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Consigo chegar à página 68. Uma vitória tremenda, por estar tentando a tarde toda conseguir ler mais que duas frases sem me lembrar da sua resposta e falhar miseravelmente por horas, já que sua voz repetindo aquelas palavras competem em igual com as merdas que Sebastian disse depois que nossos lábios se encontraram pela primeira vez e é justamente esse contraste tão gritante que está me impedindo de me concentrar em qualquer coisa que não seja ele. Admitir isso, mesmo que em pensamentos, me faz fechar os olhos por alguns instantes, porque nunca pensei que em algum momento não iria conseguir tirar Sebastian Carter da cabeça. Na verdade, sempre foi extremamente fácil fingir que ele não existia, isso até concordar em fingir ser a sua namoradinha e tudo sair fora do controle rápido demais. E por mais bobo que possa parecer; tento me convencer de que não é exatamente ele que está me roubando toda e qualquer capacidade lógica, mas sim a forma que seus toques sabem exatamente em quais lugares estarem e o que fazerem.

— Não se mexa, docinho — Sebastian se pronuncia e sem minha autorização; meus olhos deixam pela 26° vez a página do livro que estou lendo, para fitar cada pedacinho concentrado do seu rosto, desde o vinco entre as suas sobrancelhas, até os músculos do seu pescoço tensos, conforme seu pulso movia a maquininha irritante de um lado para o outro na pele da garota que decidiu tatuar um golfinho na coxa.

A garota o responde algo, mas não a dou devida importância, porque minha atenção acaba caindo nos dedos livres da mão de Sebastian na coxa da garota apertando e esticando um pouco a pele da garota.

— Garota número 33 — engulo a força seja lá o que for que começa a surgir e me sufocar, pronunciando no meu melhor tom, que não chega a se afastar muito do tom sarcástico.

— Você ainda está contando? — escuto Sebastian questionar e não preciso olhá-lo para saber que ele está exibindo algum dos seus sorrisos.

— É o que parece? — ironizo mais uma vez e viro a página, mesmo sem tê-la lido, por saber que todos os olhos ao nosso redor devem estar nos observando atentos agora e quero fingir que não estou prestando atenção em onde a mão de Sebastian está, ou melhor; em o porque de repente pareço me importar e muito com isso.

— O que significa "garota numero 33"? — escuto a voz da garota questionar entre entrecortadas risadas forçadas e dessa vez não me importo em desviar meu olhar do livro para Sebastian, esperando assim como ela pela sua resposta.

Meu colega de quarto exibindo seu sorriso número 1 afasta a ponta da maquininha da pele da garota e olha na minha direção, antes de retornar sua atenção para sua "cliente", balançando a cabeça em sinal de negação.

— Significa que minha namorada não sabe contar, porque o número certo seria; 34.

— 33 — rosno e o observo, assim como todo mundo ao nosso redor; umedecer os lábios com a pontinha da sua língua, deixando de focar na tatuagem para fixar seus olhos em mim. De novo.

— 34 — Sebastian pronuncia apenas o número e me faz rir com o nariz.

— Você sabe que é 33.

— O que está acontecendo aqui? A primeira briguinha? — Rony interrompe o momento empurrando algumas pessoas e quando consegue lugar na frente; acerta seu cotovelo em um cara ao seu lado — Por que não me chamou, Bartom? — mesmo estando encarando Rony sem qualquer sombra de alegria em estar o vendo; percebo Sebastian respirar fundo, antes de voltar a traçar o desenho grosso na coxa da garota — Ainda não finalizou, pequeno Carter? — o sorriso idiota deixa os lábios de Rony e ele aproxima suas sobrancelhas grossas encarando Sebastian — Vai dizer que nunca usou uma 5RL também? — essa sua pergunta nada discreta faz com que várias pessoas ao nosso redor comecem a sussurrar entre si, deixando claro que o assunto era Sebastian e o fato dele não ter usado a droga daquela agulha que esqueci o nome.

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