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Anis estava encostada em um canto do elevador, de braços cruzados, o olhar vago em algum lugar além do piso. Bird estava do lado oposto, também de braços cruzados, analisando-a. O caminho até o hotel tinha sido silencioso.


– Sinto muito - ele quebrou o silêncio, sem tirar os olhos dela. Quando Anis ergueu o rosto para encará-lo com uma expressão de dúvida, ele sorriu. - Não sei o que a Nora te disse, mas sinto muito por ela ter te magoado.


– Acha que estou quieta porque eu estou triste?


– Não está?


– Não. Estou quieta porque estou em dúvida sobre algo. Me questionando se devo ser fiel a quem me ajudou ou se devo valorizar todas as oportunidades que a vida está me oferecendo.


– O que o seu coração está dizendo?


– Que eu sou uma fraude, que vou fracassar em qualquer um dos caminhos. Que nadar, independente de para onde, vai me fazer afundar e afogar em breve - ela usou as pontas dos dedos para secar as lágrimas das linhas d'água, antes que escorressem pelo seu rosto. - Meu coração só quer que eu desista, porque tudo que vem rápido, vai rápido. E no fim das contas sou eu quem vai quebrar a cara.


Bird se afastou da parede do elevador e caminhou até ela. Anis retribuiu o abraço aconchegante que ele lhe deu.


– Se você me contar o que está te deixando em dúvida, prometo afastar a sua síndrome da impostora para longe - ele depositou um beijo no topo da cabeça dela, entre os fios de cabelo, apoiou o queixo onde tinha beijado e sorriu fraco. - Juro que vou tentar ser imparcial, mesmo que eu acabe ficando sem você.


Anis deu um riso fraco e beijou o pescoço dele de forma suave. Ela respirou fundo o cheiro dele antes de falar.


– A Nora me fez uma proposta de escrever uma história com ela. Ela faria o webtoon e eu escreveria o livro. Depois isso viraria um roteiro de um drama... Seria um drama multiplataforma - Bird a puxou para fora do elevador pela mão, assim que a porta se abriu. Ele a arrastou pelo corredor, enquanto ela ainda estava falando. - Seria uma ótima oportunidade, sabe? Eu poderia ter um livro meu publicado aqui, e se o drama fizer sucesso, esse livro pode ser traduzido em outros países.


– E você ficaria com os royalties? Independente da tradução?


– Bom, sim. Eu sei que sim porque, quando chegam propostas de tradução, sei que o pagamento feito na moeda local do lugar da tradução é convertida e então depositada no país onde a história saiu originalmente, na conta da pessoa que escreveu.


– Eu só vejo prós até agora. Sem contar que isso te catapultaria para o resto do mundo, não?


– Ui! Catapultaria... Que palavra chique! Com quem anda aprendendo esse vocabulário português bonito? - Anis perguntou assim que chegaram na frente do quarto dela. Bird a colocou contra a porta, aproximou seu rosto do dela com um sorriso sapeca e encarou-a nos olhos. - O que você está fazendo agora?


– Parando para conversar - ele deu um selinho nos lábios dela, sorrindo em seguida. - Acho que estou aprendendo um pouco mais de português toda vez que te beijo.

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