22.

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Ash deveria ganhar algum prêmio por saber convencer qualquer um a qualquer coisa. Até mesmo eu a não desistir desses 13 dias restantes. Como ela disse mesmo? Ah sim; "14 mil cobre qualquer percalço e uma noite inteira de sono também". E no final ela estava coberta de razão. Só porque acabou acontecendo aquilo, não significa que aquele erro tem que voltar a acontecer. Para falar a verdade, foi bom escutar como Sebastian consegue ser um babaca, para me lembrar de quem ele realmente é. Depois de reorganizar todos os meus pensamentos, me levanto da mesa com o copo de chá, fazendo menção de sair da lanchonete, mas no segundo que me viro, esbarro em algo. Ou melhor, em alguém. Pisco algumas vezes caindo olhar na mancha escura que pinta o tecido do seu moletom claro. Estou prestes a pedir desculpas, quando escuto a sua risada e reconheço seu timbre de voz.

— Acho que consegui o meu objetivo — Zach pronuncia entre as risadas, enquanto devolvo o copo para a mesa e pego alguns guardanapos, me voltando de frente para si.

— Não vi você ai — resmungo deixando de lado a parte do; "colado em mim" e passo os papéis na região do seu abdômen, que acabou sendo manchado com o chá.

— Está tudo bem, Quincie — subo meus olhos até encontrar com os seus, buscando pelo mesmo formigar que dominou meu corpo quando escutei Sebastian pronunciando meu nome, mas não chego a encontrá-lo na voz de Zach e isso me aborrece um pouco — Acho que na verdade você ter derrubado seu chá em mim vai me ajudar na sua resposta.

— Minha resposta? — aproximo pouca coisa minhas sobrancelhas sem esconder minha confusão.

— Sim, já que agora que você infelizmente perdeu a sua bebida, aceitaria tomar alguma outra coisa comigo? — sua voz se modifica um pouco indicando o quanto ele realmente "sente" por ter estragado meu chá.

— Então está dizendo que foi proposital? — ergo uma das minhas sobrancelhas e Zach sorri, um sorriso fofo, totalmente contrário ao sorriso que  Sebastian sempre exibe.

— Isso foi um sim? — ele retira seu moletom sujo e tento não focar em como sua camisa branca não deixa muito do seu corpo para imaginação.

— Foi um não sei — o respondo tentando não sorrir, por achar sua animação em tomar um simples chá; engraçada.

— Vamos! Aposto que Sebastian nem vai perceber se eu te roubar um pouquinho — Zach insiste e lembrar que tanto para ele, quanto para o restante das pessoas aqui ainda sou alguém diretamente ligado a Sebastian; faz com que a pouca alegria que havia surgido desapareça num piscar de olhos — 15 minutos, é tudo que peço.

— Ok — pensando em como Sebastian demonstrou não ter gostado nem um pouquinho de quando escolhi ficar com Zach; aceito o convite e tenho a sensação de ter visto uma sombra estranha cintilar no sorriso de Zach, antes dele me contornar e puxar a cadeira da mesa para que eu me sentasse. Sorrindo sem revelar meus dentes me sento agradecendo seu cavalheirismo.

*

— Então pensei; por que não fazer os meus traços serem únicos, melhores do que aquele que todo mundo ama? — escuto sua pergunta e forço um sorriso concordando com a cabeça, mesmo que não ache que seus traços sejam assim tão únicos, porque apesar de serem diferentes, não são os primeiros daquele jeito e no fim acho que foi isso que Zach quis dizer, mas acabou se expressando mal — E você? O que você faz que te deixa animada? — Zach questiona e estende a mão sobre a mesa, tocando na minha, que estava distraidamente solta ao lado do meu copo.

Desde que recebi meu segundo chá de pêssego, basicamente só o escutei falar, respondendo de vez em quando com frases monossilábicas. É estranho, porque desde que entrei em Uepplen nunca mais saí com nenhum cara e não tenho certeza se deixá-lo falando e falando é algo bom ou não. Entretanto, analisando a sua pergunta agora decido que ele ter monopolizado a conversa não foi algo de todo mal, até porque não sei se tive muitos acontecimentos interessantes para compartilhar nesses últimos meses, a não ser claro, ter entrado em uma das universidades mais concorridas e ter tido meu sonho transformado em um pesadelo por ter o azar de cair no mesmo quarto que Sebastian. Internamente reviro os olhos, porque tinha prometido a mim mesma que não tocaria no seu nome até o fim desse... Encontro. Pensar nessa última palavra me faz querer adotar uma careta. Não é como se eu não pudesse fazer isso, quer dizer, na teoria, não devo nada a Sebastian, mas dar qualquer furo com Zach significaria arriscar o que estamos tentando fazer todo mundo acreditar. Respirando fundo e movida apenas pelo propósito de receber a minha parte do acordo com Sebastian; afasto minha mão da sua, o enviando outro dos meus sorrisos não reais.

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