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Por mais surpresa que ele tenha me deixado, quando não só passou a me "atender" com extremo cuidado, mas também parou com todas aquelas suas brincadeirinhas de duplo sentido, se concentrando no que estava fazendo; não deixei transparecer, por saber o quanto isso iria encher seu ego. Mas confesso, que observar Sebastian, tão de perto adotando o mesmo vinco entre as sobrancelhas que ele sempre adota quando está focado em uma tatuagem, me deixa inquieta. Tanto que em um momento seus olhos deixam de observar meus dentes e se desviam para os meus por um segundo, em uma repreensão silenciosa. Ou talvez uma pergunta...

— Saiba que você fica horrível com a suctora — ele termina sua inspeção e seu comentário me faz revirar os olhos — Acho que é isso — Sebastian retira a suctora da minha boca e abaixa a máscara, apagando a luz presa a cadeira que estou sentada — Parabéns, exemplo seus dentes estão ótimos.

— Eu sei — o respondo afastando a dobradiça da luz e me sento, com as pernas tocando nas suas — Minha vez agora — puxo a ponta aberta do avental pequeno que ele está usando, sem esconder o sorriso empolgado, como se vestir o uniforme fosse de fato me transformar em uma profissional formada.

— Isso mesmo, sorria mais, quero ver o meu trabalho — Sebastian pede e acabo soltando uma risada sincera.

— Admita Carter, você quer é ver o meu sorriso — adotando o mesmo sorriso cafajeste que normalmente ele sempre assume, me permito distrair por um segundo dessa atividade sussurrando, enquanto me inclino até nossos rostos ficarem na mesma reta.

E mesmo que seus olhos escuros sejam a única coisa que os meus estão focados nesse segundo; percebo quando duas duplas esticam suas cabeças para olhar na nossa direção. Cuidado, Quincie esse caminho é perigoso, apesar de sábios; ignoro meus pensamentos e por alguma razão acabo caindo olhar nos lábios bem desenhados de Sebastian, que mesmo sem qualquer um dos seus sorrisinhos diabólicos presentes ainda conseguem ser uma atração e tanto. Subitamente acabo me perguntando se não tivéssemos caído no mesmo quarto e eu não soubesse o quão difícil é Sebastian, daria certo? Dar certo o que exatamente? A pergunta que meu cérebro dispara consegue acionar meu lado racional e aos poucos começo a desfazer o sorriso.

— Acho que agora é a minha vez — sussurro querendo deixar de lado essas brincadeiras e faço menção de me levantar ao mesmo tempo que Sebastian também faz, o que acaba fazendo com que a gente fique muito perto um do outro, colados.

Acho que por hábito, ou reflexo — não sei — sinto sua mão pousar com segurança no centro das minhas costas, como se Sebastian quisesse garantir que meu corpo não fosse cair. Respiro fundo, levantando olhar do seu tórax para encontrar com seus olhos e mesmo que estivesse esperando um dos seus sorrisinhos; Sebastian permanece sério. Sem saber o que fazer, ou dizer; limpo a garganta e desvio de si, colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha. Não suporto essa sensação que toda hora aparece quando estamos muito perto, a qual não sei o que dizer, porque desde pequena sempre soube o que falar, não importasse qual situação fosse. É estranho a forma que sempre estamos brincando entre duas fases, como se funcionássemos em 110 e 220 volts, ora em potência menor e ora na descarga total.

— Pelo menos em você vai fechar — depois do que parece uma eternidade, Sebastian quebra o silêncio e me oferece o jaleco qual estava usando antes. Ou melhor, estava tentando usar, porque classificar aquilo como "usando" seria um eufemismo.

Concordo com a cabeça e faço menção de pegar o tecido branco da sua mão, mas Sebastian o afasta, adotando enfim um dos seus sorrisos diabólicos, que consegue desconstruir todo aquele incômodo que estava sentindo, o substituindo por uma pequena raiva que está constantemente indo e voltando "misteriosamente" sempre ligada a ele. O mesmo sorriso que o classifico como o de número 2, qual tem como legenda; estou-prestes-a-aprontar-algo.

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