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Apesar de jurar que Sebastian tocaria no assunto novamente, ele não diz mais nada a respeito da proposta à qual estou inserida durante os dois dias seguintes e mesmo que hoje seja quinta — um dia antes do que partiríamos — ele não me dirigiu uma palavra quando acordei irritada com o barulho da sua máquina. O que além de brava, me deixa um pouco nervosa, porque geralmente gosto de ter tudo planejado nos mínimos detalhes, como hora de partida, chegada, quais coisas devemos e não devemos levar... Até agora ainda estou me perguntando se ele já fez o check-in em algum hotel lá perto de onde acontecerá o evento. Mas para mim não faz sentido demonstrar preocupação se ele está agindo como se nem fizesse ideia de todas essas coisas. Esfrego os olhos para afastar o sono, sabendo que me levantei — novamente — cedo demais, por conta daquela sua maquininha desgraçada e tento manter meu corpo acordado. Calma, Quincie só mais alguns dias e então você terá um quarto só seu, meus pensamentos alegram um pouquinho meu dia, conforme chego no prédio de administração e me dirijo até a recepcionista, retirando do bolso o panfleto qual anunciava a vaga para estágio em odontologia, perguntando como eu conseguiria me candidatar para a vaga. A moça do outro lado do balcão — que pela forma que estava começando a desenrolar seu cachecol agora e seu computador desligado; havia acabado de chegar — me questiona se cai da cama, me fazendo adotar um sorriso totalmente forçado antes de respondê-la com um; "Você não faz ideia". Cair da cama; não. Ser arrancada a força dela; talvez. Depois de esperar a moça se organizar, a entrego algumas informações minhas para candidatura e anoto o número e e-mail qual posso entrar em contato direto com a clínica, para reforçar meu interesse. A agradeço e chego a olhar na direção qual ficava o pessoal responsável pela administração dos dormitórios, os mesmos que se tivermos qualquer desentendimento que não consegue ser resolvido com diálogo devemos, na teoria, procura-los. A moça nota onde minha atenção estava e questiona se eu precisava de ajuda com mais alguma coisa, o que me faz voltar a olhá-la e sorrir forçadamente balançando a cabeça em negação. Levanto o papel que anotei as informações e a agradeço, antes de sair do prédio. Só mais alguns dias... Preciso aguentar isso só por mais alguns dias.

*

— Formem duplas — o professor me faz choramingar internamente — Uma rodada um da dupla será o paciente e na outra o dentista — não gosto de trabalhos em duplas, ou grupos, simplesmente porque gosto de organizar tudo, não tenho paciência para aturar outras pessoas e suas opiniões desestruturadas, fora que a maioria das vezes, as duplas que acabo caindo sequer fazem algo e no fim acabam ganhando nota pelo meu esforço.

Levanto a mão, justamente na intenção de perguntar ao professor se pode existir uma dupla de apenas um integrante, mas assim que seus olhos atrás do óculos grossos estacionam nos meus; sei que vou receber uma negação.

— É indispensável a participação de outra pessoa nessa atividade, senhorita Wyne — escuto sua resposta sem sequer ter pronunciado a pergunta e o observo pegar uma pilha de folhas, antes de começar a caminhar em direção à saída da sala. Que saco.

Todos os alunos se levantam, enquanto tento buscar energia para isso. Seguro minha mochila cheia com alguns materiais que usaremos nessa aula e começo a seguir o fluxo de pessoas, caminhando em direção ao laboratório. Me julgo internamente por não estar tão feliz quanto os demais estudantes e só deixo de pensar em o quão produtiva eu poderia estar nesse exato segundo se não tivesse tido minhas duas horas de sono roubadas; quando percebo alguém se colocar ao meu lado.

— Onde está seu ânimo, exemplo? É dia de laboratório — Sebastian, como se fosse algum tipo de robô gostoso sorri sem parecer ter sido afetado por ter acordado antes da droga do sol.

— Está no meu rabo — resmungo e me concentro em subir degrau após degrau da escada que parece infinita, seguindo o restante do pessoal para fora da sala.

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