Capítulo 25

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Abdiel narrando

Minha mãe reparou no meu mau humor, puxou um pedaço do meu terno quando voltei para seu lado.

- Se comporta. -  Ela fingiu ajeitar a gola da minha blusa só para sussurrar para mim.

- Vou tentar. - Falei com um sorriso de deboche no rosto. Meu pai saiu com o sócio e se juntou com mais dois homens. Minha mãe estava caçando um jeito de me deixar sozinho com Anne. Como não sou bobo, já dei logo uma desculpa.

- Abdiel, vou ali conversar com uma amiga. - Minha mãe me chamou para falar.

- Está bem, vou ao toalete. Com licença. - Sai antes que minha mãe pudesse se mover. Anne olhou para ela e para mim, sem entender.

Procurei onde era o banheiro e entrei. Peguei o celular e liguei para Ellie, ainda estava desligado. Será que tinha acontecido algo? Fiquei mega preocupado.
Depois de muitos minutos, voltei para a festa. Todos já estavam sentados a mesa, esperando o jantar.
A mãe de Anne veio em minha direção e já me puxou para um abraço, fiquei enrijecido e a impedi de me abraçar.

- Então esse é o rapaz de quem Anne tanto fala? - Falou aos berros. Aff, detesto que chamem a atenção para mim.

- Desculpe senhora, não gosto de abraços. - Justifiquei o motivo de eu estar duro daquele jeito.

- Entendo, desculpe. Mas sente-se, por favor. - Ela apontou para eu sentar ao lado de Anne.

- Obrigado. - Não consegui segurar minha cara de descontentamento. Minha mãe me fuzilava com os olhos.

- Olha, bem que Anne disse, você é lindo mesmo. Você tem bom gosto para homens, filha. - Segurei minha cara de nojo e coloquei minha mão na testa, tampando a metade do meu rosto. Minha mãe chutou meu pé por baixo da mesa.

- Obrigado. - Falei após tirar o pigarro da garganta. Peguei a taça de água para beber um pouco.

- Então, quando vai ser o pedido oficial? - A mãe de Anne falou. Como não entendi, continuei bebendo a água. - Heim, "genrinho"? - Ela me cutucou com o dedo indicador. Quase cuspi a água em cima da mesa.

- É comigo? - Sequei a boca com as costas da mão.

- Sim, quem mais poderia ser? - Ela estendeu a mão e olhou ao redor.

- Bem. - Minha mãe me chutou por baixo da mesa, ela já sabe meu jeito. Olhei para ela e sorri, agora era o meu momento. - Que eu saiba não estou namorando ninguém, até porque nem quero namorar agora, estou muito novo. Além do mais, hoje é o primeiro dia que vejo sua filha, nem tive tempo de conhecê-la. Como posso pedir alguém em namoro que nem conheço, estamos na idade média? - Sorri. Parecia que os olhos da minha mãe iam saltar do rosto.

- Não seja por isso, vocês podem sair após o jantar. - A mãe de Anne falou.

- Desculpe, eu vim de moto e só tenho um capacete.

- Abdiel. - Minha mãe falou entre os dentes. - E o carro? - Eles tinham me pedido para ir de carro e eu falei que ia.

- Ficou em casa. Preferi vir de moto para não me atrasar. - Sorri para ela.

- Nem pense em sair antes da janta acabar. - Ela me puxou pelo colarinho e sussurrou no meu ouvido. Olhei para o rosto do meu pai e ele sorriu como se estivesse dizendo: Se vira!

Não tive escolha, fiquei lá sentado.
Anne vinha com umas conversar e eu só balançava a cabeça concordando, nem sei do que estava falando.
Peguei um garfo e fiquei brincando com as folhas de alface no prato.
Que comida horrível, só de sentir o cheiro meu estômago embrulhou.

- Experimente. Está delicioso. - Anne falou rindo para mim.

- Só o cheiro já embrulhou meu estômago. Tenho o paladar muito sensível, não gosto de comer coisas diferentes. Ainda mais isso aqui, com esse ovo cru por cima. - Peguei a colher, enfiei no ovo e deixei cair na comida. Fiz uma cara de nojo.

- É spaguete à carbonara. - Ela tentou me explicar com um ar de superioridade.

- Eu sei bem o que é. Já vi um desses em Lisboa. Prefiro comer Ramen com ovos marinados. Ramen é miojo para vocês. - Explique para ela, tirando sarro de sua cara, porque ela quis mostrar que sabia mais do que eu.

- Sei o que é. - Limpou a boca com um guardanapo e deu um sorriso forçado.

- Eu já posso ir? - Sussurrei para minha mãe.

- Ainda não. Fique quietinho aí. - Ela segurou no meu braço e me apertou.

- Estou com fome, nada disso aqui me agrada. - Sussurei.

- Para de ser fresco. Está quase acabando. - Ela sussurrou de volta, entre os dentes. Passei a mão no rosto. Que saudade da comida da Ellie, por que fui ser um ogro?

- Vou tomar um ar, com licença. - Levantei e vi a mãe de Anne fazendo um sinal para ela levantar e ir atrás de mim.

- Abdiel, espere. - Ela veio correndo atrás de mim. Não queria ser deselegante, parei no meio do salão para espera-la. Se ela visse minha cara... Estava de costas para Anne. Enfiei minhas duas mãos no bolso, caso ela quisesse me dar a mão ou pegar no meu braço. Não é que ela ameaçou pega no meu braço.

- Desculpe, eu não gosto de contato físico. - Juntei o braço no meu corpo.

- Acabei esquecendo. - Ao contrário de Ellie, eu não queria que Anne me encostasse, queria distância dela. Já com Ellie é diferente, o toque dela me 
dá outras sensações , por isso o motivo de eu evitar. Eu só não posso revidar do jeito que tenho vontade, Ellie me deixa desequilibrado.

- Acontece. - Respondi. - As pessoas se esquecem mesmo. - Pra que ela queria me tocar? Acabou de me conhecer.

- Posso te acompanhar? - Queria dizer um não bem grande, mas a educação não deixa.

- Sim. Estou indo tomar um ar. Não estou acostumado com muita gente e muito barulho. - Chegamos na lateral do salão do hotel e tinha alguns fotógrafos.

- Posso tirar uma foto do casal? - Um fotógrafo.se aproximou.

- Sim, claro que sim. - Anne já foi logo falando. Do jeito que eu estava com as mãos no bolso, permaneci. Anne encostou do meu lado com um sorriso escancarado, permaneci sério.

Chegamos do lado de fora, sentei em um banco e ela sentou do meu lado.

- Olha, desculpe meu jeito. É que estou conhecendo uma pessoa, não quero te dar falsas esperanças.

- Não tem problemas, eu posso esperar por você. - Ela sorriu. - Eu não vou te perder, Abdiel. Nem que pra isso eu tenha que esperar por anos. - Anne é o tipo de pessoa mimada e interesseira, já vou cortar o mal pela raiz.

- Você não está entendendo. - Sorri. - Não precisa esperar, eu não vou voltar. O espaço já foi preenchido. Inclusive tenho que mandar um vídeo para ela, senão ela me mata. - Menti. Peguei o celular e comecei a gravar. - Oi meu amor, olha que lugar lindo. Só consigo pensar em você aqui comigo. Estou há algumas horas sem falar com você e já me sinto torturado. Tenho necessidade de ouvir sua voz, de olhar seus lindos olhos, de ver esse sorriso perfeito. A cada coisa linda que vejo, só consigo lembrar de você. Ah, essa aqui é Anne, meus pais queriam que eu a conhecesse, mas já esclareci que eu tenho você. Dá um tchauzinho Anne. - Ela levantou a mão com muita raiva e deu um tchau. Levantou logo em seguida e foi embora pisando fundo.

- Ridículo isso! - Reclamou.

- Tá vendo amor, ela ficou com raiva por saber de você. Obrigado por me salvar Ellie. - Sussurrei. Anne já estava perto da entrada e eu ainda a filmava. Mandei o vídeo para Ellie.

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