— Você não pode estar falando sério — Ash deixa de correr aos poucos e quando enfim para; segura seus joelhos, tão ofegante quanto eu estou.
Antes de respondê-la; dou uma boa olhada no ponto do campus que paramos e percebo que dessa vez alcançamos um recorde na nossa corrida diária. Geralmente sempre paramos próximo ao ginásio de Uepplen. Volto minha atenção para Ashley e limpo o suor da testa.
— Acredite, nem eu estou acreditando que concordei com isso — não que seja algo totalmente surreal, passar 14 dias sozinha com Sebastian em outra cidade... Apenas é um detalhe que só aconteceria nos meus sonhos, ou melhor; pesadelos — Mas estamos falando de dinheiro suficiente para pagar o aluguel de um quarto unitário aqui em Uepplen.
— 14 mil é bastante coisa, mas não é para sempre, quando acabar o dinheiro, como que você vai continuar pagando, Quin? — Ash adota seu tom de voz preocupado e me faz respirar fundo discretamente.
Não que eu não tenha pensado nisso antes, porque pensei, principalmente porque sei que meus pais não conseguiriam pagar o aluguel de um quarto unitário, depois que... Bom, depois que os 14 mil acabassem. Não fui eu quem escolheu compartilhar o alojamento que divido hoje em dia, mas sim o detalhe do aluguel dele ser mais baixo que o do quarto unitário. Então ou era isso ou era acordar todos os dias antes do sol nascer para conseguir chegar em tempo na primeira aula do dia e estudar na lanchonete ou biblioteca nos intervalos ou falta de aulas.
— Vi no mural de estágios que abriu uma vaga para auxiliar de odontologia, vou tentar conseguir esse emprego.
Não que eu seja ingrata com tudo que meus pais pagam pra verem a única filha deles na faculdade, não sou ingrata pela minha mãe ter dobrado seus turnos no hospital para conseguir ajudar meu pai a pagar os porcentos que minha bolsa não cobre das mensalidades, muito menos sou ingrata pelo meu pai trocar suas férias por trabalho na empresa, para receber mais ao invés do seu merecido descanso. Mas se eu conseguisse esse emprego, tenho certeza que iria aliviar os gastos deles comigo aqui em Uppplen, nem que seja um pouco... Se ao menos eu tivesse conseguido a bolsa integral na época.
— Seus pais não queriam que você trabalhasse estudando, lembra? — Ash me lembra de algo que sequer esqueci e suspiro sabendo que meus pais queriam que meu foco fosse apenas conseguir o diploma por hora.
— Lembro Ash, mas não posso mais ficar pulando para seu quarto toda madrugada ou pior; se eu tiver que dormir mais alguma vez com o barulho daquela máquina maldita juro que explodo, como um tomate.
— E mesmo assim você aceitou fugir com ele — ela deixa de se apoiar nos joelhos e faz uma careta virando seu pescoço para um lado, depois para o outro.
— Não vamos fugir.
— Não consigo ver vocês 14 dias juntos.
— Por que não? Estamos juntos a 4 meses — não consigo ver é como vamos fingir ser namorados, isso sim soa como uma piada de mal gosto, mas esse detalhe escolhi não compartilhar com Ash, por saber exatamente como ela iria reagir.
— É diferente, aqui vocês tem outras pessoas, o tempo todo, você tem a mim — Ash ri sem humor — Lá você só terá ele.
— Você está agindo como se fôssemos mesmo fugir, Ash — reviro os olhos e começo a andar em direção ao prédio de dormitórios — Não vamos.
— Sabe o que não entendo? — Ash se coloca ao meu lado — Por que logo você? — minha melhor amiga vira seu rosto para mim e me faz aproximar as sobrancelhas expressando dúvida.
— Logo eu? — a questiono e Ash concorda com a cabeça.
— É Quin, dentre todas as garotas que caem aos pés de Sebastian, por que logo você? — ela pronuncia como se fosse óbvio e me faz pensar no que Sebastian havia dito hoje pela manhã, quando havia lhe perguntado algo bem parecido.
— Porque para ele; sou um tipo de pessoa super focada que vai deixá-lo focado em conseguir o prêmio — percebo o quão idiota isso soa só após pronunciar a última palavra, mas pelo breve silêncio que acaba rodeando nós duas, Ash não parece achar tão idiota assim a justificativa de Sebastian.
— E como exatamente ele acha que você vai conseguir ajudá-lo? — só depois de alguns instantes que a escuto novamente e dessa vez a ironia da situação não está mais presente no seu tom de voz.
— Não faço ideia — olho na direção de Ash, que já estava me fitando e me envia seu melhor sorriso.
— Isso vai ser divertido — ela me empurra com seu ombro e me faz rir com o nariz, concordando com a cabeça.
Vai sim, tão divertido quanto deve ter sido para o Frankenstein reviver pela sua 22º vez. Doloroso e revigorante. Doloroso por ter que aturar Sebastian por 24h durante 14 dias. Revigorante porque por 24h durante 14 dias, terei Sebastian nas mãos. Ou quase isso.
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Em Cada Traço
RomanceQuincie Wyne não vê a hora de terminar a sua faculdade em odontologia, por um único motivo; voltar a ler e estudar sem a presença do seu detestável colega de quarto, qual sua única missão consiste em tirar o sono, a paz e a tranquilidade dela, atend...