– Tam, tam, tam, taaaam - Pamela assoprou o microfone depois da sua vinheta inventada, e sorriu de um jeito que fosse perceptível na sua voz. - Essa sou eu comemorando mais uma vitória da Anis. Porque na semana que vem vamos estar gravando esse podcast em lugares diferentes do mundo.
– Olá, humanos, humanoides e extraterrestres - Anis brincou, dando um gole em seu vinho em seguida. - O episódio de hoje não vai seguir a rotina padrão de começos porque a Pam está certa: estamos nos divorciando de gravar o episódio no meio das nossas salas de casa. E semana que vem eu estarei na Coreia do Sul, em uma feira independente de livros, e a Pam vai estar em Chipre, no casamento de quem?
– Da Hilary Liz - Pamela fingiu jogar o cabelo para trás, o que fez Anis rir e se engasgar com o salgadinho que estava comendo. - Brincadeiras à parte, eu quero deixar meus agradecimentos eternos aos anjos que marcaram ela nos comentários do último episódio. Ela realmente ligou na empresa e pediu para meu chefe assumir o casamento. E eu vou ser a, cof cof, principal cerimonialista do evento.
– São tantas vitórias que o tema de hoje do episódio é: até onde podemos sonhar na vida adulta - Anis bebeu um pouco da garrafa de água que tinha na mesa, tentando afastar a aspereza da garganta após o engasgo. - Eu sei que parece besteira, mas sonhar na vida adulta é muito frustrante. Porque a gente sente que não deveria estar fazendo isso.
– Mas aí a bonita foi lá e chorou na frente do chefe, em um desabafo meio desnecessário e meio exagerado, e conseguiu com que ele deixasse ela ir para a Coreia do Sul por pena. Ou seria um incentivo? - Pamela mexeu as sobrancelhas para Anis de forma sugestiva, depois deu de ombros. - A verdade é que a Anis está certa: ser adulto é uma droga. Ainda mais se a gente é mulher. Porque a maioria das mulheres ao nosso redor tenta disputar com a gente, e nem é por maldade. A disputa feminina só está lá, esperando.
– Então, em resumo, surtar pode ter seus lucros. É isso, Pam?
– Sei lá. Eu não sinto que sou adulta o suficiente - Pamela respirou fundo e se esparramou na cadeira. - É meio sufocante não saber o que fazer. E surtar do nada é sempre um lembrete de que você pode perder o emprego, e também a estabilidade, e a sua casa e a sua dignidade. E o que vai sobrar? Provavelmente nem a sua moral e o seu respeito pessoal, mas a gente só surta quando a saúde mental está no ápice e quando sentimos que vamos abraçar a insanidade e nos tornarmos melhores amigas.
"Eu nunca surtei no trabalho, mas sei que deveria, porque aguentar noivas é uma tarefa estressante. E, não é nada pessoal, mas a real é que todo mundo surta quando casa. E surta porque é adulto, porque está triste e sem propósitos, e casar faz tudo isso transbordar para a borda do nosso consciente."
– Isso foi bonito - Anis apertou o pause e checou o som. Ela se levantou e se jogou no tapete felpudo da casa de Pamela, abrindo bem os braços e as pernas. - Sinto que não vou conseguir fazer isso.
– Gravar um ótimo programa sobre saúde mental adulta? Pois é: ninguém está mesmo pronto para essa conversa, e todos nós somos fraudes. Ninguém é adulto de verdade, mas essa é a lei da vida: a gente perde tempo para ganhar dinheiro, para perder saúde. É inevitável.
– Não isso. Mas isso também - Anis se moveu como se fosse gravar um anjo na neve, sentindo as fibras do tapete indo e vindo sob o seu corpo. - Ir para a Coreia e dar a minha cara a tapa. Quer dizer, eu poderia só ter sentado a minha bunda lá e ter ouvido o surto do Kai. Ele estava certo em ficar bravo, porque eu realmente mudei muito o roteiro sem autorização.
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Wattpad, lives e romance
RomanceAnis é uma escritora fracassada do Wattpad. E depois de um dia especialmente ruim, ela acaba bebendo mais do que esperado em uma de suas lives semanais e fala demais sobre o novo livro queridinho do aplicativo e da internet. Em um caos monumental, a...