Capítulo 10

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Abdiel narrando

Fiquei observando o rosto de Ian, ele me olhava de soslaio de vez enquanto.
Se Ellie não dormiu, a culpa é dele. Os trabalhos com certeza são todos desse nojento.

Vieram avisar que não teríamos aula no primeiro e no segundo tempo, o professor passou mal e não pôde ir à escola.
Poderia usar esse tempo para treinar, mas não queria deixar Ellie sozinha. Lembrei que tem um lugar privado ao lado da enfermaria, onde os professores descansam.
Poderiam deixar Ellie dormir lá, acho que não diriam não para o filho do dono da escola.

Acordei Ellie e expliquei a situação, pedi para ela me acompanhar, sem falar onde estavamos indo. Ian ficou observando. Ao chegar no quartinho, seus olhos brilharam.

- O que é isso? - Ela olhou o quartinho com cama, ar condicionado, cobertor e frigobar.

- É para você descansar aqui, já informei na direção que você ficará aqui. Acho que dá para descansar por duas horas.

- É sério que posso ficar aqui? Eles realmente sabem quem sou eu? Eu sou bolsista.

- Mas você é minha amiga. - Sorri para ela. - Você não falou que eu sou "famosinho" aqui na escola? Tenho mais conceito com os professores do que com os alunos. - Não quis contar a verdade, os professores sabiam que meu pai era o dono da escola, os alunos não.

- Você vai ficar aqui? Tem duas camas.

- Posso ficar até você dormir, tenho que treinar.

- Você tomou café da manhã?

- Não, você tomou?

- Também não tomei, vou ver se encontro algo aqui no frigobar. Sente-se aí, você vai tomar café da manhã comigo. - Sentei na cadeira e fiquei esperando Ellie trazer o que achou. - Vou fazer suco de laranja com maçã, você precisa de energia. Coloquei alguns pães para esquentar. - Ela cortou as laranjas e espremeu para tirar o suco, picou as maçãs e jogou o suco junto com as maçãs no liquidificador. Eu a observava, a suavidade e alegria que ela tinha para fazer as coisas. Ellie cantarolava.

- Está com a cara ótima. - Falei quando ela colocou as coisas na mesinha.

- Vou pegar frutas. - Ellie cortou as frutas e fez alguns bichinhos no prato com as frutas. - Já que você tem dificuldade para comer, fiz desenho com frutas para você.

- Você é incrível, sabe disso? - Eu observei o ursinho feito de banana, castanha e passas no meu prato. No dela tinha um pavão feito com uvas e pêssego. - Posso comer seu pavão?

- Você é quem manda. Quer trocar os pratos?

- Não, eu quero que você divida comigo. Eu como a metade do seu pavão e você come a metade do meu urso. - Eu ia dar uma garfada e ela me parou.

- Espera! Temos que tirar uma foto. Dessa vez eu vou te filmar, quero ver se vai fazer caretas para comer frutas. - Ela sorriu.

- Essas daqui eu gosto, só não tenho costume de comer. Se meus pais souberem de você, vão querer te contratar para fazer as refeições para mim e comigo.

Tirei as fotos e ela me filmou enquanto eu experimentava o suco. Tomei sem açúcar mesmo e estava uma delícia. Comi as torradas e o iogurte natural com cereais. Comi a metade do urso e a outra metade dei na boca dela. Fiz a mesma coisa com o pavão.

- Me surpreendeu, comeu tudinho.

- Não sou tão fresco assim, mas é você que está preparando. Você acha que eu vou fazer feio? O que você me der eu como, até se não gostar. - Sorri.

- Aí não vale, você tem que comer o que gostar. Promete que se não gostar vai falar?

- Prometo. Agora vai descansar. Vou deixar a chave com você, daí você tranca a porta quando eu sair.

- Está bem, só preciso de uma hora de sono. Daqui a pouco vou lá ver você jogar.

- A educação física começa daqui há duas horas e quinze minutos. - Olhei no relógio. - Então descansa por duas horas. Vou treinar e me aquecer. Vou fazer um gol para você.

- Nada de ser indiscreto, heim! - Ela sorriu de um jeito tímido.

- Poxa, estava pensando em fazer até um coração e gritar seu nome.

- Você não é doido. - Ela deu uma gargalhada.

- Comprei até uma blusa com seu nome. Vou por embaixo da do time, daí quando  fizer o gol eu tiro a do time e deixo o seu nome amostra.

- Não faça isso, eu vou querer que o chão se abra embaixo dos meus pés. Vou morrer de vergonha.

- Então já prepare seu psicológico. - Sorri. - Descansa, está bem?

- Pode deixar.

- Tranca a porta. Até daqui a pouco.

- Até. - Ela caminhou até na porta comigo, abri a porta e sai. - Abdiel. - Ela segurou minha mão.

- Oi. - Olhei para minha mão e olhei para ela.

- Obrigada por tudo. - O toque dela na minha mão fez meu coração disparar. Congelei olhando em seus olhos.

- Por nada. Eu que agradeço. - Estava hipnotizado olhando aquele sorriso.

- Até daqui a pouco. Não vou te atrasar mais. - Ela soltou a minha mão.

- Até. Tranca a porta. - Me virei e escutei a porta fechando atrás de mim.

Estava andando pelos corredores da escola com um sorriso no rosto. O que Ellie está fazendo comigo? Eu tenho que manter minha postura de Bad boy.
Sacudi a cabeça para tirar aquele sorriso bobo dos lábios.

- Abdiel, onde você estava? Os meninos que andavam comigo e os do futebol estavam me procurando.

- Já cheguei. Não posso sumir um pouco que já sentem minha falta. Vamos e sem corpo mole hoje, heim!
- Dereck me abraçou pelo pescoço e foi me arrastando. - Sem contato físico, por favor.- Mas não adiantou falar, ele permaneceu agarrado no meu pescoço.

- Pra cima! Vamos lá Tigors! - Dereck deu nosso grito de guerra e  batemos palmas.

- Vamos lá Tigors! - Gritei. - Agora me solta, você está suado. - Arranquei o braço dele do meu pescoço.

- Está com" nojinho", é? - Ele me abraçou pelo pescoço novamente. - Problema é seu, vou ficar agarrado aqui. E vamos logo, você tem que se trocar.

Caminhamos até o vestiário e me troquei, coloquei a camiseta por baixo da blusa do time. Escrevi nela com um piloto preto: REMEMBER.
Agora eu poderia fazer o gol e levantar a blusa do time, deixando o nome Remember aparecer. Espero que ela tire foto ou filme, para adicionarmos nas nossas lembranças.

Remember Onde histórias criam vida. Descubra agora