Capítulo 22

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Abdiel narrando

Uma caixa enorme, até eu fiquei curioso para saber o que tinha dentro.
Ellie abriu e começou a tirar um monte de coisas: Pantufas, travesseiro para por no meio das pernas, coberta, pijama, tapa olho, travesseiro de pescoço, capa para colocar no gesso ( Nem sabia que isso existia), almofadas. Era tanta coisa, tudo no mesmo tom, rosa.

- Quem mandou isso? - Ela olhou para a mãe.

- Não tem nome, só mandaram entregar para você. O entregador falou que é um admirador secreto. - A mãe de Ellie sorriu.

- Não sei que admirador. Ninguém nem me enxerga naquela escola. Desculpe Abdiel, com excessão de você. - Ela sorriu sem graça.

- Até eu fiquei curioso. - Sorri meio sem graça.

- Talvez seja do seu ex patrão, vai que ele ficou comovido com a notícia. - Falou a mãe de Ellie.

- Verdade. - Falei.

- Vou por para lavar, ninguém mandou dar, agora vamos usar. - Senhora Helena foi logo falando.

- Mãe, eu não quero isso. Não sei de quem é.

- Então deixa tudo para mim. Por isso que é bom ter filha bonita, tá vendo? Ganhamos presentes dos admiradores secretos. - Ela saiu arrastando a caixa para seu quarto.

- Essa é minha mãe. - Ellie fez com as duas mãos na direção de senhora Helena, como estivesse a apresentando.

- Ela é uma graça. - Sorri tímido.

- Agora estou curiosa para saber quem enviou esses presentes. - Queria poder falar que eu também estava curioso, não sei se era curiosidade, preocupação ou outra coisa.

- Está vendo? - Falei

- O quê? - Ela franziu a sobrancelha e me olhou.

- Você é notada. Tem até um admirador secreto.

- E você não tem uma admiradora? Deve ter várias, sua casa deve estar cheia de presentes delas.

- Não, não está. Elas não sabem onde eu moro. - Falar nisso me deu um start. - Ellie, ontem tinha um carro parado em frente a sua casa. Quando entrei o carro foi embora. Pensei que estavam esperando alguém.

- Sério? - Ela arregalou os olhos.

- Para a pessoa entregar em sua casa, é sinal que sabe onde você mora. Isso é perigoso. E se for um stalker?

- Para Abdiel, estou ficando com medo.

- É sério, vamos prestar mais atenção nas coisas. Se quiser podemos instalar câmeras aqui na sua casa.

- Será preciso? - Ela parecia preocupada.

- Não vamos sofrer por antecipação. Mas cuidado nunca é de mais. Você sempre está por aí sozinha, sai cedo e chega tarde. Pode ser que alguém esteja te vigiando.

- Será? Essa pessoa deve me conhecer, pois mandou as coisas todas no tom que eu gosto. Estou ficando com medo. - Ellie se abraçou.

- Não fique, eu te protejo. Mas temos que ficar de olhos abertos.

Fizemos os deveres , enquanto senhora Helena preparava o almoço. Ela meio que deixou as coisas preparadas para Ellie terminar o que eu ia comer. Deixei que ela fizesse, não poderia ficar desgastando Ellie com as minhas frescuras.
Até que a comida de senhora Helena é boa, mas a da Ellie é mais saborosa.
Comi pouco, se forçar muito acabo vomitando.
Já estava na hora do lanche, as horas não cooperaram muito, o dia poderia passar vagarosamente.
Acabamos o trabalho, lanchamos e eu fui para a aula de natação.

Já se passaram seis dias que Ellie está com a perna imobilizada, tenho ido à escola e levado os cadernos para ela colocar os deveres em dia.
Fui no shopping e comprei tudo que Ellie tinha ganhado do admirador secreto. As coisas que eu dei, ela está usando.
Parece que a pessoa tem dinheiro, pois a loja em que foi comprada é cara.

Hoje iremos ao médico, tenho ficado na parte do dia em sua casa, não deixaram a mãe de Ellie ficar em casa. Só pode ser coisa daquele mauricinho.
Tenho evitado olhar para a cara de Ian durante as aulas, com pode existir alguém assim?
Tomara que ele nunca precise de alguém, pois não vai ter ninguém ao seu lado.
Ele foi o culpado de Ellie estar assim, nem perguntou para senhora Helena se estão precisando de alguma coisa.

Chegamos no médico e logo fomos atendidos, o gesso foi substituído por uma bota imobilizadora. Ela ainda terá que ficar  com a bota por duas semanas. A bota pode ser retirada para o banho.
Ellie já saiu do consultório com as muletas, pediu para deixa-la se virar. Fiquei ao lado, mas a minha vontade era de carrega-la no colo.

Ela caminhou até onde o carro, que pedi pelo aplicativo, ia parar. Achei melhor não irmos de moto.
Ao subir na calçada para esperar, Ellie tropeçou com o pé que estava apoiado no chão, seu corpo inclinou todo para frente. Mais que depressa a segurei, ficamos poucos centímetros um do outro. As muletas de Ellie fizeram barulho ao cair no chão, suas mãos estavam agarradas nos meus braços, as minhas mãos estavam em sua cintura.
Olhei em seus olhos e reparei algo diferente, tinha um brilho diferente.

Meus olhos me traíram, desviando para aqueles lábios rosados.
Não sabia se olhava em seus olhos ou se olhava seus lábios.
Engoli seco e respirei fundo, controlando a  vontade de beijar minha amiga.
Eu não posso perder a amizade de Ellie, ela já deixou bem claro que não quer namorar e que só me tem como amigo.
O carro buzinou nos tirando daquele transe, olhamos em direção ao carro e voltamos o olhar um para o outro.

- Abdiel... - Ela falou olhando para mim.

- Oi. - Estava ficando insuportável controlar a vontade de beija-la, eu não sou bom em cumprir regras, ela não estava facilitando.

- Desculpe. - Ela abaixou os olhos.

- Pelo o quê? - Levantei seu rosto com as mãos.

- Por te causar preocupação, dá pra perceber que seu olhar mudou.

- Mudou como?

- Não sei explicar, mas você nunca me olhou desse jeito. Acredito que seja preocupação.

- É preocupação também. Mas vamos deixar pra lá, não precisa se desculpar, tá bom?

- Está bem. - Apoiei Ellie até o carro e voltei para pegar as muletas, caídas no chão.

Sentei do lado dela e fiquei perdidos nos meus sentimentos, que coisa esquisita é essa? Estou com uma vontade imensa de entrelaçar meus dedos nos dedos dela e puxa-la para mais perto. Logo eu, o senhor intocável.
Nunca gostei de contato físico, foi até por isso que entrei no judô. Tive que treinar o contato com outras pessoas, até porque também, o futebol é um esporte de contato.

Fiquei olhando para fora, tentando controlar a vontade de me achegar nela.
Mas eu esqueço o jeito espontâneo dela.

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