Capítulo 15

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Ellie narrando

Fiquei meio sem entender o surto de Abdiel. Mas lembrei que ele é impulsivo, como ele pôde pensar que estou defendendo Ian? Ri comigo mesma.
Talvez ele não tenha entendido ou eu que não soube me expressar.
Peguei a mochila do chão e caminhei na direção das escadas, parei de frente para a janela do corredor e o vi indo embora com a moto.
Confesso que me deu uma tristeza, será que o magoei?
Desci vagarosamente e fui em direção a biblioteca.
Entreguei os livros e caminhei em direção a saída da escola.
Minha cabeça começou a latejar, de tanto que eu estava pensando. Peguei o celular para mandar mensagem para ele.

Está tudo bem?

Guardei o celular e continuei caminhando. Um carro preto parou do meu lado, levei um baita susto.

- Ellie. Cadê seu protetor? - Era Ian.

- Garoto, se adianta. Vai embora, me deixa em paz. Sua casa nem é pra essa direção.

- Olha lá como fala comigo. Vem, vou te levar em casa.

- Não quero seus favores, depois vai querer algo em troca. - Ele sorriu.

- Vem logo. - Ian abriu a porta do carro e saiu. - Vem logo. - Ele segurou meu braço e me puxou, tentando me enfiar no carro que estava um pouco mais atrás de mim.

- Me larga, não sou obrigada e ir com você.

- Se fosse com Abdiel você iria, né? -  Ele parou de me puxar para falar, mas ainda segurava meu braço.

- Iria com toda certeza, ele não é igual a você. Me solta! Abdiel jamais me forçaria a algo que eu não quisesse, ao contrário de você. - Puxei meu braço com tanta força que acabei caindo quando ele me soltou. Meu pé deu um estalo, em seguida veio a dor. - Ai, ai. - Coloquei a mão no pé. Escutei o barulho da moto acelerando. Abdiel parou a moto muito próximo ao carro de Ian.

- O que você fez? - Ela já desceu peitando Ian.

- Eu só estava tentando que ela entrasse no carro, já que ela não quis, a soltei.

- Ellie. Você está bem? - Abdiel veio até mim. - Eu te ajudo a levantar, vem. - Segurei a mão dele para tentar levantar, quando firmei meu pé senti aquela dor terrível.

- Ai, ai, ai. - Cai sentada, segurando o tornozelo. As lágrimas começaram a escorrer no meu rosto. - Eu não consigo, está doendo muito.

- Deixa eu ver. - Abdiel tirou meu tênis. - Se doer muito você pode me socar, afinal, fui eu quem deixou você para trás. - Seu olhar estava cheio de preocupação. Ele tirou meu tênis e eu dei um grito, tapei a boca com as mãos e comecei a gemer. - Vou tirar a meia para ver. - Meu tênis era de cano alto e as meias também. Quando ele tirou a meia, franziu a sobrancelha e olhou para mim.

- O que houve? - Perguntei ansiosa.

- Seu tornozelo está ficando roxo e está inchando. - Ian que estava parado próximo resolveu se manifestar.

- Quer que eu te leve no médico? Vem, eu te ajudo. Eu fui o culpado. - Abdiel levantou com os punhos cerrados e de olhos fechados.

- Olha só Ian, eu vou falar uma vez só com você. Beleza? Você está me ouvindo? - Ele abriu os olhos e encarou Ian. - Está vendo aquele retorno ali na frente? Pede pro seu motorista pegar ele e vai para a sua casa. Estou me controlando para não socar a sua cara. Você é um nojento que não aceita um não como resposta, acha que tudo tem que ser do seu jeito. E se ela tivesse batido a cabeça ou lesionado a coluna? Para o seu bem, sai daqui. Vou leva-la para o hospital.

- É melhor ela ir de carro. Vem Ellie.

- Você não ouviu o que eu acabei de falar? - Abdiel encostou a testa na testa de Ian e foi o empurrando. Ian bateu com as costas no carro, Abdiel deu um soco no carro. - O próximo vai ser na sua cara.

- Você não ousaria. - Ian o provocou e olhou para o motorista. Vi que algo estava estranho. O motorista dele parece um lutador de MMA.

- Abdiel! Chega! - Dei um grito. Isso o fez parar. Tive medo do motorista bater nele.

- Você está defendo ele ainda? Está me mandando parar? - Ele permaneceu de frente para Ian.

- Você não entende, não é? Vão embora. Vocês dois. - Me deu uma crise de choro tão grande. Não consegui controlar. Deixei meu corpo cair no chão, eu só queria ficar ali.

- Ellie. Desculpe, tá bom?  - Abdiel correu em minha direção, só tinha preocupação em seu rosto.

- Me deixa. Você está entendendo tudo errado mesmo. É melhor você ir. - Estava soluçando de tanto que chorava.

- Eu não vou te deixar aqui. Desculpa, por favor. - Ele abaixou perto de mim.

- Vai embora! Eu só quero ficar sozinha. Sempre  foi assim, sempre fui sozinha e tive que dar meu jeito. E eu achando que alguém se importava. Idiota mesmo, isso que eu sou.

- Ellie... - Ian tentou falar comigo.

- Vai embora daqui você também. Eu não quero nem ouvir a sua voz. É por sua causa que isso está acontecendo, seu mimado!

- Desisto. Depois vai falar que eu não tentei ajudar. - Ele caminhou até o carro e entrou. O motorista ligou o carro e eles partiram.

- Falta você. Pode ir. - Fiquei aliviada de ver Ian ir embora com aquele bruta montes.

- Eu não vou sair daqui. Pode me bater, me xingar, fazer o que for. Eu não saio daqui sem você.

- Por que eu nasci? Pode me explicar? - Senti uma dor tão grande no peito. Acho que foi todas as frustrações que guardei até hoje.

- Não fala isso, Ellie. Estou me sentindo um monstro, isso aconteceu por minha causa. Se eu não tivesse te deixado lá... - Abdiel passou a mão no rosto e respirou fundo. - Vem, levanta. Por favor. - Ele mordeu o lábio inferior e franziu a sobrancelha, seus olhos estavam rasos de lágrimas. - Deixa eu te ajudar, por favor. - A dor do pé piorou, não ia adiantar eu ficar ali, não teria ninguém para me ajudar.

- Desculpe se eu falei algo que te causou dúvidas. Tenta entender  as coisas antes de sair todo estressadinho. Mais uma vez, desculpe. - Falei.

- Não precisa se desculpar, tá bom? - Ele passou as costas das mãos no rosto. - Eu sou um idiota. - Forçou um sorriso. Ele ainda estava abaixado do meu lado. - Vou te pegar no colo. Pior que nem teremos uma foto disso. - Ele abaixou mais um pouco e apoiou minhas costas com uma mão e o outro braço passou por baixo das minhas pernas. Me pegou como se eu fosse uma caixa vazia. Sem dificuldades nenhuma. Caminhou comigo até a moto e me colocou sentada lá, pegou o capacete e colocou em mim.

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