Capítulo 19

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Abdiel narrando

A pior parte é ver Ellie chorando, geralmente eu viro e vou embora quando alguém começa a chorar, mas com Ellie é diferente, tenho vontade de abraça-la.

- Para de chorar, por favor. - Virei o rosto para o lado, desviando o olhar. Respirei fundo e engoli seco.

- Desculpe. Estou te dando tanto trabalho, me sinto culpada. Estou muito sensível.

- Eu só estou preocupado, está bem? E se acontecer alguma coisa com você de mais grave? Não sei como vou lidar com isso. Vou ligar para o médico, vamos ver o que ele fala. - Tentei me acalmar.

- Você acha que vai precisar de pontos?

- Aparentemente não. Mas vou mandar a foto para o médico ver. - Enviei a foto enquanto ligava. Passei as informações e ele pediu para mante-la acordada por um tempo. Se sentisse enjoou era para levar imediatamente para a emergência. Não precisará de pontos. Sentei do lado dela na cama e ficamos olhando o vlog. Carregamos a foto do corte na cabeça e escrevi na legenda como a encontrei, contamos a experiência do primeiro banho sentada no vaso. Esquentei a comida de mais cedo e jantamos juntos. As horas foram se passando e eu não me ofereci para ir embora, estava morrendo de medo de Ellie se machucar novamente.

- Você quer ficar aqui, Abdiel? Vou ligar para minha mãe para avisar.

- Será que ela deixa? Estou muito preocupado com você.

- Vamos ver. - Ela sorriu e ligou para a mãe. Ellie explicou a situação e contou que caiu, explicou o que o médico me disse. Ela tinha que ficar em observação, não podia vomitar. - Ela deixou. - Ellie falou após desligar o celular. - Você está precisando de alguma coisa? Tem coberta ali no meu armário, tem uma cama que sai daqui debaixo da minha. - Ela falava muito rápido.

- Calma. - Você está eufórica.

- Nunca tive ninguém dormindo aqui em casa. - Ela sorriu. 

- Vou na moto buscar meu casaco, parece que a noite vai esfriar. Ainda bem que já estou de calça de moletom.

- Põe a moto para dentro.

- Está bem. Já volto, não vai fazer besteira. Se mantenha deitada,.por favor.

- Pode deixar. - Ela sorriu e cobriu a cabeça.

Caminhei até o lado de fora e destravei a moto. Vi um carro parado do outro lado da rua, parecia ter alguém lá dentro. Talvez estivesse esperando alguém. Abri o portão e empurrei a moto para dentro. Destranque e levantei o banco,  peguei o casaco dentro. Eu já estava de meia, pois estava de tênis. Estava de calça e agora de casaco.

Entrei na casa de Ellie e desliguei a luz de fora. Olhei pelo vidro da porta e vi o carro, que estava parado do outro lado da rua, indo embora.

- Voltei! Ficou quietinha aí?

- Sim. - Ela tirou a coberta da cabeça.

- Já tomou o remédio? O celular já vai despertar. - Acabei de falar e o celular tocou. - Viu? Estou marcando juntinho. Caminhei para pegar os remédios.

- Você já está cansado? Se quiser pode deitar, puxa a cama aqui. Ela colocou a mão onde eu tinha que puxar.

- Olha, tenho que te contar uma coisa, eu ronco. - Prendi o riso.

- Sério? - A cara dela foi a melhor. - Eu também ronco.

- É sério isso? - Rapidinho perdi a vontade de rir. Fiquei parado com os remédios e a água na mão.

- Mentira menino! Tem que ver a sua cara. - Ela caiu na gargalhada. - Se você roncar, vou te filmar.

- Acho justo. O mesmo digo para você. - Dei os remédios e a água  na mão dela.

- Pega roupa de cama e travesseiro aí no armário. - Abri o guarda roupa e peguei as coisas.

- Eu sou calorento, essa coberta é muito grossa.

- Troca comigo, não posso vestir calça, vou sentir muito frio durante a noite.

- Se você ficar com muito frio, me avisa, eu pego outro cobertor para você.

- Está bem. - Ela sorriu. Peguei o copo de sua mão e coloquei na mesinha no canto.

- Eu nunca dormi na casa de ninguém. Tomara que eu consiga. - Deitei na cama de baixo.

- Vou tirar uma selfie, se ajeita aí. - Levantei os dedos, fazendo o sinal de paz e amor. Sorri até meus olhos sumirem.

- Ficou boa? - Perguntei.

- Seu sorriso é perfeito, amo quando você sorri com os olhos. - Ela mostrou a foto. - Ficou perfeita.

- Eu durmo muito tarde, demoro para pegar no sono. Mas não precisa se incomodar em ficar acordada.

- Eu também, só chego tarde em casa. Abdiel, obrigada por tanta importância que você tem me dado. Espero um dia retribuir tudo isso o que  está fazendo por mim, mas que não seja em  caso de doença.

- Estou cuidando de uma amiga, amigos fazem isso um pelo outro.

- Você é a melhor coisa que já aconteceu em minha vida.

- E você na minha. Obrigado por preencher o vazio que tinha dentro de mim. Treino muito, faço esportes e lutas por conta disso. Para cansar, chegar em casa e dormir. Nunca quis ter amigos, as pessoas só me vêem como um meio de ficarem "famosinhas".

- No meu caso, as pessoas não querem se aproximar de mim, pois não tenho nada para oferecer.

- Você que acha que não tem. Você é incrível, a pessoa mais inteligente que já conheci, mais guerreira e mais dedicada.

- Só dou valor as oportunidades, talvez  posso não tê-las novamente.

- Você  é incrível. Deixa você melhorar, vou te contratar como minha cozinheira. Vou te dar um salário alto, pode deixar.

- Para você , eu cozinho até de graça. É sério, nada pagará o que você está fazendo por mim.

- Já falei, amigos fazem isso um pelo outro. Apesar de eu nunca ter tido ninguém tão próximo, já vi isso em filmes. - Gargalhamos.

- Você é muito engraçado. Está se inspirando em filmes. - Ela balançou a cabeça.

- Eu não era engraçado, ou não sabia desse meu lado. Depois que você entrou na minha vida, alguma coisa mudou aqui dentro de mim. Você é muito especial para mim Ellie, não esquece disso por favor.

- Vou tentar. Caso eu esqueça, você me lembra?

- Com certeza farei isso. Agora vou te dar seu último remédio e vou desligar as luzes, você tem que descansar. - Ainda faltava um remédio de dor.

- Muito obrigada. - Dei o remédio dela, apaguei a luz e deitei na cama. Ela se achegou para a beirada da cama para me desejar uma boa noite. O estalo que deu em sua perna foi audível. - Ai, ai,ai. - Ela mordeu o lábio inferior e seus olhos ficaram rasos de lágrimas.

- O que houve? - Levantei correndo e liguei as luzes.

- Minha perna está doendo muito, me ajude a me virar. - Segurei sua perna com gesso e seu ombro, a virei com cuidado. Outro estalo se ouviu. - Ai, graças a Deus. Parece que voltou para o lugar.

- Você dorme em qual posição?

- De lado. - Ela estava deitada de barriga para cima.

- Espera. - Peguei umas almofadas e coloquei entre as pernas dela. Para aliviar peso do gesso. A ajudei a virar de lado. - Melhorou?

- Sim, obrigada. - Deitei e ela me pediu para segurar minha mão, ainda estava sentindo um pouco de dor. Estiquei a mão para cima.

- Pode deixar do seu lado, eu penduro a minha. Se você ficar com a mão para cima, vai ficar dormente.

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