Capítulo 50

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Ian narrando

Eu estava tão frustrado e irritado após descobrir que eu era um filho aditivo. Senti mais raiva ainda de Abdiel.
Ele tem aquela família perfeita e ainda tem Ellie. Agora deve estar rindo da minha cara.
Fiquei parado dentro do carro, quando vi Abdiel passando de moto, não pensei duas vezes, acelerei o carro e bati de cheio na moto de Abdiel.
Não era para machucar Ellie, era só para machucar Abdiel. Só que ela também se feriu.

Parei o carro no meio de um matagal e voltei correndo para ver como Ellie estava.
Ela estava bem mal, me aproximei de Abdiel, ele também estava muito ruim. Falei perto dele que Ellie não resistiu, ele parecia lutar para ficar acordado. Ao ouvir o que eu disse, ele se entregou.

A ambulância chegou e levou Abdiel primeiro. Ellie ficou para trás, antes dela desmaiar eu falei que Abdiel não tinha resistido, fiquei ali do lado dela.

A ambulância chegou e pedi que a levassem para um hospital específico.
Ellie deu várias paradas cardíacas e entrou em coma.
Sabia que Ellie tinha uma tia que morava em outro país, então bolei um plano na minha cabeça.

Liguei para meu pai e contei o que havia acontecido. Implorei para ele não deixar eu ir para a prisão. Como ele estava se sentindo culpado deu um jeito.
Ele transferiu Ellie para um hospital especializado, ela deu traumatismo craniano e perdeu a memória.
Mas meu pai não me deixou impune,
como eu sou menor de idade não fiquei preso, mas tiver que responder e pagar cestas básicas.
Meu pai me mandou para outro país, onde Ellie estava se tratando.

Ele contou para os pais de Abdiel que eu fui o culpado. Mas que tinha me mandado para outro país e que Ellie não tinha resistido.
Falou que sua tia a levou para ser enterrada lá.
O medo que ele tinha de Ellie morrer e Abdiel vir atrás de mim era enorme. Ia desgraçar duas famílias. Então ele preferiu dizer que tentou ajudar, mas não conseguiu.

Após dois meses Ellie acordou, para a minha alegria ela estava com amnésia. Poderia ficar do lado dela sem ela me repelir.
Me passei por seu melhor amigo.
A acompanhei em tudo o que ela tinha que fazer.

Ellie não lembrava de Abdiel, não lembrava da mãe. Sua vida virou um completo vazio.
Por anos tentei que ela gostasse de mim, mas ela sempre me olhou como um amigo, nada mais.
Já se passaram 4 anos desde que Ellie sofreu o acidente, ela concluiu a faculdade de nutrição, que por acaso, fiz junto com ela.

- Olá, bom dia. - Interfonei para o apartamento dela.

- Oi, Ian? O que está fazendo aqui tão cedo? Ainda estou com roupas de dormir.

- Vim te buscar para fazermos um piquenique na beirada do lago. - Sorri para ela pela câmera. - Vamos?

- Eu vou em uma entrevista de emprego hoje, não posso ir agora. Mais tarde fazemos algo juntos.

- Então me deixa pelo menos te levar na entrevista. Por favor! - Fiz um beicinho na câmera.

- Está bem. Seu insistente. - Ela abriu a porta para eu subir. Entrei no apartamento dela e fiquei esperando Ellie se arrumar.

Abdiel narrando

Já se passaram quatro anos, desde perdi a vontade de viver.
Os primeiros meses foram os piores. Tentei por diversas vezes interromper minha vida, até que decidi ser forte, demorou dois anos para isso acontecer.
Fiz muitas fisioterapias para voltar ao que eu era, hoje estou jogando em um time profissional.
Todas as vezes que entro no campo, mentalizo como se Ellie estivesse ali comigo. As vezes chego a procurar na arquibancada para ver se ela está por ali. Tem horas que minha ficha não cai.
Ainda tenho o celular dela comigo, levo para todos os lugares que eu vou.

Meu celular tocou, era o dono do time. Fui comprado por um time maior, começarei daqui há dois dias. Vou ter que ir para outro país, meus pais ficaram aliviados com a notícia.
Fiquei empolgado para ir, pois lá é onde a tia de Ellie mora, vou tentar encontra-la e saber onde Ellie foi sepultada.
Arrumei minhas coisas e deitei.

- Ellie, estou com fome e não tem ninguém para fazer minha comida. Estou ficando doente novamente, por não me alimentar direto. Você se foi tão cedo e me deixou sem cuidados. - Não tinha um dia que eu não chorava com saudade dela. - Eu estou indo para outro país, por nós. Eu te prometi que eu ia dar o meu melhor. Estou com tanta saudade, meu amor. Hoje está doendo mais do que ontem. Você tinha que ter me ensinado a ficar sem você. Já se passaram quatro anos e eu não aprendi, agora era para nós estarmos quase casados. Eu sei que você foi real, porque eu tenho fotos, vídeos e essa aliança no meu dedo. Tenho tantas lembranças felizes com você. Deixa eu sonhar com você hoje, por favor. - Tomei meu remédio para dormir e deitei. Peguei sua blusa e coloquei em meu rosto. O cheio dela está sumindo, mas ainda consigo sentir, só consigo dormir assim, sentindo o cheiro dela.

A noite passa e eu nem vejo, deito e já é hora de levantar. Tenho vivido por viver.
Peguei minhas coisas e chamei um carro pelo aplicativo, nunca mais dirigi e nem pilotei moto.
O carro me deixou no aeroporto, peguei o avião com destino a França.
Já estou até vendo a dor de cabeça que vai ser para eu me adaptar com as  comidas.
Fiz um lanche no avião para não vomitar, já estava ficando enjoado.
Fui muito bem recepcionado no aeroporto, a essa altura eu já sou bem famoso no futebol. Mas só saio de cara emburrada nas fotos, não tenho motivos para sorrir. Sou gentil com todos, mas o sorriso eu fico devendo. Meu segurança impede das pessoas me tocarem, o senhor intocável.

O carro que estava me esperando, me levou direto para o hotel onde vou morar de agora em diante.
Já era noite quando cheguei. Foram treze horas de viagem. Estava exausto, só queria deitar e dormir.

Arrumei minhas coisas no quarto e liguei para o serviço de quarto,  pedi para trazerem algumas frutas. Pelo menos as frutas tinham o mesmo sabor em todos os lugares, assim como água.
Demorou cinco minutos para eles mandarem, tinha uma cesta cheia de frutas e um cartão de boas vindas.
Peguei a pêra e comecei a chorar, lembrei do perfume de Ellie.
Todos os dias dói, o buraco nunca se fecha.

- Como queria você aqui comigo, meu amor. Está difícil seguir sem você. Bem que podia ter driblado a morte, né? Se desse para você encontrar o caminho de volta...

Comi as frutas e tomei o remédio para conseguir dormir. Peguei a blusa de Ellie e coloquei no meu rosto.
A noite passou em um piscar de olhos.

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