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Mesmo não gostando disso, sei que mais atrapalho Sebastian a guardar suas coisas, que realmente o ajudo, principalmente porque toda vez que o entregava algo; ele sempre sorria e ajeitava ou o fio, ou alguma outra coisa boba que — aparentemente — eu não havia arrumado direito. Quando enfim terminamos; pego meu livro do banquinho e acompanho meu colega de quarto em direção à saída. Mesmo estando mais "familiarizada" com o tipo de pessoa que frequenta esse tipo de evento, às vezes ainda me surpreendo — ou; assusto, não sei — com alguns rostos completamente tatuados, como o do cara que acaba de passar pela gente com até mesmo as pálpebras tatuadas. Assim que ultrapassamos a porta de saída do salão que está ocorrendo a competição, percebo como a maioria — senão todas — as pessoas não estão indo em direção aos seus quartos, como geralmente acontece no final do dia, mas sim marchando para a saída do prédio mais animadas que o habitual. Para a festa, claro. Encara-las saindo com alegria me faz lembrar do "convite" de Rony e suas palavras consequentemente me fazem respirar fundo abraçando meu livro contra meu peito.

— Ouvi dizer que vai rolar uma festa — tento puxar assunto e Sebastian ajeita a alça da sua mochila no ombro.

— É a festa de comemoração do Rony por ainda estar na competição — noto a forma indiferente que Sebastian me responde e não consigo chegar a uma conclusão do porquê da sua desanimação, não sozinha pelo menos.

— Você parece estar super animado.

— Na verdade sempre estou animado para uma festa, exemplo — seu tom de voz adota um quê mais animado de fato, o que me leva a receber a resposta da minha dúvida anterior; ele estava agindo daquela forma por saber, sem sequer precisar perguntar; que minha resposta seria no máximo um revirar de olhos — Principalmente se essa festa é fora do campus.

— Algum problema com as festas em Uepplen? — aproximo as sobrancelhas brevemente.

— Nenhum — seu sorriso com uma só covinha surge — Só acho que as festas fora do campus são superiores.

— E com superiores você quer dizer que...?

— Não sei explicar, exemplo foi mal só vivendo pra saber mesmo.

— Ok, estou dentro.

— Espera — uma risada forçada deixa sua garganta, enquanto Sebastian se coloca na minha frente, fazendo com que meus passos se cessem — Você está bem? — sua mão pressiona minha testa, logo em seguida minha bochecha em uma encenação para checar se eu estava mesmo bem e essa sua baboseira me faz revirar os olhos afastando seus dedos.

— Preciso saber o que há de tão superior em festas fora do campus — meus ombros sobem e descem — Fora que está começando a ficar entediante ter que ficar toda noite presa com você naquele quarto.

— Primeiro; se uma garota fica sozinha comigo em um quarto ela nunca fica entediada — Sebastian ressalta e me faz rir —  Segundo, a magia só acontece se você não esperar por ela, se você só se jogar e curtir, sem regras ou restrições.

— Tá legal.

— É sério, quem é você e o que fez com a garota que negaria ir pra uma festa sem sequer ter sido convidada?

— Vamos logo, ou vou perder toda a... Como você disse mesmo? Ah sim; magia — que bobagem.

*

Não trocamos nossas roupas, chegamos a um consenso de que ficar com as peças roxas escandalosas poderia trazer "benefícios" tanto para um, quanto para o outro, principalmente por elas, junto com a aliança serem um meio de afastar investidas não desejadas. E qualquer munição é bem vinda quando estamos em um terreno desconhecido. Deixamos nosso quarto para a festa ainda meio sujos de melado e quando chegamos na sua moto, subo nela primeiro que Sebastian, o que o faz assumir um tipo de sorriso orgulhoso, antes de me provocar com uma insinuação de que o bebê havia finalmente aprendido a andar. Durante o percurso não ligo em apoiar minhas mãos nos músculos do seu abdômen, sequer fico com o pensamento preso em como nossos corpos estão muito mais próximos dessa vez do que normalmente ficavam. E tudo bem que estamos falando de pouquíssimas vezes, mas ainda assim sentir como se nossos corpos estivessem mais à vontade um com o outro agora, ao ponto de praticamente se encaixarem quando estamos em cima da sua moto é o motivo de vários pontos do meu corpo vibrarem. Quando chegamos no local que a festa estava acontecendo; deixo de abraçá-lo e retiro o capacete, erguendo as sobrancelhas assim que vejo o que podia jurar que seria um clubinho fedido, pequeno e sujo, ser na verdade um local com espaço aberto, iluminado com luzes em fios formando riscas de um lado ao outro e algumas decorações baseadas em carros antigos. Meus olhos passeiam por todo lugar ainda surpresa e todo o "encanto" só desaparece quando encontro com Claire e Rony cumprimentando o pessoal que chegava, os entregando cervejas engarrafadas e um drink sem cor.

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