13.

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Dica número 1, caso você acabe concordando com qualquer coisa que seu arqui-inimigo venha propor; estude o campo antes. Todas as vias e desvios que possam te ferrar, cada minúsculo pedacinho do mapa. Ainda estou xingando Sebastian mentalmente, conforme distribuo falsos sorrisos e alguns acenos com a cabeça como se eu estivesse mesmo por dentro do que o pessoal está falando. Consegui ficar sozinha com Sebastian no bar só mais alguns instantes antes de começar a surgir pilhas de amigos seus, de todos os tipos e tamanhos. Nenhum se aproximava só para um rápido cumprimento e ia embora, pelo contrário, todos estão se aglomerando aqui na bancada e o barman sequer parece se importar com isso. Sebastian solta uma risada de algo que um dos seus amigos diz e retira seu braço que estava apoiado distraidamente na minha cintura, para pegar outra garrafa de cerveja do balcão. Aproveito a oportunidade para me afastar pouca coisa de si, porque apesar de só ter bebido aquele seu drink e uma cerveja, estou sentindo cada toque seu mais quente que o habitual. 

— Aceita? — Sebastian aproxima seu rosto da minha orelha e questiona, me oferecendo a cerveja.

Balanço a cabeça para recusar sua oferta e isso é o suficiente para ele entender que não estou mais tão feliz e otimista, quanto estava antes de descobrir que as chances dele vencer o concurso caíram em 15%.

— Se você quiser me dar na boca eu aceito — Lily? Lesley? Sinceramente não faço ideia de qual seja o seu nome, se oferece e estende a mão sobre a bancada até Sebastian, o enviando um sorriso cheio de segundas intenções.

Escutar essa sua frase é o suficiente para me fazer adotar uma careta, me levantando. Resmungo apenas para Sebastian que estava indo ao banheiro e ele acena com a cabeça, antes de levar a cerveja até os lábios. Peço licença para alguns caras que estavam trancando a passagem e o detalhe de que quanto mais me afasto do bar, mais a música sem letra só batidas fica mais baixa é o suficiente para me fazer fechar os olhos por alguns instantes. Encontro o banheiro feminino e de alguma maneira não me surpreendo quando vejo o espelho principal rachado. É, definitivamente não sei o que estou fazendo aqui.

Dentro da cabine, escuto vozes surgirem e não demoro nada para identificar Claire entre elas, porquê sua voz está mesmo arrastada demais. 

— Ela sumiu, vocês perceberam? — uma voz desconhecida questiona e ainda que soe como presunçoso, sei que elas estão falando de mim sem que elas sequer toquem no meu nome, porque é sempre assim... Onde Sebastian aparece, ele é comentado e se você está com ele, então você também vai ser o centro de alguma conversa.

— Deve ter ido ler a droga de um dicionário — identifico a voz de Claire e a raiva presente na sua voz me diz que talvez ela realmente tenha me escutado naquela hora que a corrigi, o que é de qualquer forma algo bom, porque agora ela não vai mais confundir adjetivos com sinônimos.

— Fala sério, ela não combina nem um pouco com ele — uma terceira voz se pronuncia e faz com que um suspirar audível soe.

— Não é estranho eles não terem se beijado ainda? Tipo, já se passou mais de 1 hora que eles chegaram e nem um selinho! — demoro alguns instantes para perceber que quem estava falando agora era Lily/Lesley — Querem saber? Acho que vou tentar algo, ele namorando ou não — uma risada fina demais deixa a sua garganta — Aliás, aposto que essa não será a primeira vez.

Automaticamente minhas sobrancelhas se aproximam, sem deixar de encarar meus pés.

— Boa sorte, Lindsey — Claire ri e se pronuncia na sua forma arrastada pelo álcool — Acredite em mim, Sebastian pode ser bem seletivo.

Seletivo? Não, Sebastian pode ser muitas coisas, mas seletivo não, até porque sei muito bem que tendo lábios, peitos e bunda para apertar ele está mais que aproveitando a oportunidade e até hoje nunca o vi dando um fora em nenhuma garota. Na verdade, só uma vez, quando a garota quis pagar as suas tatuagens com... Favores e Sebastian acabou recusando sua oferta, mas sei que ele não recusou porque não achou a garota atraente ou algo do tipo.

— Não viu os olhares que ele estava me enviando? Ele está com fome, Claire e eu sou uma ótima entrada — uma maré de risadas ecoam, enquanto por outro lado adoto uma careta.

Depois das gargalhadas, elas iniciam uma outra conversa paralela, enquanto deixam o banheiro, me fazendo voltar a respirar normalmente. Fecho os olhos encostando a testa na porta da cabine e só percebo o que estou fazendo quando a última frase de Lindsey se repete na minha cabeça; "Ele está com fome, e eu sou uma ótima entrada". Me xingo mentalmente, me ajeitando com pressa ainda dentro da cabine apertada, porque se quero que Sebastian tenha mesmo alguma chance de vencer esse concurso; isso significa que vou precisar fazer o que era para estar fazendo nesse segundo. Significa que vou precisar não só manter as distrações como Lindsay longe, como também vou precisar arrumar algum meio para fazê-lo treinar os desenhos com a maldita agulha M2. Depois de lavar as mãos e não encontrar com nenhum papel toalha para secá-las, as enxugo na calça e deixo o banheiro com pressa. Esbarro em algumas pessoas no caminho, pedindo desculpas por estar tentando olhar na direção de Sebastian e não posso dizer que não fico surpresa quando consigo acha-lo, fingindo ter mais interesse na garrafa de cerveja entre seus dedos que em Lindsey que está, agora, a sua frente rindo. Por alguma razão, minha atenção cai na mão de Lindsey que pousa sem remorso algum na coxa de Sebastian, iniciando uma carícia. Como se isso fosse demais para suportar; o observo transferir seus olhos para a garota, conforme Lindsey adota um sorriso quase que vitorioso, aproveitando a abertura para se aproximar ainda mais de Sebastian. Respiro fundo, ignorando o incomodo nem um pouco pequeno que está crescendo e tomando forma dentro de mim por observá-los assim, antes de me aproximar dos dois.

— Amor? — não me dou o trabalho de fingir estar espumando de raiva por ciúmes deles, mesmo sabendo que se fosse qualquer outra garota do mundo no meu lugar, sua reação seria muito pior, porém como sei quem Sebastian é e o quanto ele vale, só pronuncio a palavra que meu corpo não gosta de pronunciar.

— Oh! Quincie, você ainda está aqui — Lindsey finge surpresa, dando as costas para Sebastian conforme se afastava tão pouca coisa dele e se eu disser que não percebi a forma como o "meu namorado" cai quase que instantaneamente sua atenção na bunda dela estarei mentindo. Tanto que notar essa sua "curiosidade" no ponto específico no corpo dela faz uma raiva surgir na minha garganta sem um porquê plausível.

— Pois é — forço uma risada e passo por si, me sentando sem nenhum aviso prévio no colo de Sebastian — Eu só estava no banheiro — anuncio sem desviar meu olhar do de Lindsey e a forma que ela engole no seco me diz que ela pelo menos é esperta o suficiente para captar o que deixei a entender — Sabe, amor... — me ajeito no seu colo, percebendo só quando viro meu rosto para encontrar com os seus olhos que a sombra alegre desapareceu do rosto de Sebastian, dando lugar a uma mais séria — Ao que parece você está com fome — sem permissão meus olhos acabam caindo nos seus lábios — Isso é verdade? — consigo praticamente sussurrar a pergunta, principalmente porque parte da minha iniciativa se perde e se confunde na reação que ele está tendo, e ainda que eu pudesse jurar que ela não teria escutado, por conta do volume da música; Lindsey escuta minha pergunta e ri de um jeito nervoso.

— Quincie, acho que você não notou que era só uma brincade...

— Desculpa Lindsey, mas estou falando com ele e não com você — não a deixo terminar e essa minha resposta parece aborrecer ainda mais Sebastian, porque o sinto respirar fundo — E então? — insisto sem saber a resposta e consigo fazer com que meus olhos retornem aos seus extremamente próximos.

— Se eu tivesse com fome, exemplo — Sebastian quem cai olhar nos meus lábios dessa vez — Pode apostar, você seria a primeira a perceber — tento levar suas palavras como se eu as escutasse milhares de vezes, todos os dias, ainda que elas consigam soar de alguma maneira atrativas demais. Sinceras demais.

Esse último pensamento, de que Sebastian está sério demais para ser só uma parte da mentira acaba fazendo com que um arrepio percorra meu corpo por inteiro. Antes de uma vontade imensa de rir surja, porque Sebastian? Apaixonado em mim? É mais fácil a chuva começar cair para cima.

— Ei vocês, vamos logo, o Rony tem uma novidade pra mostrar — Claire aparece e acaba cortando o momento.

Juntos soltamos o ar e decido só quando estou me levantando que foi um erro ter me sentado no seu colo. Foi um erro, porque 1) nunca é seguro estar perto demais de Sebastian, 2) porque Sebastian não espera que eu abra espaço para si, ele simplesmente se levanta e fica colado ao meu corpo e 3) porque só quando sinto seu braço como uma serpente me envolver que percebo o quanto estamos nos embolando nesse fio.

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