Capítulo 51

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Ellie narrando

Tenho uns sonhos estranhos, sonho com um jogador de futebol que é meu namorado.
Sonho que estou fazendo comida para ele e que sou sua nutricionista. Foi até por isso que escolhi a faculdade de nutrição.
Sempre tenho esse sonho, que tenho que cuidar dele, já faz uns quatro anos sonhando a mesma coisa.

Ian é um grande amigo, sofri um acidente há quatro anos. Ele ficou do meu lado o tempo todo. Fez até faculdade comigo, para me apoiar. Mas sinto que tem algo que ele esconde de mim, sinto que ele não é muito verdadeiro.

Não sou uma pessoa muito comunicativa e não gosto de sorrir. Parece que sinto falta de algo para ser feliz.
Já trabalhei em diversos lugares, mas não consigo encontrar felicidade. Já viajei por diversos países com Ian, mas não consigo dar um sorriso verdadeiro.
Existe alguma coisa travada dentro de mim, algo que minha mente bloqueou. Não consigo me lembrar da minha mãe, não sei se ela foi feliz.
Ian diz que ela morreu assim que eu nasci, mas eu sinto como se eu tivesse vivido muitos anos com ela.

Vou começar a trabalhar e vou pagar outro neuro para cuidar da minha mente, sinto que tem algo que eu tenho que descobrir. Já fui em alguns especialistas, eles falaram que a minha mente bloqueou uma parte traumática do meu passado. Um meio de eu não sofrer, mas que as poucos vai voltar.

Ian estava sentado na sala me esperando, me arrumei e fui em direção a ele. Hoje tenho uma entrevista de emprego em um hotel, ouvi dizer que alguns jogadores irão morar lá. Me candidatei por causa dos meus sonhos.
Vai que é uma premonição ou algo que vai me ajudar a lembrar de alguma coisa do meu passado.

- Você está linda, tem certeza que vai para uma entrevista de emprego? Está parecendo mais um encontro. - Ian falou.

- Para de ser bobo. Vamos, não quero me atrasar. - Peguei minha bolsa e coloquei meu anel com pequenos diamantes. Parecia uma aliança cheia de diamantes na lateral, talvez seja um presente que minha mãe me deu quando criança. Sempre uso ela, me  faz sentir algo bom, como se eu não estivesse sozinha.

Ian me deixou em frente ao hotel de luxo. Me desejou sorte, falei que não precisava me esperar, talvez fosse demorar muito.
Fiquei boquiaberta ao ver como era por dentro do hotel, caminhei até a recepção.

- Olá, em que posso ajuda-la? - A recepcionista muito gentil falou comigo.

- Olá, sou Ellie. Estou aqui para uma entrevista. Sou nutricionista.

- Ah, sim. A senhorita vai até o final desse corredor e vira à direita. Vai ter um elevador, daí a senhorita vai até o segundo andar. É uma sala de frente.

- Muito obrigada. - Fiz do jeito que ela falou. Ao abrir a porta no segundo andar, dei de cara com um restaurante enorme. Tudo muito bem limpo e organizado. Caminhei em direção ao metre. Me apresentei.

- Oi minha flor, hoje está um pouco complicado aqui. Chegou um jogador aqui, muito famoso. Só que o cara é um enjoado para comer. O treinador dele já veio aqui, exigir que façamos algo para ele, mas o que fazer para uma pessoa que tem o paladar  tão refinado. Pelo o que ouvi falar, ele está adoentado por não se alimentar direto. Acho melhor você voltar amanhã para a entrevista, pois amanhã começa os treinos dele, daí vamos ter tempo para conversar.

- Como o senhor achar melhor. Mas eu posso tentar fazer a comida dele? Já que está doente por falta de alimentação, tem que ser uma sopa. Uma coisa leve.

- Ele é brasileiro, mas é descendente de coreano. Tem algo em mente?

- Sério? Eu sou brasileira também. Então já sei o que posso fazer. Vou fazer Ramen. Vocês conhecem?

- Você pode fazer o que quiser, desde que esse homem coma. Eu já estou ficando louco.

- Deixa comigo. - Peguei os temperos e as verduras e hortaliças. Fiz Ramen com brócolis e couve flor e cenoura. Coloquei alguns ovos marinados cortados por cima. - Prontinho.

- Isso esta com uma cara ótima. Posso experimentar ? - Ele esfregou uma mão na outra.

- Pode sim. - o metre experimentou e ficou sem palavras.

- Isso está divino. Os temperos na medida certa.

- Que bom que gostou, espero que ele goste também. Com licença, já vou indo. Até amanhã.

- Até. - Ele sorriu gentilmente e o mesmo foi entregar a comida para o tal jogador exigente.

Sai dali e fui andando pela calçada, quis ir andando até em casa. Não era tão longe, umas meia hora andando.

Abdiel narrando

O treinador veio mais cedo no meu quarto, trouxe o cardápio do hotel. Nada do que estava no cardápio me agradou.
Comuniquei sobre meu paladar fresco e comuniquei também sobre a fraqueza que tenho sentido. Sim, pode ser desnutrição novamente.
Ele ficou de pedir ao metre  para mudar algumas coisas no cardápio.

Quase no horário do almoço ouvi a campainha tocando. Levantei e fui atender a porta.

- Olá, bom dia. - Era o metre.

- Olá, senhor Abdiel. Trouxe sua refeição. - Já estava com preconceito antes de ver. Ele entrou empurrando o carrinho e me serviu na mesa. Ao destampar eu quase caí para trás.

- Isso é Ramen com ovos marinados? -  O cheiro estava divino e a aparência melhor ainda.

- É sim. Espero que atenda ao seu paladar. - O metre ficou esperando. Peguei o rashi e enfiei no macarrão, ao sentir o gosto fiquei imóvel e as lágrimas começaram a escorrer em meus olhos.

- Quem fez esse Ramen, senhor? - Falei encarando o prato.

- Não te agradou? Desculpe senhor, eu trago outra coisa. - Ele já ia pegar o prato da mesa, dava para sentir o seu desconforto.

- Não, não faça isso. Por favor. Eu preciso parabenizar a pessoa que fez isso. Fui teletransportado para meu passado por um momento. Um momento em que eu era feliz. - Falei tentando controlar as lágrimas.

- Foi uma nutricionista que veio para uma entrevista de emprego.

- Eu preciso falar com ela. - Olhei para ele.

- Ela já foi, mas amanhã estará aqui novamente.

- Eu preciso que a contrate para ser minha nutricionista particular. O senhor pode fazer isso? Eu mesmo pago o salário dela. Pois vou ter que viajar muito, então ela vai ter que ir comigo.

- Sim senhor, quando ela chegar amanhã eu a contrato e peço para ela vir falar com o senhor.

- Pois bem, muito obrigado. - Agradeci.

O metre saiu e eu fiquei ali, comendo vagarosamente e chorando. Como o sabor era idêntico ao de Ellie?
Tantas lembranças vieram, olhei os vídeos e as fotos de quando ela fez o Ramen para mim, após eu fugir da festa.
Até a arrumação no prato estava igual.
Que saudades!
Fechei os olhos e senti como se ela estivesse ali. Aquela dor insuportável tomou contar do meu coração.

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