Em Cada Traço

46.

Fico tão imersa nas palavras escritas dentro do pequeno pedaço de papel, tão diferentes das que ele me dirigiu antes de — literalmente — me mandar embora, que sequer percebo Ash chegar junto com Brandon. Sou puxada para o mundo real, longe das palavras de Sebastian quando Ash me abraça, pronunciando um monte de perguntas, antes de se sentar na cadeira ao meu lado. Brandon, seu namorado, bagunça meu cabelo resmungando um cumprimento e se senta ao lado de Ash. Respiro fundo sentindo o coração acelerado e por algum motivo meus olhos despencam para o pacote com meu nome sobre a mesa.

— Eu disse que isso ia acontecer! — escuto a voz de Ashley, mas não dou ouvidos — Quin! Está me ouvindo? Quin! — só desvio olhar para encarar minha amiga quando ela estala os dedos na frente do meu rosto.

— Estava nas minhas coisas — sussurro e a entrego o bilhete.

Inquieta, a espero ler palavra por palavra, antes de subir seus olhos redondos para mim, com as sobrancelhas arqueadas.

— O que é isso? — Ash questiona e seu namorado pega o bilhete das suas mãos.

— Uma dedicatória, ao que parece — a respondo observando o papel, agora nas mãos de Brandon.

— Pra mim parece uma declaração — o namorado da minha melhor amiga adota uma careta — Uma declaração melosa pra caralho.    

Brandon joga o bilhete sobre a mesa como se fosse só mais um guardanapo e por mais que parte de mim mesma tente com todas as forças não reagir ao papel jogado de qualquer forma, outra, uma parte mais boba se inclina e pega o bilhete o dobrando com cuidado. Nunca entendi o porquê das pessoas repugnarem o amor como se fosse o sentimento que machucasse uns aos outros e não elas próprias. Ligar as palavras de Sebastian ao amor me faz parar por um segundo. Tudo isso que já vivemos até agora, todas as discussões e risadas, poderia ser considerado amor?

— Melosa ou não essas palavras vieram de quem estou pensando? — Ash aproxima suas sobrancelhas.

— Se estiver pensando em Sebastian; sim.

— Vocês estavam namorando de verdade, então? Estou confusa — depois de tanto tempo associando Sebastian ao meu namorado é estranho responder qualquer outra coisa.

— Não sei, ou melhor sei sim, não estávamos.

— Sebastian, o seu colega de quarto? — até Brandon soa desacreditado e ele mal sabe de tudo que já rolou entre Sebastian e eu.

— Por que ele escreveria uma carta assim e te mandaria embora? — tudo que penso no momento é nessa sua pergunta, antes mesmo de Ash a pronunciar. Na droga de uma pergunta que não consigo pensar em qualquer coisa que possa respondê-la exatamente, porque é difícil se resumir um livro de mil páginas em uma só palavra.

— Não sei — resmungo, ainda tentando encontrar uma resposta para sua pergunta assim como sei que Ash também está, mas isso é um pouco mais complicado e diferente de uma conta matemática que sempre ajudamos uma a outra a achar o resultado. Dessa vez, os equivalentes não tem nomes de número e sim de alguém, tão confuso quanto.

— O que é isso? — Brandon questiona apontando com o queixo na direção do pacote e só então Ash parece notar a embalagem com meu nome.

— Não faço ideia — sussurro e guardo o bilhete no bolso da calça, pegando o pacote — Acho que é um presente.

— Dele? — Ash questiona assumindo um semblante curioso.

— De quem mais seria? — começo a desembrulhar o papel pardo e assim que a ponta do presente surge sinto minha garganta secar.

— Ele te deu um livro? Que idiota, compartilha o quarto contigo e nem sabe que você já é cheia deles — ignoro o que Brandon pronuncia entre risadas forçadas e termino de desembrulhar o livro.