18.

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Devoro — a contragosto — os mini donuts que Sebastian trouxe para o nosso café da manhã e meu estômago agradece na primeira mordida, por já ser 10am e desde da noite passada ele não ter visto mais comida. Ainda com raiva de como Sebastian inverteu completamente a situação de antes, só para não sair como perdedor; penso na última frase que ele disse. Algo sobre como qualquer outra garota não teria pensado duas vezes antes de beijá-lo, e essa sua certeza de que nunca rolaria nenhum beijo entre nós me irrita. Tanto por ele fingir que não aproveitaria caso isso acontecesse, quanto por conta de agora uma parte mais implicante de mim mesma querer provar que ele ficaria tão "encantado" comigo, quanto qualquer outra garota fica consigo, mas isso é um desejo idiota e impensado, porque sei que as chances disso acabar dando errado para o meu lado da história são desproporcionalmente maiores que a dele. Levo o último pedaço do doce em forma de rosquinha, até a boca, no mesmo segundo que Sebastian termina de organizar suas coisas.

— Estou pronto, podemos ir? — ele fecha a mochila e coloca a alça em um dos ombros, enquanto meus olhos caem no último donuts dentro do saco.

Não o questiono se ele iria comer o último doce restante, nem se ele já havia tomado café da manhã, porque não sou sua mãe para fazer essas perguntas, apenas concordo com a cabeça em uma resposta a sua pergunta e capturo o donut, o seguindo em direção à saída do quarto. Assim que cruzo a porta, levo o donuts até os lábios, tentando ignorar a forma que Sebastian está me observando, como se eu fosse algum tipo de bicho de sete cabeças.

— O que foi? — o questiono com as bochechas cheias, aproximando as sobrancelhas, antes de começar a descer as escadas.

— Você comeu 5 donuts inteiros — ele me acusa de algo que claramente fiz, descendo os degraus logo atrás de mim.

— Pra começar não foram 5 donuts inteiros, foram 5 mini donuts, dois desses mal se transformam em um normal — o olho sobre os ombros justificando minha fome, agora de boca vazia — E você não comeu porque não quis — não foi como se eu não tivesse deixado para si, porém quanto mais Sebastian enrolava checando cada um dos utensílios de tatuagem que ele separou, mais os donuts esfriavam.

— Ou porque não sobrou — paro de descer a escada assim que escuto sua resposta e me viro de frente para Sebastian.

— Todo seu — o estendo o donut parcialmente comido e Sebastian ri com o nariz, mantendo seus olhos fixos nos meus.

— Talvez eu esteja com fome de outra coisa — lentamente, seus olhos deixam os meus e caem até o decote do vestido que estou usando. E se eu disser que não percebi seu Pomo de Adão subir e descer em um engolir no seco; estarei mentindo.

Não deveria, inferno não deveria mesmo, mas sinto instantaneamente meu corpo aquecer, em um disparar de arrepios que vibra em todos os pontos possíveis e imagináveis, influenciado em parte pela sua ótima escolha de palavras e em parte por Sebastian ser bom o suficiente para fazer parecer que a forma que ele está me observando agora pareça mesmo que está com fome. De mim. Pensar nisso, nessa possibilidade boba dele estar falando a verdade faz uma parte mais irracional minha comemorar tão alegremente que chego a umedecer os lábios, buscando qualquer coisa que eu pudesse devolver pra si. Qualquer provocação. Mas pensar é algo extremamente difícil com seus olhos fixos em mim. 

— Ah legal... — pisco recuperando a razão — Só pra deixar claro; se isso era para tentar me deixar com tesão, lamento informar que não funcionou — sussurro como se estivéssemos trocando segredos e minto  tentando sair dessa conversa — Melhor se contentar com o donuts.

— Você é boa em muitas coisas, exemplo — Sebastian desce outro degrau encurtando a distância entre nós e de repente as paredes da escada parecem mais estreitas — Mas mentir não é uma delas.

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