Deixo o banheiro ainda cantarolando baixinho a música sobre o nome dos dentes e assim que abro a porta; dou de cara com Sebastian sorrindo.
— Estava cantando uma música sobre os nomes dos nossos dentes? — procuro pela provocação na sua voz, ou rosto, mas não a encontro, apenas um sorriso simples como se ele realmente estivesse surpreso pela minha criatividade, o que me faz apenas observá-lo em silêncio — Gostei do começo, como era mesmo? Ah sim "Incisivos, vos, vos, incisivos centrais, incisivos laterais..." — são três 'vos', representando os três tipos de incisivos, não dois e tenho que usar todo meu autocontrole para não corrigi-lo — Você canta bem, exemplo — Sebastian assume seu sorriso diabólico — Só não sei se já escutei essa música antes, você inventou ou é a minha impressão?
— Você estava me escutando cantar? — ignoro suas perguntas aproximando minhas sobrancelhas e meus dedos apertam a toalha molhada entre eles — Tem noção do quanto isso soa psicopata?
— Tenho certeza que algumas garotas dariam de tudo para escutar que eu estava interessado em ouvi-las cantando por trás de uma porta — ele pontua, apoiando um braço no batente da porta poucos centímetros acima da minha cabeça, quase na mesma posição daquela vez, resumindo o ar ao nosso redor em quase nada, retomando todo seu "eu" egocêntrico e me faz rir sem humor.
— Eu não faço parte desse clubinho — agacho pouquíssima coisa, passando por debaixo do seu braço e caminho em direção à cadeira esquecida no canto do quarto que estou utilizando para estender minha toalha.
— Gosto desse seu pijama, exemplo — ótimo, ele não vai me deixar em paz — Me lembra aquelas, como você disse? Velhinhas sexys — sua brincadeira até consegue colocar um sorriso divertido no meu rosto, mas não o deixo saber que sorri com algo que ele falou — Mas aquele seu de carneirinhos me mata aos poucos, literalmente.
— Bom saber, usarei ele mais vezes quando voltarmos, quem sabe não acelero o processo — pensei que quando vocês estivessem de volta ele não veria mais você com ou sem pijama, ignoro o ponto fortíssimo que meus pensamentos levantam e continuo ignorando o olhar de Sebastian, indo até a minha mochila, retirando de dentro dela o livro com capa preta.
Não que eu estivesse esperando por uma contra partida vinda da sua parte, ok, talvez eu estivesse, como sempre espero quando qualquer conversa entre nós se inicia, principalmente porque Sebastian assim como eu odeia não ser o último a falar, mas não reclamo do seu silêncio, porque é bom não escutar seu retruco idiota pelo menos uma vez. Muito bom na verdade. Me acostumaria fácil. Subo na cama, dobrando as pernas e ainda sem olhar na sua direção; abro o livro, tentando focar nas primeiras páginas da história, ainda que boa parte de mim esteja em querer saber se ele está me observando como estou com a forte impressão de que ele está, ou só está pensando em algo. O tempo parece começar a passar devagar e ainda que só tenha se passado um minuto; estou quase cedendo e olhando na sua direção, quando o escuto se aproximar e automaticamente essa vontade de olhá-lo desaparece. Sebastian se senta no outro lado do colchão, não o que tinha um espaço gigante, mas sim no que mal o comportava e justamente por isso o sinto me empurrar um pouco. Aproximando as sobrancelhas resmungo um; "Ei!", antes dele puxar o livro das minhas mãos, o fechando para checar a capa, sem se importar se estava amassando as páginas ou não.
— Caraval — ele lê o título e parece ponderar sobre ele — Você não estava lendo de Lukas e alguma coisa? — nossos olhos enfim se encontram e por mais que sua pergunta pareça ser uma sem qualquer tipo de brincadeira; a forma como ele pronuncia o nome do livro que estava lendo errado me faz rir com o nariz.
— É De Lukov com Amor — o corrijo, me inclinado para si, na intenção de recuperar meu livro — E já terminei — como até mesmo os astros previam; Sebastian afasta o exemplar do meu alcance e adota o seu sorriso com uma só covinha.

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Em Cada Traço
Storie d'amoreQuincie Wyne não vê a hora de terminar a sua faculdade em odontologia, por um único motivo; voltar a ler e estudar sem a presença do seu detestável colega de quarto, qual sua única missão consiste em tirar o sono, a paz e a tranquilidade dela, atend...