Capítulo 9

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Abdiel narrando

Acordei cedo e fui em algumas lojas, procurar capacete. De agora em diante vou andar com dois capacetes, caso eu precisa levar Ellie para casa. Não consegui dormir direito pensando nela, dúvido que tenha descansado o suficiente.
Cheguei cedo e fiquei esperando no ponto onde ela descia.  Desliguei a moto, desci e fiquei encostado esperando o ônibus chegar. Ainda bem que era na direção oposta da casa de Ian. Vai que ele passa e me vê aqui, vai ficar curioso.
Prometi para mim mesmo que não vou complicar a vida de Ellie.

O ônibus parou e ela desceu. Deu dó de ver seu semblante, estava nítido em seu rosto o cansaço.
A ajudei com as bolsas, se bem que ela relutou um pouco.
Para mim o peso está tranquilo, faço boxer, sou atleta. Mas para ela é muito peso, ainda mais uma pessoa que fica em pé, praticamente o tempo todo.
Depois de fazê-la sorrir, paramos para tirar uma selfie. 

- Essa selfie e para o que mesmo? - Perguntei sorrindo, só para provoca-la.

- Para criarmos lembranças. Quando olharmos as fotos lembraremos desse dia. Se o dia tiver sido bom, iremos querer repetir. Se o tiver sido ruim, lembraremos que conseguimos superar aquele dia de dor. Haverá dias bons, haverá dias ruins. Mas lembraremos que tudo é passageiro e nada dura para sempre. Pelo menos teremos um ao outro para sorrirmos ou chorarmos.

- Gostei. Lembrei do livro. - Sorri. - Remember, o nome do livro, né?

- Sim, que por sinal nem acabei de ler, você me roubou ele. - Sorri mais ainda.

- Quer que eu te conte o final? - Provoquei novamente.

- Não, por favor. - Ela tapou os ouvidos com as mãos. - Deixa eu ler. - Ela sorriu.

- Tá bom. Você quer que eu fique de qual lado para a selfie?

- De qualquer lado, você é lindo dos dois lados. - Ela colocou a mão na boca e arregalou os olhos. Como se não fosse para ter dito aquilo.

- Ah, você me acha lindo de todos os lados? E se eu ficar de costas? - Me virei.

- Até de costas você é lindo. Vou mentir para quê? Você é perfeito, pronto, falei. - Ela sorriu para mim, aquele sorriso era perfeito demais para deixar se perder com o tempo. Peguei meu celular e tirei uma foto dela.

- Não posso deixar esse sorriso se perder. Tive que capturar. - Justifiquei o motivo de ter tirado a foto.

-Se eu for capturar todos os seus sorrisos que eu acho lindo, meu celular vai ficar sem memória. Vou ficar o dia te filmando e tirando fotos.

- Ah, mais uma coisa que você acha lindo em mim... Eu sou lindo e tenho o sorriso lindo?

- Você é todo lindo, a composição perfeita. Pronto. Satisfeito? Agora vamos tirar essa bendita selfie.

- Você faz a selfie e eu faço os vídeos, vamos fazer um vlog. O que acha? Um que só você e eu tenhamos o acesso.

- Sério? Amei a idéia. Já tem até um nome.

- Remember. - Falamos uníssono.

Tiramos a selfie, enquanto eu filmava. Eu olhava meio com cara de bobo para Ellie, ela conseguia arrancar coisas de mim que nem eu sabia que existia.

- Tenho uma coisa para te dar, mas vai ter que ficar comigo.

- Como assim? - Ela fez a cara de quem não entendeu muito bem.

- É para o seu uso, mas só vai usar se eu estiver com você. Entendeu? Vem aqui. - Andei na frente e ela veio logo atrás. Peguei o capacete que estava no banco de trás da moto e entreguei a ela. - É isso.

- Você comprou um capacete para mim? - Ela sorriu. - Ainda tem orelhinhas. - O capacete era preto e tinha orelhinhas de pelúcia, como se fosse de gatinha, na cor rosa.

- Sim. Agora quando eu for comer no restaurante e ficar muito tarde, posso te levar para casa. Podemos reduzir a quantidade de  tempo que você fica na rua.

- Obrigada por toda preocupação. Eu não quero dar trabalho para você.

- É um prazer poder cuidar de você. Só assim estou me sentindo útil. Vamos de moto até a entrada da escola?

- Não, não posso fazer isso. As pessoas vão ver você comigo.

- Mas já falei que vamos falar que foi uma aposta. Eu perdi e agora tenho que carregar suas coisas.

- Melhor não, vão pensar que sou interesseira. Eu vou andando.

- Então tá. Mas eu levo os seus materiais. - Sentei na moto e fiquei esperando, para ver se ela sentaria.  - Ellie passou por mim e deu um tchau.

- Até daqui a pouco. - Falou ao passar por mim. Para seu desespero, eu fui bem vagarosamente ao seu lado. - Abdiel, vai. Você vai assim ao meu lado?

- Sim, vou. Quero te fazer companhia. - Sorri vendo seu nervosismo.

- É sério isso? Então tá, já pode ir. Não estou nervosa o suficiente? - Ela continuou andando, enquanto eu a seguia.

Chegamos na entrega da escola, falei para Ellie ir na frente, pois eu ainda iria estacionar a moto.
Ela foi caminhando lentamente e eu ainda consegui alcança-la no corredor. Entramos na sala e eu coloquei as suas coisas em cima de sua mesa.

- Boa aula. - Sentei ao lado dela, na fileira dos fundos, ficava na mesma direção que a cadeira de Ellie e de Ian.

- Obrigada, o mesmo para você. - Ela deitou a cabeça no braço e fechou os olhos. - Estou com muito sono.

- Aproveita que ainda não entrou ninguém e descansa, caso alguém entre ou o professor comece a dar aula, eu te chamo.

Ela fechou os olhos e logo pegou no sono, deve estar muito cansada.
Os alunos começaram a chegar, inclusive Ian. Ele caminhou em direção a sua mesa, observando Ellie. Parecia estar se certificando que ela estava dormindo mesmo.
O observei arrancado uma folha do caderno e amassando, mirou em Ellie e tacou. Antes da bolinha de papel acerta-la eu peguei no ar. Amassei ainda mais a bolinha e coloquei em cima da mesa dele.

- O que é? Você é defensores dos pobres agora?

- Deixa Ellie em paz, seu almofadinha nojento. Ou eu vou fazer você comer essa bolinha de papel. - Falei entre os dentes e me retirei, sentando no meu lugar. Fiquei sentado, olhando para o rosto de Ian, com as sobrancelhas franzidas. Como pode fazer isso com uma pessoa que está dando o sangue por ele?

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