Duas vezes. Até agora, só houve duas vezes que não consegui sustentar o olhar de Sebastian. Hoje esse número está bem perto de passar a ser três. E diferente das outras vezes que só não consegui sustentar seu olhar por estar a um passo de avançar em si; dessa vez o sentimento é diferente. Um misto em igual de raiva e curiosidade, em parte pelo que ele fez antes e em parte por tudo que Zach falou na lanchonete.
— Vai ficar mesmo aí em pé? — Sebastian aproxima suas sobrancelhas ao questionar.
— Por que você fez aquilo? — ignoro sua pergunta encurtando, amassando e dissolvendo todas as milhares de perguntas em uma, conforme ele respira fundo.
— Quer mesmo entrar nesse assunto de novo? — seu semblante cansado me diz o quanto Sebastian não está nem um pouco afim de retornar nesse assunto, assim como boa parte de mim também não.
— Não — sou sincera e levo apenas alguns segundos para respondê-lo por saber que por mim podíamos fingir que aquilo nunca aconteceu.
Como quando sonhamos um sonho um tanto quanto íntimo com outro alguém e temos que fingir que nunca imaginamos aquilo. E ainda que essa ideia soe meio irreal; realmente acho que fingir que nunca aconteceu nada daquilo que Sebastian desencadeou quando juntou seus lábios nos meus é o único escape para que essa encenação entre nós continue funcionando. É a única maneira dele conseguir o prêmio.
— Ótimo, então isso já encurta nossa conversa — ele se levanta e meu olhar tem que subir com toda sua altura — O que Rony te disse? — seus olhos escuros como o céu passeiam pelo meu rosto, como se só assim tentassem colher qualquer resposta a sua pergunta.
— Como sabe que Rony falou comigo? — até onde lembro ele estava bem entretido nos peitos de Lindsey.
— Responda a pergunta, exemplo.
— Nada que eu já não sabia — o respondo a contragosto, tentando manter a cabeça no lugar e percebo seus olhos me estudarem novamente, como se estivessem querendo saber se eu estava mentindo ou não — Por que raios você tem tanto medo assim das merdas que Rony diz? Quer dizer, ele é só um cara com síndrome de meia idade, que age como um adolescente.
Ter a impressão de que Rony sabe mais merdas sobre Sebastian que realmente deveria me faz perceber que talvez seja isso que esteja deixando ele tão incomodado. Sebastian está com medo que eu saiba dos seus segredinhos sujos... Se ele ao menos soubesse que pouco me importo com as suas merdas. Repito mentalmente a mim mesma que todo mínimo e qualquer interesse que algum dia tive nisso que tínhamos — que passava longe de ser uma amizade, mas também não se encaixaria por completo em inimizade — acabou no segundo que Sebastian me fez querer algo que nunca deveria ter oferecido.
— E o que exatamente você sabe? — meu colega de quarto questiona mais sério e por que estou com uma forte impressão de que essa conversa não vai acabar bem?
— Que você é um babaca que não liga para o que cada garota já sentiu por si e ah sim; aparentemente sou uma princesa que vive em um conto de fadas bobo por estar com alguém como você — uma risada forçada acaba me escapando — Que irônico, talvez ele não fale tanta merda assim.
— Tem certeza que foi só isso? — Sebastian ignora minha provocação suspirando, quase que aliviado e sua pergunta com um ar de tanto faz me faz aproximar as sobrancelhas.
— "Só isso"? — repito parte da sua pergunta sem esconder que não estava acreditando que ele realmente escutou tudo que acabei de dizer.
— Surpresa, exemplo — Sebastian começa a caminhar na minha direção e estarei mentindo se disser que não sinto todos os músculos do meu corpo enrijecer — Tudo isso também não é nada que eu não sabia.
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Em Cada Traço
RomanceQuincie Wyne não vê a hora de terminar a sua faculdade em odontologia, por um único motivo; voltar a ler e estudar sem a presença do seu detestável colega de quarto, qual sua única missão consiste em tirar o sono, a paz e a tranquilidade dela, atend...