24.

387 38 2
                                    


É engraçado como até a alguns minutos atrás queria — ainda que uma parte minha fingisse que não — desesperadamente saber mais sobre Sebastian... Sobre quem é Sebastian Carter, mas em nenhum momento pensei que ele guardava mais que egocentrismo entre seus sorrisos diabolicamente perfeitos. Tudo que Zach disse, junto com o que Sebastian acaba de falar me leva a querer fazer tantas perguntas, das quais sei que bem poucas merecem respostas por serem pessoais demais. E agora tudo que quero é voltar no tempo, para quando nada do que acabei de escutar interferia em como olho para Sebastian. Respiro fundo novamente e abro os olhos, sentindo o anel no meu dedo queimar. Ele me deu o anel da sua mãe. Esse pensamento me atinge com mais impacto do que estava esperando, porque por mais que eu não faça ideia de até onde o que Zach falou na lanchonete é verdade, não acho que a parte de como é a relação de Sebastian com seu pai seja algo inventado. Suas últimas quatro palavras são a prova disso. E relembrar delas faz um incômodo surgir embaixo de cada camada que já criei até hoje para me proteger dele, às rasgando como se fossem papel. Antes que tudo aquilo que ele conseguiu desencadear retornasse; me abraço.

— Por que você não tatua estrelas? — pra parar de pensar em como o que Sebastian disse soou tão natural, troco pela vigésima vez de assunto, não questionando primeiro se o que Zach disse era verdade, apenas pergunto o porque, por saber, de alguma forma que Zach não estava mentindo, nem jogando verde nisso também.

— Como sabe que não tatuo estrelas? — Sebastian se vira de volta para mim e aproxima as sobrancelhas, confirmando, mesmo que sem querer que realmente nunca o vi tatuar nenhuma estrela antes.

— Responda a pergunta, Carter — uso as suas palavras contra si próprio e ele respira fundo.

— Foi a primeira coisa que tatuei — depois de alguns instantes Sebastian me responde num sussurro e o jeito que sua voz adota um quê mais sentimental me faz lutar para não demonstrar o quanto isso me afeta. Afinal, isso de fato não deveria me afetar. Pelo menos essa é a ideia.

— O desenho ficou tão feio assim? — tento amenizar a situação a levando para uma brincadeira que não chega de fato a alcançar Sebastian, não completamente.

— Para uma primeira tatuagem ficou muito bom, na verdade — ele não leva a pergunta pro lado pessoal e o tom da sua voz mais leve autoriza meu corpo voltar a bombear oxigênio normalmente, enquanto o observo se sentar no colchão, adotando o seu sorriso que revela só uma das suas covinhas.

— Não sei se entendi muito bem o por que de você não tatuar mais elas — insisto me sentando ao seu lado, porque a algumas noites atrás estávamos deitados nessa cama e eu estava brincando o chamando de namorado, então não acho que só fingir que não estou vendo como ele está afetado resolveria de algo para a competição.

Você só está preocupada mesmo com o desempenho dele nisso? Ou é o que está tentando se convencer? Como sempre ignoro meus pensamentos, mesmo que por mais que exista uma distância significativa entre nossos corpos, não posso dizer que não sinto minha respiração oscilar no segundo que seu perfume me envolve em um tipo de asfixia prazerosa e antinatural.

— Porque eu fiz elas em uma pessoa que só me ferrou, de todas as maneiras — uma sombra de raiva aparece no seu rosto e noto como a veia no seu pescoço por trás da tatuagem do lobo salta um pouco.

Chego a cogitar que tenha sido no seu pai, mas não sei se consigo tocar nesse assunto sem querer socar algo e minha intenção não é alimentar a sua raiva, pelo contrário.

— Ah, sua namorada não gostou delas? — adoto um sorriso fraco, por achar hilário caso meu chute esteja certo; uma garota ter decepcionado o pobre coraçãozinho de Sebastian. Melhor ainda, com uma tatuagem. Seria irônico se não fosse trágico.

Em Cada Traço Onde histórias criam vida. Descubra agora