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Todas as pessoas presentes nessa festa se amontoam ao redor de um círculo, esperando pela grande novidade de Rony. A qual suspeito que não passe de uma brincadeira, muito provavelmente sem graça. Agora, com todo o pessoal reunido, é inevitável não sentir o cheiro da fusão de tabaco, com álcool e perfumes fortes que cada pessoa à nossa volta consegue transmitir. Depois que nos afastamos do bar, fui obrigada a pegar na mão de Sebastian que estava envolta do meu corpo, por não estar mais tão confortavelmente com a forma estranha que seu simples aperto estava fazendo meu corpo arrepiar, por não aceitar que até uma parte — mesmo que minúscula — minha também seja totalmente atraída pelo cara que todas sonham. Menos eu. Um cara com sobrancelhas raspadas e piercings por todo lado grita para andarem logo com isso e nunca pensei que fosse concordar com alguém como ele, mas apoio totalmente o seu pedido.

— Aposto 10 dólares que é uma moto — levo apenas alguns instantes para entender que Sebastian estava falando comigo e não com qualquer outro dos seus amigos estranhos.

— Não faço apostas com dinheiro, Carter... — resmungo deixando claro que não estava nem aí se debaixo daquela lona estivesse o próprio presidente, não tenho tanto dinheiro assim para apostas desnecessárias —  Mas se fossemos mesmo apostar — analiso mais uma vez a forma que a lona escura está cobrindo — Apostaria o meu 'sim' de volta que aquilo não é uma moto, mas sim uma máquina.

— Ainda naquilo do 'sim'? — sua pergunta surge acompanhada de um dos seus sorrisos de uma covinha só.

— Não pense que não sei que você está esperando o momento certo para cobrar o meu 'sim', Carter — espremo os olhos — E então, temos uma aposta? — apesar de ter o questionado, no mesmo segundo a voz de Rony surge saindo das caixas de som espalhadas por todo o lugar; Sebastian acaba balançando a cabeça em um sinal claro que não havia conseguido me escutar.

Ele se aproxima, ficando parcialmente atrás de mim e se inclina um pouco, para deixar seu rosto perigosamente mais próximo do meu. Tentando ignorar o fato do seu perfume forte se sobressair a fusão de cheiros de antes; me concentro em repetir a pergunta, tentando transmitir uma confiança fajuta.

— Especifique, uma máquina do que? — ao nosso redor o pessoal começa a fazer barulho com algo que Rony diz, mas que não chego a escutar, porque no momento só consigo sentir, escutar e observar Sebastian invadindo com facilidade uma área qual até a algumas horas atrás ele era extremamente proibido — Porque "uma máquina" é muito amplo — seu acréscimo sussurrado contra minha orelha acaba me fazendo fechar os olhos.

— De tatuagens —  sussurro de volta a primeira coisa que me vem a cabeça e mesmo que ao nosso redor todos ainda estejam fazendo muito barulho; a forma como Sebastian está praticamente colado em mim possibilita que ele escute a minha resposta e abra um sorriso.

— Apostado, amor — sua resposta por mais que eu não queira; descompassa meus pensamentos e acabo puxando o ar de uma forma discreta no segundo que seu braço chato volta a me envolver, fazendo meu corpo efetuar uma passo para trás até se chocar contra o seu — Só que se eu estiver certo, você vai estar me devendo outro sim.

— E era eu quem ainda estava naquilo do 'sim', não é? — usando o restinho de autocontrole que ainda tenho, viro meu rosto, para observá-lo sobre os ombros e me arrependo totalmente assim que fito seu sorriso perfeito e convidativo assim de pertinho — Vamos Carter, aposto que tem coisas mais interessantes do que o meu sim — tento usar do seu próprio veneno, pressionando meu corpo ainda mais contra o seu em todos os pontos possíveis e não posso dizer que não gostei da forma que seu pomo de Adão sobe e desce em um engolir a seco.

— Não se esqueça, exemplo — Sebastian fecha os olhos por uma fração de segundos, antes de abri-los e começar a aplicar uma caricia com seu polegar na minha cintura — Que nesse jogo eu tenho todas as cartas — seu nariz raspa na minha bochecha e tenho que me esforçar para continuar fingindo que esse seu gesto não desencadeou arrepios instantâneos.

— Ou talvez você só esteja... Blefando — apesar de conseguir não demonstrar fisicamente o quanto uma parte irracional de mim mesma se afetou com essa sua "demonstração de afeto", minha voz treme assim que seu toque começa a escorregar.

— Você tem razão, exemplo — respiro fundo sentindo seu hálito quente contra minha orelha — Tem coisas muito mais interessantes do que o seu sim — acabo caindo olhar na sua mão que continua escorregando no meu corpo, não se distraindo entre minhas as pernas como podia jurar que ele faria — Mas não quero essas coisas em apostas — solto o ar com força sem ligar mais em fingir não estar sentindo cada ponto que sua mão passa arder em um pedido que não o reconheço como meu, mas sim de uma parte mais boba minha.

— E você acha mesmo que vai consegui-las sem ser em uma aposta? — não o deixo ficar com a última palavra, conseguindo recuperar meu autocontrole — Que presunçoso da sua parte — viro meu rosto, tentando não dar atenção ao seu sorriso.

— Não acho, exemplo sei que vou ouvir você pedir — Sebastian me desafia a recuar aproximando seu rosto do meu, mas não me movo e isso faz com que eu sinta o ar que escapa dos seus lábios nos meus.

— Presunçoso — sussurro, sem ter certeza de que ele iria me escutar por conta das vozes ao nosso redor se transformando em gritos eufóricos por algum motivo e por mais que elas soem altas, não consigo entender uma palavra sequer, porque no momento só consigo processar o quanto sua mão estacionando na parte de dentro da minha coxa; me convida a afastá-las, mas continuo no papel de "namorada" olhando dentro dos seus olhos.

Continuamos assim, sustentando o olhar um do outro até Sebastian apertar minha coxa e meu corpo inteiro se acender, como malditas luzes de natal. Meu olhar acaba caindo no ponto do meu corpo que estava conhecendo o calor do seu e ter a visão da mão de Sebastian entre minhas pernas, tão em casa, como se fizesse aquilo sempre me faz travar o maxilar. Leva apenas dois segundos antes dos seus dedos começarem a se mover novamente, mas dessa vez recupero o restante da sanidade que ainda tenho; e seguro na manga da sua jaqueta, afastando sua mão antes que ele pudesse me tocar em um ponto que não sei ao certo se teria controle para mandá-lo parar. Volto a olhá-lo sobre os ombros e Sebastian me surpreende quando ao invés de um dos seus semblantes sérios; adota um sorriso e quebra todo o ar que estava nos rodeando, depositando um beijo na ponta do meu nariz.

— Parece que nós dois perdemos — escuto sua voz, mas não entendo o que ele diz logo de cara, na verdade até se perguntassem meu nome agora levaria mais tempo que o aceitável para responder, porquê mais difícil que controlar todo centímetro meu para ficar longe do de Sebastian; é afastar toda a confusão que ele consegue construir na cabeça de qualquer garota, com cada toque ou sorriso seu.

Só percebo que Sebastian estava falando sobre a grande revelação de Rony, quando desvio meu olhar para a máquina que antes a lona escondia, aproximando as sobrancelhas. Um touro mecânico. Sem acreditar, corro olhar no pessoal ao nosso redor gritando e derrubando metade das suas bebidas, por estarem comemorando. Essa agitação toda por conta de um brinquedo... O que estou fazendo aqui?

— Quem quer ser o primeiro a montar? — Rony questiona animado demais, naquele nível que parece estamos um pouco além do alterados.

Um urro em unissom de voluntários acontece e mais pessoas começam a vir para a frente do círculo onde estávamos, me espremendo contra Sebastian. Em um piscar não estou mais na parte da frente e ao nosso redor um muro de costas, braços e ombros gigantes se constroem. E mesmo em meio a essa loucura, escuto a sua risada contra minha nuca.

— Relaxa, exemplo aqui ninguém morde — Sebastian envolve um braço ao redor da minha cintura e sussurra na intenção de me acalmar, ou algo assim — Só se você pedir — sua voz decai ainda mais e me faz respirar fundo no instante que seus lábios raspam num ponto próximo a minha orelha.

— É exatamente por isso que preciso estar em longe — chego a sussurrar, mas meu ponto acaba saindo mais como um suspiro, que uma resposta, conforme minhas costas encontram com o seu tórax.

Talvez Sebastian Carter tenha mesmo todas as cartas do baralho e quem esteja blefando achando que consegue mesmo fugir; sou eu.

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