Apesar de parecer estranho, é bom voltar ao "normal". Ao como tudo era antes. Tirando algumas partes, mas ainda assim; ao normal. No entanto, depois de tantos dias dividindo a mesma cama é... diferente, voltar a dormir sozinha. Quase que como se na liberdade faltasse algo. Me viro no colchão barulhento pela vigésima vez e suspiro ainda desconfortável. Não faço ideia em que nível estamos, por isso não posso simplesmente pedir para dormir colada com Sebastian agora que temos nossas devidas camas e além do mais, ele parece já estar dormindo. Discretamente olho na sua direção e o observo com um semblante sereno, confirmando o que já imaginava. Deixo de lado o desapontamento e me viro novamente no colchão, escutando o chiado das molas velhas preencher o quarto.
— Estou tentando dormir, exemplo — sua voz rouca me faz abrir um pequeno sorriso — Deveria tentar também.
— Pessoas dormindo não falam — o provoco e me viro pela última vez no colchão, o centralizando na minha visão.
— Sou sonâmbulo — duas palavras idiotas suas e ele consegue fazer outro sorriso surgir no meu rosto.
— Essa cama é desconfortável — me mexo, como se para comprovar o que estou falando e Sebastian enfim abre seus olhos, os fixando nos meus.
— Sempre foi.
— Parece mais agora — dou de ombros, começando a achar que estou parecendo como uma daquelas garotas que Sebastian atende e fica se esgueirando para cima de si.
— Se quiser vir para a minha cama fique a vontade, só não posso garantir.
— Garantir o que? — sinto minha garganta fechar, entendendo antes mesmo dele me responder as palavras que estão refletindo nos seus olhos.
— Que você vai mesmo dormir.
*
Deveria ter permanecido na minha cama. Ou melhor, deveria ter ao menos tentado dormir a noite inteira, mas não posso me julgar tanto, era confortante. Muito confortante, Sebastian e a cama. Pela manhã deixamos o nosso quarto como qualquer outra dupla de colegas que dividem o alojamento e caminhamos lado a lado, como se não tivéssemos perdido horas de sono da noite provando, chupando e enlouquecendo um ao outro. Não posso dizer que estou odiando esse nosso novo tipo de passatempo, apenas sei que meus pais não o aprovariam. Deixamos o prédio de alojamentos e no instante que sinto um dos seus braços serpenteando minha cintura sem pressa; lembranças desse seu mesmo gesto na noite passada, me faz umedecer os lábios, porque diferente de agora, ontem não estávamos relativamente longe um do outro como estamos agora, não existia roupas no nosso meio, sequer pessoas. Esse último pensamento me faz ficar levemente desconfortável por ainda não saber exatamente o que somos. Bom, você ainda está com o anel da mãe dele e colegas de quarto não transam um com o outro, meus pensamentos quase me fazem choramingar. Agradeço aos céus quando Sebastian pergunta se eu queria ir com ele no seu novo studio, para ver como é a construção e mesmo odiando tatuagens e tudo relacionado a ela, concordo em acompanhá-lo. Acabamos rindo juntos quando anuncio com mais empolgação do que deveria que seria uma oportunidade perfeita para estrear meu capacete e só quando chegamos no prédio onde acontece nossas aulas que percebo como cruzamos o campus rápido. Tentando não pensar mais no "a gente" entro na nossa sala com seu braço ainda ao meu redor e respiro fundo quando vários olhos nos encaram e alguns cochichos começam.
— O que eles vão pensar da gente? — questiono me sentando na cadeira de sempre e Sebastian decide se sentar atrás de mim, por algum motivo, o que faz com que me vire, tendo visão de todos os rostos curiosos voltados na nossa direção.
— Deixa eles pensarem o que quiserem — não é bem uma resposta que estava esperando, mas também não é tão ruim assim.
— Bom dia alunos, hoje como já havíamos combinado, será a nossa terceira aula de moldagem — minha atenção retorna a frente da sala, quando o professor bate duas palmas nada baixas e anuncia se levantando da sua mesa. Sequer percebi que ele já estava na sala.

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Em Cada Traço
RomanceQuincie Wyne não vê a hora de terminar a sua faculdade em odontologia, por um único motivo; voltar a ler e estudar sem a presença do seu detestável colega de quarto, qual sua única missão consiste em tirar o sono, a paz e a tranquilidade dela, atend...