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A forma como ele está totalmente focado na tatuagem um pouco acima do seio dela, que mal se lembra de respirar, me irrita. Fala sério, qual é a dele? Sebastian me trouxe até aqui para não ter nenhum tipo de distração, mas é só eu me virar que ele não perde a droga da chance. Estou prestes a me aproximar deles, quando observo Lesley rir, levando a mão até a nuca de Sebastian, o fazendo aproximar seu rosto ainda mais dos seus seios espremidos dentro do decote em V da sua blusa. Ignoro os olhares que recebo e os cochichos, esperando. Droga, realmente espero por um pingo de respeito por parte de Sebastian, mas como parte de mim mesma já sabia; o idiota não se afasta, ele apenas pronuncia um; "Lesley" que não soa nada como um aviso, na verdade é idêntico a um convite e ela solta outra risada, me percebendo ali pela primeira vez. A loira adota um sorriso tão diabólico quanto os que Sebastian geralmente exibe e sobe seus dedos da nuca de Sebastian para os seus cabelos grandes e oleosos, sem desviar seu olhar do meu. Nela vejo as mesmas garotas que ele atende no campus, fazendo de tudo para tocar o máximo que elas consigam do seu corpo, o único problema é que elas não sabem que ele tem uma "namorada" e com elas, ele não precisa fingir nada. Umedeço os lábios e me viro, empurrando de novo as pessoas, saindo com pressa do círculo. Para o inferno com "preciso da sua ajuda". Refaço o mesmo caminho que fizemos hoje quando chegamos nessa droga de salão e chego a visualizar o local das escadas escondido num canto mais esquecido do salão, quando Rony surge e se coloca ao meu lado, apoiando um dos seus braços pesados nos meus ombros, me apertando demais para ser só um gesto amigável.

— Estressadinha! Estava mesmo querendo falar com você a sós — Rony aperta meu ombro, no mesmo segundo que tento me soltar.

— Que pena, não estou com um pingo de vontade de falar com você agora — praticamente rosno, mas consigo adotar um sorriso falso, na tentativa provavelmente falha de disfarçar o quanto não gosto de si.

— Pra que a agressividade? Ainda sou seu amigo — Rony ri e esse seu som me enjoa.

— Não ligo, agora me solte — tento me livrar do seu aperto de novo, mas como da primeira vez, não consigo e isso me faz respirar fundo tentando manter a cabeça no lugar.

— Deixe-me tentar adivinhar o porquê de você estar assim bravinha; prometo ser rápido — Rony adota um sorriso cheio de dentes a mostra — A princesinha veio atrás do príncipe para um reino tão tão distante, teve uma noite e tanto com o cara, que só a fez reforçar a ideia de que o que eles sentiam era para todo o sempre, mas então no outro dia ela descobre que o príncipe está metendo na camareira com mais peitos que ela — claro que Rony esfregaria isso na minha cara.

— Se você ao menos você soubesse que a princesinha não acredita em contos de fada, muito menos em príncipes encantados — continuo me mexendo dentro do seu aperto, na esperança de me livrar do seu toque e resmungo em resposta a sua historinha idiota.

— Não? Então em o que ela acredita? — Rony não esconde o quanto está se divertindo com tudo isso e ter essa confirmação me irrita ainda mais que ver a cena entre Lesley e Sebastian.

— Ela acredita no que vê.

— Então a princesinha deveria abrir mais os olhos pra ver e aceitar que nunca vai ser a única para o príncipe, que o cara já tem acompanhantes bem mais interessantes que não latem tanto, ou ela cai fora enquanto ainda não está borrando a maquiagem com lágrimas.

— Me solta, Rony — não peço, apenas rosno e tento me afastar de si novamente, dessa vez conseguindo.

Ignoro o detalhe do meu corpo não estar esperando que ele fosse me soltar e por isso acabo perdendo um pouco do equilíbrio, cambaleando para trás. Recupero a postura, sustentando o olhar de Rony e aproximo as sobrancelhas. O cara barbudo continua sorrindo e sussurra um; "Pode ir agora, estressadinha", que me faz perder na hora a vontade de ir embora, porém a ideia de continuar aqui no meio de mais pessoas como ele me leva a virar meu corpo e andar com pressa em direção a escada. Ash tinha razão, isso foi extremamente impensado. Não deveria ter subestimado o ódio que sinto por Sebastian, muito menos fingindo que pudéssemos mesmo ser amigos ao invés de colegas de quartos que não se suportam. Enquanto subo os degraus sentindo meu rosto quente de raiva, chego a pensar que talvez Sebastian tenha me feito vir consigo justamente para provar o ponto que ele sempre faz questão de não me deixar esquecer; o qual ele prova que todo mundo sempre cai aos seus pés... Mas logo desconsidero essa ideia, porque não faz sentido, ele poderia ter provado esse seu ponto no campus e aquele seu abraço antes de, bom, antes de tudo foi diferente, não parecia o mesmo Sebastian solitário e auto-suficiente, ele parecia alguém que precisava de outro alguém, ainda que esse alguém fosse eu. Uma parte mais perversa de mim mesma questiona o por que dele ter escolhido me abraçar e não ter ido aproveitar todo amor e peitos que Lesley tem pra dar e vender? Então a resposta cai como uma pena, pesando toneladas. Sebastian sabe que só uma de nós duas poderia abraçar sem acabar em sexo. E pensar, de novo, em como ele me considera totalmente fora de alcance me faz rosnar um xingamento.

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