30.

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Posso até ter aceitado participar desse seu planinho medonho e acidentalmente nossas bocas acabaram se chocando dentro dessa mentira, mas nunca, nem mesmo em três vidas, vou aceitar andar por aí de roupas combinando com Sebastian, porque no fundo sei que essa é uma daquelas cenas bobas de todos os livros de romance que já li qual sempre sonhei repetí-la na vida real, com sentimentos reais, não no meio de uma mentira e muito menos com Sebastian. É isso, simplesmente não.

— Por que não? — pela expressão no seu rosto, é totalmente incabível eu não querer vestir roupas combinando consigo, mas não estou nem ai.

— Não vou usar roupas combinando com você.

— Odeia tento assim a cor roxa? — Sebastian questiona e ainda que eu não estivesse observando seu sorriso, saberia que ele está sorrindo só pelo tom da sua voz, porque Sebastian é o tipo de pessoa que consegue deixar transparecer quando está sorrindo apenas no falar.

— Não tenho nada contra ela, o problema está em você mesmo — dou de ombros e abro a torneira novamente, tentando tirar um pouco do melado do meu cabelo.

— Ao que parece temos um dilema então, exemplo — Sebastian como um bom monopolizador de atenção; se coloca ao meu lado e fecha a torneira, estacionando seus olhos com uma sombra de travessura nos meus — Porque você me deve um sim e eu quero ele agora.

Escuto sua jogada e deixo de tentar separar o que restou do melado do meu cabelo e viro meu rosto para Sebastian, passeando meu olhar por cada centímetro seu por alguns segundos.

— 'Sim' para a roupa? — questiono só para ter certeza de que não escutei errado, porque podia apostar todas as minhas fichas que em algum momento ele iria exigir o seu sim para algo com bem mais duplo sentido, insano, sexual e inaceitável, como por exemplo comer um escorpião, ou chupa-lo.

— Isso aí — ele da de ombros e cruza seus braços realçando seus músculos, que admito, conseguem fisgar minha atenção por uma fração de segundo, mas também só isso, nem um segundinho a mais.

— Vai mesmo desperdiçar naquilo? — volto para a conversa e adoto uma careta, apontando para o vestido brega combinando com o moletom e no mesmo segundo Abby aproxima suas sobrancelhinhas finas — Foi mal — a envio meu melhor sorriso e a garota deixa de exibir os trajes fechando seu semblante.

— Sou idiota eu sei, mas não é como se não fosse conseguir outros sims seu.

— Vá sonhando — solto uma risada forçada — Tá legal — olho uma última vez para as peças combinando, logo em seguida volto a sustentar suas íris escuras e umedeço os lábios — Sim — por alguma razão acabo sussurrando a única palavra e mesmo que ela seja tão boba, noto o quanto ela pesa quando é dirigida para Sebastian. Como qualquer outra coisa relacionada a ele.

Meu colega de quarto sem se importar em não se exibir por ter vencido essa partida; assume seu sorriso diabólico, caminhando até Abby. O observo pegar o vestido das mãos da garotinha e se virar para mim sem desviar do meu olhar nem mesmo por um segundo. Sebastian corta o pequeno espaço em poucas passadas com suas pernas enormes e assim que para na minha frente estende a peça pra mim.

— Estou louco pra te ver dentro desse vestido, amor — o cara pronuncia em uma mistura igual de ternura e provocação, antes de me presentear com um beijo no topo da cabeça, que consegue deixar meu corpo todo inquieto pela soma do apelido que ele decide usar e o gesto.

*

Termino de fechar o vestido sozinha e saio do semi contorcionismo que havia entrado justamente para não precisar ter que chamar Sebastian para fechar o maldito zíper pequeno projetado no meio das costas na peça. Meu olhar decai no decote nem um pouco discreto do vestido em formato de V e adoto uma careta tentando ajeitá-lo. O que em poucos segundos percebo ser uma tentativa em vão, já que por mais que eu amasse meus seios, ou puxe o tecido; o decote não fica menos visível ou chamativo. Bufando desisto de ajeitar o vestido na parte da frente e me viro para o espelho. Encaro em silêncio meu reflexo, dentro do vestido brega, com a franja bagunçada e os lábios ainda meio inchados das mordidas que trocamos antes. Não enquadraria essa minha imagem em uma perfeita. Na verdade, sempre estive longe dessa palavra por conta dos meus olhos pequenos, peitos grandes e pernas curtas, mas agora, não sei se desgosto tanto assim da Quincie que estou vendo no espelho. Ela está diferente de alguma forma. Não parece a garota que só lê sobre beijos, mas sim uma que também pratica e droga, meus lábios ainda inchados são a prova do quanto gostei de cada segundo de prática com ele. Não. Pare de pensar em qualquer coisa feita com Sebastian, ele não é o tipo de cara que se deve ver como um passatempo, porque ele nunca está do lado de quem está sendo levado, mas sim do outro, o qual leva a pessoa para uma corrente impossível de nadar. Meus pensamentos me fazem fechar os olhos me amaldiçoando justamente por conta disso. Porque sei que deveria estar mantendo distância de Sebastian, porque deveria ignorar cada uma das suas provocações ou investidas, porque sei o quão perigoso é chegar perto demais dele. E a verdade é que por mais que eu o conheça em todos os seus joguinhos; quero conhecê-lo um pouco mais, além das provocações, porém tenho medo de mergulhar fundo demais em Sebastian e não conseguir voltar à superfície. Ainda que meu corpo não pareça ligar em se afogar. Distraidamente abro os olhos e minha atenção se fixa na aliança na minha mão num constante lembrete de que Sebastian confia em mim. Respirando fundo, passo os dedos da minha outra mão nos detalhes do anel; questionando mentalmente até onde ele confia? Porque tanto no momento em que ele me deu essa joia, quanto a alguns minutos atrás quando admitiu que errou em ter me afastado na primeira vez que nossos lábios se colidiram; Sebastian não parecia estar incerto, ele não parecia se importar em mostrar isso. Sequer parecia ligar para o fato de estar mostrando uma partezinha sua que nunca mostrou para ninguém antes. E é justamente esse impasse que me confunde. Porque Sebastian não deveria confiar em mim, assim como eu não deveria confiar nele.

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