16.

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Fui ingênua em pensar que o quarto seria... Um pouco melhor? Que o restante do prédio. Escuto Sebastian fechar a porta e continuo estática, no início do quarto, ao mesmo tempo que em metade dele, observando o guarda roupa sem uma das portas, o carpete mais que desgastado e a tv levemente torta. O cheiro de mofo também não é um ponto agradável, mas é um qual se dá de ignorar. São só 14 dias, para um bem maior, repito mentalmente para mim mesma e minha atenção para por último na cama, me fazendo soltar um suspiro aliviada por, pelo menos, o lençol parecer estar limpo. Sem muita opção, me aproximo e sento no colchão que afunda com o peso do meu corpo. Olho para a porta principal, esperando Sebastian retornar com as nossas coisas, mas não é como se nossas mochilas estivessem esperando do outro lado. Acabo bocejando de novo e para não acabar pegando no sono antes dele retornar; me levanto, dando poucos passos até a segunda porta do quarto. Giro a maçaneta e empurro a madeira fina com receio, observando o banheiro esverdeado simples, com cortina de plástico ao redor do chuveiro e vaso de planta ao lado da pia, me surpreendendo por não ter nenhuma gangue de ratos, ou aranhas escondidas nos cantos. Pra ser sincera, esse banheiro realmente é o melhor local até agora. Tá legal, talvez 'melhor' seja forçar um pouco a barra... O cômodo é aceitável. Encosto a porta novamente e corro olhar mais uma vez ao redor do quarto pequeno. Não chega nem perto do nosso quarto em Uepplen — afinal como Sebastian mesmo lembrou; nunca tivemos que dividir uma cama — mas acho que conseguimos conciliar as coisas. Quer dizer, não é como se eu nunca o tivesse visto sem blusa ou algo assim. E no fim das contas, apesar de minúsculo, o quarto ainda tem um pouquinho de carpete sobrando no chão, caso não role dormirmos um do lado do outro.

Sou puxada dos meus pensamentos para o agora quando Sebastian entra no quarto carregando a minha mochila nas mãos e a sua nos ombros.

— Achei que encontraria você dormindo — Sebastian parece pronunciar um pensamento avulso e deixa a minha mochila na beirada da cama.

— Não estou com sono — minto e como se meu corpo quisesse comprovar essa mentira; um outro bocejo surge antes que eu pudesse tranca-lo.

— Claro — o moreno adota seu sorriso com uma só covinha e retira sua mochila dos ombros, a colocando ao lado da minha sobre a cama.

Sebastian abre a sua mochila e começa a retirar algumas coisas de dentro dela. Continuo o observando, imersa nos seus movimentos, até perceber o que estava fazendo. Aproximando as sobrancelhas e me perguntando o que raios foi isso; me apresso em começar a desfazer minha mochila também. Acabamos fazendo a divisão do armário de forma totalmente justa; com uma rápida discussão cheia de argumentos, onde Sebastian acabou ficando com as únicas duas gavetas tortas e eu com a parte de cima com prateleiras e sem uma porta. No fim, são 4am quando finalmente acabamos de ajeitar tudo e consigo retirar meu casaco me agradecendo mentalmente por não ter tirado o pijama, antes de me sentar na beirada do colchão. Começo a retirar meu tênis quando Sebastian joga seu corpo na cama, fazendo o móvel ranger. Tenho que virar um pouco o rosto para enquadra-lo já esparramado sob o colchão como uma criança que acabou de chegar do parquinho, só que com músculos e tatuagens.

— Chega pra lá a cama não é só sua — me viro tentando, inutilmente, empurrar seu corpo que ocupava praticamente o colchão inteiro e o escuto resmungar algo indecifrável — Anda, Carter.

Espero por algum sinal vital vindo da sua parte, mas ele continua da mesma forma, o que me faz choramingar. Encara-lo assim, me faz lembrar da vez que fiz exatamente a mesma "brincadeira" com meu pai e ele só conseguiu me tirar do centro da cama fazendo cosquinhas... Meu olhar decai do seu rosto para a barriga de Sebastian e sem pensar muito apenas levanto sua camisa, começando a fazer cosquinhas nele em diversos pontos. O moreno no mesmo segundo começa a se contorcer rindo uma risada rouca e aberta, uma qual nunca tinha escutado vinda de si antes.

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