9.

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O dia da viagem chega e dizer que consegui organizar tudo como queria seria uma tremenda mentira, principalmente porque Sebastian decide sumir o dia todo, dando o ar da graça só perto das 8pm, entrando no quarto completamente encharcado da chuva que não para de cair lá fora, comprovando minha teoria dele ter ficado fora do campus o dia todo só para não ter que me aguentar organizando a nossa saída. Ter essa certeza me faz rir sem humor, e isso atrai a sua atenção para mim.

— Por que você não está pronta? — sua pergunta soa mais séria que o aceitável.

— Ah você quer saber o por que não estou pronta? — não deixo de lado a ironia da situação, enquanto me sento na cama e Sebastian aproxima suas sobrancelhas, caminhando até a mesa do seu lado do quarto.

— Foi isso que perguntei, ou pretende ir de pijama? — seu resmungar me irrita, tanto pela sua capacidade de acreditar mesmo que eu sou a errada da história, quanto pelo fato dele não estar me olhando enquanto fala.

Sem querer continuar falando com as suas costas, me levanto ignorando os rangidos da cama velha e caminho até parar ao seu lado.

— Primeiro você some só para não cumprir com a sua parte do acordo que fizemos, onde eu iria planejar nossa saída, depois chega só agora e quer achar que eu sou a errada? — apesar de querer encarar o seu rosto; meu olhar acaba caindo no que suas mãos estavam fazendo.

Sebastian continua fingindo que não estou falando nada e abre mais uma embalagem dos novos itens que sei que pertencem ao seu armazém de tatuagens, por já ter visto ele usando outros iguais a esses que ele está desembrulhando.

— Precisei sair, exemplo — Sebastian para de desempacotar as coisas e desvia sua atenção para mim — Acredite eu amaria escutar suas ordens bobas sobre como dobrar uma cueca para caber na mochila, mas não foi uma escolha minha, soube hoje de manhã que só conseguiria estar na competição se tivesse várias coisas novas, até uma agulha que nunca usei antes e mesmo que tivesse sido; a sua única alternativa foi continuar deitada de pijama? — Sebastian questiona e cai seu olhar no pijama rosa claro que estou usando.

— Caber dentro da mala, não mochila — reprimo o "idiota" que quase escapa involuntariamente da minha boca e reviro os olhos — Mas essa não é a questão, porquê... — tento voltar ao detalhe dele mesmo tendo um "porque" ainda assim me deixou aqui sem saber de nada, mas sou interrompida.

— Na verdade essa é uma questão sim, porque você disse; mala? — a careta que surge no seu rosto, como se ele não soubesse o que é uma mala me faz rir com o nariz sentindo a irritação crescer.

— É, ou espera que tudo que vamos precisar para passar 14 dias vai caber dentro de uma mochila?

— Você não precisa e nem vai conseguir levar uma mala, exemplo — Sebastian avisa.

— Por que raios não vou conseguir? — o questiono e o observo adotar um dos seus sorrisos diabólicos, se virando de frente para mim.

Juro que se ele disser qualquer coisa relacionada ao não querer ou não deixar que eu leve a droga de uma mala no seu carro, simplesmente porque é o seu carro; desisto de acompanhá-lo e aceito meu fim. Sebastian leva sua mão na direção ao meu rosto, colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha e por mais que eu não queira que ele faça isso; não me afasto, apenas continuo olhando dentro dos seus olhos.

— Porque vai ser extremamente difícil e chato levar uma mala em uma moto.

Moto. Nunca pensei que Sebastian pudesse ter uma moto ao invés de um carro, como qualquer outro cara no campus tem e exibe, justamente porque ter um carro é um dos requisitos que se é preciso para conseguir atrair o máximo de garotas que conseguir. Afinal, sexo em cima de uma moto não deve ser confortável. E talvez tenha sido a careta que adoto que deixa transparecer o que pensei, ou Sebastian tem algum tipo de terceiro sentido foda, conforme deixa de sorrir notando minha oposição clara ao que ele disse. Se fosse para apostar em uma das duas possibilidades, queria muito que a segunda fosse a certa. No entanto, ainda vivemos no mundo onde coelhos não entregam ovos de chocolates, o que significa que não consegui esconder minha oposição ao meio de transporte qual ele pensa que vamos.

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