Capítulo 5

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Ellie narrando

Chorei tudo o que havia para chorar.
Não é que eu não goste da demonstração de afeto de Abdiel, pelo contrário, isso para mim é um sonho. Também não ligo para o que os outros vão achar de mim.
O que importa para mim mesmo é queimar a imagem dele. Não quero que as pessoas riam dele pelas costas. Que façam piadas ou algo do tipo.
Por que a vida é tão cruel as vezes?

Me recompus e caminhei em direção as escadas. Ao chegar no corredor, vi Abdiel vindo em minha direção. Olhei de soslaio para ele, tive medo dele parar para falar comigo.
Ele passou por mim e evitou contato visual, reparei que sua mochila estava em seu ombro. Pude ouvi-lo descendo as escadas.
Entrei e sentei na cadeira. Ian olhou para mim e olhou para frente, sem dizer nada.

O professor começou a dar a aula, eu estava com a minha cabeça em Abdiel. O que será que aconteceu para ele ir embora assim? Será que foi pelo o que eu falei?
As aulas acabaram e eu juntei minhas coisas para ir embora. Desci as escadas com aquela pilha de livros.
Caminhei até o ponto de ônibus e fiquei ali, com aquele peso todo, esperando o ônibus, que por sinal demorou horrores.

Abdiel narrando

Passei por Ellie, evitando contato visual, queria parar e perguntar se ela estava bem. Desci e peguei minha moto. Sai da escola o mais rápido que pude.
Ian me tirava do sério com aquele egocentrismo dele.
Minha cabeça estava em Ellie, eu não devia ter agido por impulso. Agora Ian vai infernizar mais ainda a vida da menina, só por minha causa.
Andei ao redor da escola, esperei dar o horário das aulas terminarem e  parei perto do ponto de ônibus onde Ellie pega ônibus.

De longe a avistei vindo, com aquele peso todo. Queria poder ajuda-la, mas eu não posso ir contra a vontade dela, ela pediu para manter afastado. Fiquei a observando com aquele peso todo.
O ônibus demorou muito dessa vez, a vi entrando e sentando.
O ônibus seguiu viagem e eu fui em direção ao shopping.
Entrei em uma loja e comprei um celular de ultima geração, o mais caro e completo que tinha.
Já que eu não podia falar com Ellie pessoalmente, falaria por mensagem.

Fui para casa e pesquisei os restaurantes que aceitavam menor aprendiz. Fiz uma lista com os nomes deles. Me arrumei e fiquei ali  olhando o relógio.
Esperei dar o horário e fui em um por um, era um total de dezenove restaurantes na lista.
No penúltimo encontrei Ellie servindo. Sentei e fiquei esperando ela me atender, em alguns minutos ela veio em minha mesa.

- Olá, boa tarde. - Sorri para ela.

- Abdiel? - Ela estava surpresa.

- Olá, Ellie.

- O que você está fazendo por aqui? - Ela perguntou  baixo.

- Como assim? Eu vim comer. - Ela fez uma cara de surpresa.

- A tá, desculpa. - Ellie pegou o bloco de notas e esperou eu pedir. Olhei o cardápio, revirei para lá e para cá.

- O que você me indica? - Fechei o cardápio.

- Bem, como você é atleta tem que comer comida saudável. - Ela estava preocupada  com a minha saúde? É isso mesmo?

- Bem que estou precisando mesmo, não me alimento direito. - Falei a verdade. - Mas tenho um grande problema, não como comida de qualquer pessoa. Isso é irritante as vezes. Vou pedir, mas não sei se vou conseguir comer.

- A sua vou preparar especialmente. Você gosta de caldos? O tempo está começando a esfriar, então é uma boa pedida.

- Sim, gosto sim.  Qual você me indica? - Eu olhava em seus olhos, enquanto ela me atendia com dedicação. Seus olhos são bem diferentes, uma cor hipnotizante.

- O bobó de camarão é maravilhoso.

- Então vou querer esse.

- Anotado, eu mesma vou preparar para você. Com licença. - Ellie guardou o bloco de notas no bolso do avental e se afastou. Eu a acompanhei com os olhos. Alguns minutos depois ela voltou.

- Já está pronto? Está com uma cara ótima. - Ela me serviu e ficou esperando eu experimentar.

- Espero que goste. - Ela me observava atentamente.

- Obrigado. - Peguei a colher e experimentei, meio receoso. O sabor daquilo estava divino. Há muito tempo não comia uma comida tão saborosa.

- Gostou ? - Ela perguntou curiosa.

- Isso aqui está maravilhoso. Tem certeza que foi você quem fez?

- Foi sim. - Ela sorriu.

- Posso te contratar para cozinhar para mim? - Ela sorriu. - Eu estou falando sério. Já quero para a janta também. Meu paladar é muito sensível, mas a sua comida me agradou bastante.

- Que bom que gostou. Com licença, tenho que atender outras mesas. Daqui a pouco eu volto. Bom apetite. - Fiquei a observando atendendo outras mesas. Comi o mais de vagar que pude. Primeiro motivo: saborear o bobó. Segundo motivo: ter uma desculpa para ficar ali olhando Ellie. Ela veio em minha mesa novamente, após muitos minutos. - Quer pedir mais alguma coisa?

- Quero. Mas o que eu vou pedir não está no cardápio. - Ela fez uma cara de espanto, como quem não estava entendendo. - Eu posso esperar você sair do serviço?

- Como assim?

- É porque eu tenho uma coisa para te dar. Mas não quero te atrapalhar. Sei que pediu para manter distância e tudo mais, mas não estamos na escola.

- Mas você vai ficar esse tempo todo aí? Vai ficar entediado.

- Entediado eu fico no meu apartamento. Essa semana não está tendo treino, então eu tenho que ficar trancado em casa. Isso sim causa tédio. Não tenho amigos, por isso passo a maior parte do tempo sozinho.

- Então tá, você é quem sabe.

- Quando estiver acabando seu expediente, prepare uma marmita daquele bobó por favor. Eu vou levar para casa.

- Está bem. Com licença. - Ela sorriu e voltou ao trabalho. As horas se passaram e logo ela estava de volta. Me entregou a marmita e foi limpar as mesas. Como Ellie tinha tanta disposição? Me deu pena de ver. Ela trocou de roupas e pegou a sacola de lixo deixada perto do balcão. - Vamos?

- Sim. - Ellie saiu na frente e eu fui logo atrás. Ao descer o segundo degrau, de três, Ellie se desequilibrou e eu a segurei. - Cuidado. O que houve?

- Desculpa, estou um pouco tonta, deve ser porque não almocei hoje. - Ela fechou os olhos e respeitou fundo. - Estou sentindo náusea.

- Por que você não almoçou? Seu trabalho exige muito de você, você tem que se alimentar.

- O ônibus demorou muito, hoje demorou mais do que o normal. Não posso me atrasar para o serviço.

- Você tem comida em casa?

- Vou ter que fazer, dou um jeito quando chegar lá.

- Então toma essa aqui. - Dei a minha minha marmita para ela.

- Não precisa. Eu já estou acostumada. Você é um atleta, tem que se alimentar.

- Bem, como estou vendo que você não vai aceitar, vamos dividir. Resolvido. Onde podemos sentar?

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