Capítulo 56

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Abdiel narrando

Parece que estou dentro de um sonho. Sentir o toque de Ellie e o seu cheiro me faz tão bem.
Como sofri quando achei que a perdi.
Tantas vezes tive vontade de morrer, me culpei todos os dias por sua morte.
Hoje sinto tanta gratidão a Deus por ela estar aqui.
Como me controlei para não chorar perto dela, mas é tão difícil segurar minhas emoções. Tento ser forte, mas meu coração sempre me trai.
Ver os olhos dela entristecidos por minha causa parte meu coração. Mas eu não estou conseguindo evitar.

A melhor proposta ela me fez, foi ficar agarrada em mim.
Como eu esperava ouvir aquilo, eu não posso exigir nada dela, até porque sou um estranho para ela.

Comi a refeição, enquanto ela me olhava com aqueles olhos de preocupação. Ela também comeu junto comigo.

- Ellie, obrigado por existir. Você não sabe o que você fez aqui dentro de mim. Eu tentei tirar minha vida por diversas vezes, por não saber lidar com essa dor insuportável. Me senti culpado por uma coisa que nem aconteceu. Só te peço que tenha um pouco de paciência comigo. Eu não gosto de contato físico, mas com você é diferente. Eu me sinto acolhido, protegido, me sinto curado quando você me abraça. Então quando você achar que eu estou precisando, me abrace por favor. - As lágrimas escorreram no meu rosto. Ela me puxou pelas mãos e me envolveu em seus braços.

- Eu sinto que você precisa de um abraço agora. - Ellie soluçava junto comigo. - Obrigada por confiar em mim, a ponto de contar sua dor. Prometo tentar te ajudar.

- Obrigado. - Ficamos ali, grudados um no outro por muito tempo.

- Eu não sei explicar o que é, tá certo? Mas eu sinto que tenho uma ligação com você. Talvez seja minha missão, cuidar de você. - Ela sorriu em meio as lágrimas. - Só assim me sinto útil e feliz. Eu pedi muito para Deus, para me dar a chance me sentir útil e ao mesmo tempo feliz. Dai você parece do nada na França, com tantas coisas incomuns. Só pode ter sido Deus que fez isso acontecer.

- Com certeza foi Ele. - Sorri para ela.

- Você já se alimentou, agora quer fazer o quê? Tem algum lugar que queira visitar?

- Se for por minha vontade mesmo, eu quero ficar deitado o dia todo. Mas não posso te manter confinada.

- Tem um parque na cidade, quer ir comigo?

- Parque? Eu nunca tive tempo de ir em um. Só estudo e treinos. - Sorri.

- Então vamos nesse, eu também nunca fui em um parque. Deixa só eu fazer uma ligação.

- Seu namorado? - Perguntei e já me arrependi em seguida. E se ela falar que sim? Meu coração agitou, parecia que ia sair do peito.

- Não, meu amigo. Ele vem aqui em casa sempre que esta de folga, ele trabalha em um hospital. Também é nutricionista, eu o ajudo com as planilhas. Ele não é muito bom em organizar coisas.

- Entendo. Ele é francês? Podemos chama-lo para ir conosco. - Falei para ela não achar que eu queria abusar da sua boa vontade ou por causa de algum desconforto.

- Não, está tudo bem. Ele é brasileiro também, mas não é muito sociável. Vou falar que estou trabalhando e que ficarei uns dias fora.

- Está bem. - Ela ligou e explicou para o tal amigo. Logo desligou.

- Prontinho. Após o lanche vamos no parque. - Ela bateu palminhas.

- Agora eu que tenho que pegar roupas.

- Então vamos. Vou deixar minha mala no carro, se eu precisar de roupas tem lá.

Descemos de elevador, fui arrastando a mala de Ellie. Chegamos em seu carro e eu coloquei a mala no porta malas.

- Você dirigi muito bem? - Sorri para ela. Após sentar e colocar o cinto.

- Você quer dirigir? - Ela olhou para mim.

- Não, obrigado. Tem quatro anos que não dirijo.

- Por que nossa vida gira em volta de quatro anos? - Ela ainda me olhava.

- Sofri um acidente de moto. Um carro avançou o sinal e pegou minha carona e eu de cheio. Fiquei em coma por um mês, quando acordei estava igual ao Robocop, tinha ferro por todo o meu corpo, tem as marcas. Recebi a triste notícia que a pessoa que estava comigo tinha morrido. - Só de lembrar da dor que senti, as lágrimas começaram a escorrer. Abaixei a cabeça.

- Vamos deixar isso para lá. Vamos pensar em coisas boas. Você não foi o culpado, a pessoa que estava com você com certeza sabia disso.

- Tentei me suicidar várias vezes, por não saber lidar com a dor. Achei injusto eu continuar vivendo.

- Eu sinto muito. - Ela virou um pouco para o meu lado. - Vamos nos divertir e esquecer os problemas. Ok? Hoje você vai ser meu. - Ela colocou a mão no meu rosto e toda a tristeza foi embora.

- Vai me sequestrar? - Sorri para ela.

- Vou. - Ela sorriu de volta.

Ellie dirigiu até ao hotel onde estou hospedado. Ela queria ficar no carro, mas eu não deixei.
Subimos de elevador, ao chegar no corredor dei de cara com Anne.
Anne tem me perturbado por meses, cismou que tem que passar uns dias comigo.
Meus pais super apoiam o namoro, só eu que não apoio.

- Bebê! Até que enfim você chegou. Eu estava mega preocupada. - Ela correu em minha direção. Passei a mão no rosto e cocei a cabeça. Bebê?

- Não encosta em mim, Anne. - Estendi a mão, a mantendo afastada.

- Ah, eu esqueço que você não gosta que ninguém te abrace e nem toque em você. Desculpe. Sua mãe disse que você passou mal, está bem agora?

- Estou sim. Minha nutricionista cuidou muito bem de mim, por sinal, é ela aqui. Ellie, essa é Anne.

- Prazer. Então quer dizer que ela cuidou nem do meu bebê?

- Seu bebê? Onde? - Olhei em volta dela, com deboche.

- Você, Abdiel. - Ela bateu os pés no chão.

- Anne, eu vou deixar bem claro para você, mais uma vez. Presta bastante atenção: eu não quero nada com você. Quando você vai entender isso, criatura? Pode falar com a minha mãe que eu já estou bem. Estou sendo bem cuidado. Vem Ellie. - Peguei em sua mão e a puxei.

- Como assim? A nutricionista pode segurar sua mão e eu não? - Ela cruzou os braços.

- Eu escolho quem encosta em mim, beleza? Até mais Anne. - Digitei a senha para abrir a porta, Ellie entrou e eu também, enfiei a cabeça para fora. - Obrigado pela preocupação, Anne. Até mais. - Fechei a porta .

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