você. A Clarinha pensou assim porque suas lives são assim.


– Eu sei. E continuo achando ela uma vaca. Ela é muito espertinha, mas eu não gosto disso e não vou ser manipulada - Anis cruzou os braços, demonstrando que seria irredutível. - Esse é o meu conceito, não o de vocês. E eu sei que não é original, mas eu também sei que só surgiu essa ideia porque eu estou no programa e posso proporcionar isso para vocês. Só que eu não vou aceitar beber e falar livremente no canal de vocês.


– No delas - Kai corrigiu.


– Que seja - Anis descartou a correção com um tapa no ar. - A questão é que isso enjoa fácil quando se está falando sobre livros. Eu faço isso no meu canal de lives porque é para ser descontraído e divertido, e orgânico. Não quero, e não vou, assinar um contrato dizendo que vou encher a cara só porque ela quer isso. Se eu aceitar, preciso que você seja meu aliado em debater essa questão.


– Certo. Concordo com você - Kai se debruçou para frente e sorriu para ela. - Eu concordo muito com você. Tenho algumas ideias também.


– Não ligo para elas, a menos que façam sentido com as minhas - Anis ergueu o queixo para ele, o rosto sério e decidido. - Minha ideia é não interagir com o público, também não quero ser um tipo capenga e desencontrado de comediante de programa ruim do YouTube. Não tenho talento para forçar a minha versão patética e não vou fingir que tenho.

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