11.

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Pego um pacote de jelly beans coloridas da prateleira e continuo caminhando pelo corredor cheio das mais diversas ofertas de açúcares industrializados que em outra língua deveriam ser chamados de cáries, tártaros, influentes em infecções na gengiva e por último, mas não menos importante; amigo para toda hora. Apesar de saber o quanto o flúor dos nossos dentes é prejudicado por essas pequenas balas coloridas, confesso que sou extremamente rendida às jelly beans desde que consigo me lembrar. Saio do corredor, olhando por volta do estabelecimento a procura de Sebastian e não me surpreendo quando o encontro abrindo um dos freezers de bebida. Reviro os olhos e me dirijo até o caixa, cumprimentando a atendente. Ela passa o pacotinho de bala, enquanto retiro da mochila a minha carteira. 

— Amor? — levo alguns instantes para perceber que a voz que surge pertence a Sebastian e por alguma razão, escutá-lo pronunciando esse apelido cafona para mim faz minha nuca arrepiar — Qual você prefere a de sabor morango ou melancia? — até penso em ignorar a sua pergunta, fingir que não era comigo que ele estava falando, ainda que só tenha nós dois como clientes aqui, apenas pagar as balas e sair... No entanto, o olhar da atendente se desviando para onde sei que Sebastian está, logo em seguida um sorriso surgindo no seu rosto me diz que ele está aprontando algo.

Respirando fundo, deixo a curiosidade tomar o senso comum e me viro para enquadrar Sebastian em frente à um expositor de camisinhas, com um dos seus sorrisos diabólicos. Umedeço os lábios, porque claro que ele estava falando sobre camisinhas e não sobre refrigerante.

— Não se preocupe, amor — entro na sua "brincadeira" pronunciando tão alto quanto ele havia pronunciado antes, mesmo que a última palavra soe arranhada, enquanto volto minha atenção para a atendente — Não tem dessas camisinhas tamanho PP.

Envio meu melhor sorriso para a atendente, como se isso fosse habitual e a estendo o cartão, enquanto ela tenta não rir. Já por outro lado escuto a risada de Sebastian e ainda que parte de mim queira se virar para observar o seu sorriso, continuo com minha atenção na atendente. Depois da cobrança ser feita, pego o cartão e o pacote de jelly beans, saindo da frente do caixa. Sebastian logo coloca suas coisas sobre a bancada e não posso dizer que não analiso as suas compras, porque isso seria mentira, tanto que de um jeito totalmente descarado corro olhar nos itens que ele havia pego. Aproximo de leve as sobrancelhas ao perceber que além do pacote de salgadinho e um fardo pequeno de cerveja, Sebastian também havia pego duas cartelas de remédios e alguns itens de primeiros socorros, como gases e esparadrapos. Ainda em dúvida do que ele iria fazer com tudo aquilo; finjo interesse na cartela de chicletes exposta a minha frente quando Sebastian olha na minha direção. Depois dele pagar suas coisas, o acompanho na direção da saída da loja e assim que chegamos em frente a sua moto no estacionamento, Sebastian pega o único aparelho de proteção se virando de frente para mim. Em silêncio o observo encaixar o capacete na minha cabeça, enquanto pronunciava um; "Gostei do seu tom de voz falando 'amor', exemplo soa quase verdadeiro", com o capacete encaixado na minha cabeça consigo vê-lo por de trás da viseira, caindo olhar nos seus lábios conforme eles se movimentam pronunciando um; "Eu disse que a escolha certa era você" me fazendo puxar o ar.

*

De volta na estrada, não consigo parar de pensar no que ele disse. Como se suas palavras fossem parte de uma música que não sei o nome, nem a letra completa, apenas alguns refrões avulsos que não ajudam em nada. E é estranho sentir qualquer outra coisa por Sebastian, que não seja raiva... Porque apesar de ter certeza que não estou ficando perdidamente apaixonada em si ou na sua lábia, sei que parte de mim está caindo e até mesmo gostando do que quer que seja isso que ele está fazendo. Com tudo isso rodando na minha cabeça em um espiral infinito; sinto o desconforto de apesar das minhas pernas e braços estarem sentindo o vento ao nosso redor, meu rosto não. Soltando o ar com o pensamento que me surge, tão impensado quanto ainda estar próxima de Sebastian se resume; afasto um braço do seu corpo e ignoro o fato dele me olhar sobre os ombros por um instante, como se estivesse garantindo que estou bem, subindo a viseira do capacete. No mesmo segundo o vento chicoteia minhas bochechas e ao invés de sentir um desconforto com a forma que até meus olhos parecem não conseguirem ficar abertos, o ar que respiro deixa de ser o mesmo, se transformando em um diferente. Um que beira o libertador. Sem um porque plausível, adoto um sorriso e volto a abraçá-lo com os dois braços, jogando a cabeça para trás, querendo sentir o máximo possível de vento no rosto, até notar que Sebastian reduz a velocidade, transformando o chicote agressivo do vento em um mais calmo. E de novo, em um gesto imprudente sinto uma das suas mãos segurar na minha, a afastando do seu abdômen até meu braço ficar totalmente estendido no ar. Sebastian repete o mesmo movimento com minha outra mão e quando percebo estou sentada na garupa da sua moto com os braços abertos, sentindo a sensação indescritível que nunca senti antes percorrer por todo meu corpo. A euforia de estar pela primeira vez confiando totalmente num nada vibrante me leva a sorrir mais ainda e consegue se sobrepor completamente ao meu nervosismo de estar em uma moto com Sebastian.

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