28.

446 44 0
                                    

Sebastian só volta quando toda a loucura se cessa e tenho certeza de que há pedaços de comida presos no meu cabelo. Seu olhar percorrendo toda a destruição na lanchonete conforme se aproximava da nossa mesa não parece nem um pouco surpreso e só quando seu sorriso — que no fundo eu já sabia que ele surgiria — aparece que entendo que isso, toda essa loucura, não é um acontecimento histórico, mas sim um diário. Só quando seus olhos encontram com os meus que seu sorriso breve dá lugar a um mais divertido.

— Impressão minha ou você se sacrificou pelo prato de waffles? — seu olhar cai por alguns instantes no prato qual estou abraçando, mas logo retorna para o meu sem abandonar a diversão.

— Melhor ficar na sua — rosno baixo, não querendo nem saber o que é a gosma que está escorregando nas minhas costas.

— Não preciso dizer onde fica o banheiro de novo, preciso? — Sebastian se senta e pega o garfo esquecido na mesa, espetando outro waffle no formato diferente do convencional.

— Ah você está incomodado? — o questiono erguendo uma sobrancelha.

— Acho que você vai gostar de ir no banheiro — observo seus ombros subirem e descerem.

— Eu também acho que você vai gostar.

— Como assim? — antes que ele tivesse tempo para raciocinar uma resposta para a sua pergunta; mergulho meus dedos no melado do prato e me levanto, subindo na mesa com os joelhos, para cortar a distância entre nós dois, passando o melado não só no seu rosto, como também na sua camisa.

Assim que afasto minhas mãos Sebastian trava seu maxilar ainda de olhos fechados, adotando aquela sua sombra intimidadora que colocaria medo em qualquer um. Qualquer um menos eu. Sorrindo mergulho a ponta do meu dedo indicador no melado novamente e desenho com o doce um bigode logo abaixo do seu nariz, que não leva mais que alguns segundos para começar a derreter. Isso desconstrói totalmente essa sua fachada de raiva; conforme o observo adotar um sorriso novo. Um que brinca entre o seu de número 1 e 2. Como da primeira vez que o vi projetar aquele seu sorriso diabólico; fico fissurada nesse inédito, qual deixa seu rosto tão irritantemente lindo com a combinação das suas covinhas e o desenho do seu sorriso. Não que sem elas ele não consiga alcançar um nível respeitável, apenas acho que quando ele está as exibindo Sebastian consegue contar com um tipo de vantagem, que desclassificaria qualquer outro oponente.

— É... — ainda com os joelhos apoiados na mesa, me sento sobre meus calcanhares e finjo não ter me distraído no seu sorriso 1.2; analisando seu rosto cheio de melado — Acho que você vai gostar de ir no banheiro.

Sem deixar de sorrir esse seu sorriso que parece emanar alegria, pura e simples, como todos os outros sorrisos seus deveriam fazer, mas falham; Sebastian umedece seus lábios com a ponta da língua e consequentemente acaba limpando o melado que havia escorrido. Suas íris escuras aparecem e no segundo que ele mira seu olhar no meu; pré-visualizo sua resposta a minha brincadeira, o que me leva a fazer menção de descer da mesa, mas os movimentos de Sebastian pegando alguns waffles, mirtilos e melado do prato e os jogando em mim sem dó alguma são mais rápidos. Meus lábios formam um "O" involuntário e sem pensar muito faço a mesma coisa que ele havia feito. Meus dedos esmagam alguns waffles em formato de peixe e os arremesso em si, que solta uma risada rouca e tenta proteger seu rosto, só fazendo com que as massas cheias de melado atinjam seus cabelos compridos e a sua camiseta. Algumas risadas começam a deixar minha garganta no instante em que o que era pra ser a cabeça do peixe atinge e fica grudado na sua bochecha assim que ele abaixa seus braços. Percebo seus olhos caindo no meu sorriso, mas nem ligo. Minha barriga chega a doer de tantas risadas e só quando Sebastian limpa a massa da sua bochecha que as transformo em um sorriso.

Em Cada Traço Onde histórias criam vida. Descubra agora