Capítulo 24

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Ellie narrando

Estar com Abdiel me traz tantas alegrias.
Nunca tive uma pessoa para cuidar tão bem assim de mim.
Ele fez questão de me levar no médico, depois de sua aula. Ainda bem que trocaram o gesso por uma bota imobilizadora, agora estou menos limitada.
Estou tentando me virar sozinha, por isso preferi usar as muletas, dar para ver que Abdiel quer me ajudar, mas preciso me virar. Não posso ficar o usurpando.

Estava tudo indo muito bem, até eu tropeçar. Ainda bem que Abdiel estava próximo, se ele não tivesse me segurado, teria metido a cara no chão.
Ficamos parados, muito próximo um ao outro. Ele me encarava, que olhos mais perfeitos, tentei decifrar o que era aquela feição.
Continuei olhando dentro de seus olhos, seus olhos intercalava entre meus olhos e minha boca.
Controlei minha espontaneidade, que vontade de me aproximar mais dele e beijar aquela boca perfeita.
Falava mentalmente para mim mesma: Se controla Ellie. Respira.

Fixei os olhos no dele, se eu desviasse para a sua  boca seria game over.
Como eu não sei o que estava acontecendo na cabeça dele, vai que deixei transparecer meus sentimentos, decidi pedir desculpas.

Abdiel ficou diferente desde a hora que entramos no carro, parecia estar me evitando. Sentou o mais longe que pôde, isso me incomodou um pouco. Decidi quebrar o gelo, o chamei para uma selfie. Me aproximei o máximo possível, tenho necessidade de toca-lo. Parece um vício.
Deu para sentir sua rigidez, tirei a foto. Talvez eu esteja passando da linha do limite.
Ao tocar nele fui repreendida, talvez eu esteja confundindo as coisas.
Tenho que controlar essa vontade de toca-lo.

Abdiel me acompanhou até em casa, mas parecia não querer estar ali.
Pedi para ele sentar no sofá ao meu lado, ele parecia estar engessado, parecia não querer tocar em mim.
Sei que a culpa é minha, por tudo o que aconteceu mais cedo, eu devo ter deixado transparecer algo, sabia que essa minha cara de boba ia me denunciar algum dia.
Abdiel já pediu para não toca-lo, mas eu sou uma  idiota, pra que fui segurar o braço dele?
Eu tenho que deixa-lo ir, aliás, ele está ficando incomodado perto de mim.

Ele foi meio seco em suas palavras, aquilo doeu mais do que um tapa.
Não tive nem coragem de olhar em seu rosto. Entrei em meu quarto e agradeci de lá mesmo.
Olhei pela janela e o vi parado no quintal, em frente a moto. Ele passou a mão no rosto, parecia estar nervoso.
Passou pelo portão e eu ouvi a moto partindo. Tinha um carro parado do outro lado da rua, talvez fosse o tal carro que ele tinha falado.

Deitei na cama e chorei tudo o que tinha para chorar. Sou uma tola, ele já não deixou claro que não gosta de contato físico? Já não deixou claro que não vai querer uma namorada?
Como vou olhar para Abdiel agora? Peguei o celular e fiquei tentada a ligar para ele. Para não acabar fraquejando novamente, decidi desligar o celular.
Deitei na cama e fiquei encarando o teto, até que meus olhos pensaram e cai no sono.

Abdiel narrando

Me arrumei e sai com meus pais. Eles me levaram em uma concessionária para escolher meu carro, estava ali mas, minha vontade era de estar com Ellie.
Vez ou outra eu pegava o celular para ver se tinha mensagem dela. Eu sou um estúpido.

- Está esperando alguma ligação? - Minha mãe se aproximou e olhou o celular na minha mão.

- Estou sim. - Sorri gentilmente.

- É uma menina? - Ela esbarrou o ombro dela no meu.

- Não. - Menti.

- Que bom, hoje vamos jantar com um sócio do seu pai. A filha dele faz questão da sua presença. Vai que rola alguma coisa entre vocês. - Ela passou a mão no meu cabelo, ajeitando minha franja.

- A senhora sabe como sou péssimo para comer comida de outras pessoas. Mas posso ir, se isso for ajuda-los. - Eu só queria mais tempo com eles, esse era o motivo. Também não sabia com que cara ia olhar para Ellie, eu sou um covarde fugitivo. Isso sim.

- Obrigada, filho. Vou te mandar o endereço, daí você pode ir com o carro. Vai que vocês vão para algum lugar de lá, Anne é um amor de pessoa.

- Imagino que seja sim, mãe. Obrigado.

- Olá, do que estão conversando? - Meu pai se aproximou.

- Já está tudo resolvido para o jantar. - Minha mãe falou sem rodeios.

- Ah, que maravilha! Anne é uma menina especial, você vai ver. Vá de carro, saia um pouco para distrair a mente. Pergunte se ela quer ir com você.

- Está bem. - Sorri. O carro era meu ou era para eu ser o motorista dessa tal Anne?

Voltei para casa dirigindo, sozinho.
Parei em frente a casa de Ellie e liguei para ela, o celular deu desligado. Saí do carro e estava disposto a apertar a campainha. Controlei minha impulsividade e voltei  para o carro.
Dei a partida e dirigi em rumo ao meu apartamento.

Deitei na cama e coloquei um travesseiro no rosto, que vontade de voltar na casa de Ellie.
Quando estava quase pegando no sono, o interfone tocou.
Por um momento pedi a Deus para ser Ellie. Era um entregador.
Abri a porta e tinha algumas sacolas na mão dele. Meus pais enviaram até a roupa que eu devo vestir. Da roupa até ao sapato.
Joguei as bolsas no sofá e me joguei na cama novamente.
Até parece que vou de carro, eu quero sair com alguém?
Quem tem que andar no meu carro são pessoas que eu gosto, quem eu tenho uma amizade ou coisa parecida.
Vou levar uma interesseira? Me poupe. Olha que nem é pré juntamento, já conheço essa história.
Me arrumei e fui para o endereço que meu pai me  enviou. Para a surpresa deles, fui de moto.

Estacionei a moto na garagem do hotel, entrei na recepção e fiquei observando para ver se os achava.
Minha mãe fez sinal para mim , caminhei lentamente na direção deles.
O sócio do meu pai estava ao seu lado, nós chamamos muito a atenção, a única família coreana. Os olhares estavam todos em nós.
Cumprimentei gentilmente a todos, pude ver uma moça apressada caminhando em nossa direção, só podia ser Anne.

- Papai, me apresente, por favor. - Ela puxou o pai para sussurrar  em seu ouvido.

- Abdiel, essa é minha filha, Anne. - Ela deu um passo a frente e estendeu a mão, como se quisesse que eu beijasse. Dei um aperto de mão igual se dá em homens, ainda dei uma sacudida no final.

- Muito prazer, Anne. Ouvi falar muito bem de você. - Dei um sorriso fino e voltei para onde estava. Sabia que era uma patricinha interesseira, pelo jeito a noite vai ser longa.

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