Em Cada Traço

10.

Ajeito a alça da minha mochila — completamente cheia com tudo que consegui espremer dentro — e corro olhar uma última vez no campus, esperando Sebastian chegar de não faço ideia onde ele deixava sua moto. A noite esfriou consideravelmente, então me abraço e respiro fundo em uma tentativa falha de me esquentar. O barulho de uma buzina me chama atenção e consigo saber que é Sebastian apenas e somente por um motivo; nenhum outro idiota buzinaria nessa hora. Aproximo as sobrancelhas deixando claro o quanto gostei dessa sua forma de chamar minha atenção, enquanto me viro, o observando estacionar sua moto na minha frente. E claro que seria uma moto preta, idêntica a sua alma. Sebastian apoia um pé no chão e não chega a desligar o automóvel antes de me oferecer o capacete único. Seguro o equipamento de segurança redondo e o encaro.

— O que foi? — sua pergunta deixa claro que não consigo esconder o que penso.

— Um capacete — resmungo a quantidade errada de capacete para duas pessoas e o aproximo do meu corpo.

— Porra, não acredito — Sebastian primeiro me encara em silêncio por alguns instantes, até parecer se lembrar de algo, erguendo as sobrancelhas.

— O que? — o questiono, sentindo um nervosismo ligado ao fato de que não estamos conseguindo fazer nada com o mínimo de planejamento antes e esse seu semblante só me leva a acreditar que ele esqueceu de outro detalhe.

— Jurava que era uma geladeira — lentamente, Sebastian adota seu sorriso numero 3, o mesmo sorriso que só aparece quando ele está ironizando.

Travo o maxilar, pronta para falar frases bem amigáveis para ele, porém antes que pudesse de fato falar qualquer coisa; suas mãos capturam o capacete, enquanto Sebastian se inclina o encaixando na minha cabeça.

— O lugar disso é aqui, exemplo — tudo fica escuro por alguns segundos, antes dele levantar a viseira.

— Pensei que fosse no meio das pernas — reviro os olhos e afasto suas mãos, ajeitando o capacete.

Seguro no pequeno cinto da parte debaixo do capacete e tento fechá-lo, mas não consigo, o que só faz Sebastian rir com o nariz descendo da moto. Ele pronuncia um; "Deixa comigo, exemplo" simples mas ainda assim exibido demais e me faz cruzar os braços desviando olhar do seu sorrisinho idiota e superior. Sinto o gelado do seu toque na pele exposta do meu pescoço e ignoro a forma como meu corpo por inteiro arrepia. Escuto o clique típico da trava sendo fechada e volto minha atenção para si, fazendo menção de me afastar, sem querer permanecer perto dele mais tempo que o necessário, quando Sebastian decai sua atenção para meu casaco e aproxima suas sobrancelhas. Sua reação repentina me faz abaixar olhar para o meu casaco também e por mais que eu estivesse esperando; não encontro com nenhuma mancha ou rasgo.

— O que foi? — questiono começando a considerar que talvez Sebastian não esteja muito bem mentalmente.

— Você ainda está de pijama? — ele puxa a gola do meu pijama, que sequer percebi estar aparecendo sem deixar de lado seu semblante sério, provavelmente não acreditando que estou indo em um, segundo ele, super evento de tatuagens usando um pijama.

— O evento é seu, não meu e pijamas são extremamente confortáveis para sua informação — escondo a gola do pijama dentro do casaco de volta tendo um pouco de dificuldade por conta do capacete — E não é como se fôssemos chegar lá direto no evento, certo? — solto uma risada breve por imaginar a cena hipotética, mas a alegria não chega nele — Certo, Carter? — aos poucos o sorriso vai abandonando meu rosto e a minha frente o observo esconder suas mãos dentro dos bolsos da frente da sua calça.

— Na verdade... — seu tom de voz baixo me faz rir com o nariz começando a negar com a cabeça.

— Não acredito — minhas mãos começam a procurar o cinto do capacete, demorando um pouco para encontrá-lo, por nunca ter usado um antes e só quando o destravo que consigo tirá-lo da minha cabeça.